Só’pode ser desânimo

Terça, 11 Março 2014
Sopot foi a prova de que sem grandes estrelas não há entusiasmo e que com poucos atletas não há tamanho interesse (as marcas de qualificação dificultadas originaram qualificações sem entusiasmo). Sopot foi essencialmente um evento de outsiders. Sopot teve surpresas, mas principalmente surpresas negativas, onde as fortes expectativas de obtenção de recordes mundiais se esfumou (a expectativa inicial também era demasiado alta), mesmo tendo em conta o recorde mundial de 4x400 metros.

Obviamente que o sucesso de um evento também depende dos atletas e também da casa cheia. E o que se viram foram bancadas cheias de público, polaco, claro está. Ainda que preencher um pavilhão seja mais fácil que preencher um Estádio, não retiro mérito à organização polaca...

Desta vez estive mais atento a outros pormenores, para além dos pormenores competitivos. Por exemplo é incompreensível que se tenha colocado um pódio tão curto (havia espaço para mais) e é incompreensível que o protocolo do evento tenha funcionado tão mal, o que estranhei. A IAAF tem, a este nível, apresentado altos índices de sucesso e desta vez...teve erros amadores. No pódio do lançamento do peso feminino as segunda e terceira classificadas estavam trocadas no lugar e noutros momentos assistiram-se a pequenos erros protocolares, onde se notou claramente ausência de um briefing esclarecedor (quer dos atletas, quer do anfitrião).

Por outro lado, até que ponto as cerimónias protocolares não são meros momentos banais? A maioria dos atletas não cantaram hinos (também não se emocionaram), as transmissões televisivas sobrepuseram a voz a alguns hinos, o pódio não dignificava o momento. A chamada ao topo do pódio dos segundo e terceiros classificados pelo atleta vencedor, deixou de ser uma livre e espontânea vontade, para ser um momento maioritariamente pedido pelos fotógrafos e em Sopot não cabiam mesmo três atletas nesse primeiro lugar, que é normalmente o reconhecimento do vencedor pelos excelentes adversários em pista. O vencedor trinca a medalha de Ouro para ter a certeza que a medalha não é de chocolate (ou chumbo, como manda a tradição), mas porque é que o mesmo procedimento deve ser feito com as medalhas de Prata e de Bronze, que não há tradição que sejam de chocolate ou de chumbo? É portanto...bizarro! O que me leva a pensar de qual será, de facto, a relevância deste momento de celebração, até para a maioria dos atletas, excepto os medalhados...

Nos anos mais recentes, como há um ano no Europeu de pista coberta, ou há dois no Europeu de ar livre, as celebrações de pódio têm sido feitas em espaços diferentes dos da competição, no meio de espectáculos realizados para animar zonas de feira, que promovam as marcas que patrocinam os eventos. Curiosamente houve muitas críticas, principalmente das comitivas de atletas que não reconheciam tanta glória ao momento, mas depois quando há momento dentro do palco competitivo...o que se sente a partir do ecrã televisivo é...apatia! E convenhamos, os pódios quebram qualquer transmissão televisiva, principalmente no último dia de provas dos eventos internacionais de pista coberta, que colocam alguns pódios do dia anterior e quase todos do próprio dia...Por outro lado, se os pódios passarem, por regra, a fazerem-se fora do palco competitivo, estes passam a ser meros protocolos locais, sem visibilidade para todo o Mundo (se a televisão optar por não os cobrir). E como a televisão domina as opções a tomar por estes eventos...

Continuando nas questões protocolares, parece-me que os eventos terão de se reinventar para provocar surpresa. A música com o nome de “Battle Without Honor or Humanity”, dos Tomoyasu Hotei é utilizada para os momentos de partida das provas de velocidade em muitos eventos internacionais (até nacionais) há alguns anos. Se ouvir discos repetidos é suficientemente chato para quem percebe que há pouca capacidade de reinvenção (apesar do gosto que tenho pela música, que está na Banda Sonora Original do filme “Kill Bill”), pior é perceber que os responsáveis pelo som do espaço se enganam no momento do “fade out” da música, após terminada a apresentação. Um “fade out” fora de tempo, obrigou várias vezes, neste Mundial, a voltar ao início da música da apresentação, provavelmente por descoordenação (notaram-se umas quantas neste Mundial).



Desta vez marcámos ausência de uma grande competição internacional, mas questiono-me qual a relevância que a comunidade em geral dá aos Mundiais de pista coberta, principalmente num ano importante para a Europa, com o Europeu de Ar Livre, mas pouco relevante para outras regiões mundiais. Será por isso que o próximo Mundial de pista coberta, dentro de dois anos, será disputado nos Estados Unidos da América? Nessa altura estaremos em ano de Jogos Olímpicos e também de um Europeu de ar livre de versão curta. Que interesse despertará o evento na Europa?

Acabo este artigo com dados positivos, de fonte IAAF, sobre a utilização do seu site durante os Mundiais, comparando com o Mundial em 2012 e que podem ajudar a desdramatizar a questão do interesse da comunidade. Confesso ter gostado do interface que o site proporcionou, ajudando à interação pessoa-site:

- 74.65% de aumento no número de visitantes
- 172.82% de aumento no número de visitantes únicos
- Site visto em 220 países

Resta saber a taxa de satisfação destas pessoas com estes Mundiais. E já agora identificar se houve quebra no share televisivo relativamente a anos anteriores, mas isso ficam para outros momentos...

Edgar Barreira

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