O (não) comentário às escolhas para o Europeu de Cross

Quarta, 04 Dezembro 2013
O que acha Rafael Lopes das polémicas do Europeu de Crosse? Confira aqui...

Todos os anos na fase que antecede o Europeu de Corta-Mato existe muito “barulho”, “tragédia” e “polémica”. Já estamos habituados às acusações fortes (anónimas e muitas vezes com nomes falsos) nas nossas notícias relacionadas com a Seleção de Corta-Mato, as quais se expandiram actualmente para facebooks e afins. E ainda bem, porque assim temos a vantagem de saber exactamente quem as emite.

Já estamos habituados aos “porquê este e não aquele”, aos “critérios não são cumpridos”, aos “filhos e enteados”, “concordo com este mas não com aquele”, às “seleções já feitas antes dos crosses de apuramento” (esta é das minhas preferidas porque é surreal!) entre tantas outras coisas. No fundo, no fundo, os responsáveis federativos são acusados de “corrupção” ao mesmo tempo que alguns atletas selecionados são desestabilizados porque “não merecem, só fizeram isto e aquilo, enquanto o outro fez aquilo e aqueloutro”… O final de novembro e inicio de dezembro no Atletismo Português é sempre igual e é triste que assim seja, o que não quer dizer que fique indiferente perante algumas decisões.

Aqui e ali, vou lendo e ouvindo opiniões que correspondem às minhas... mas não comento. Olhando para trás, nunca escrevi sobre uma convocatória para a seleção de corta-mato e não o fiz por três motivos.

Primeiro, por respeito aos atletas que vão representar Portugal. Eles precisam de estar confiantes! Precisam de ouvir que são os melhores, que são a nossa equipa! Faz-lhes muito mal “ouvir” Velhos do Restelo contestarem a sua selecção, principalmente os mais jovens que, estando ainda “verdes” aos 17, 18 anos mais facilmente tremem perante críticas, insultos e faltas de respeito. Deviamos ter em mente que é fácil destruir, mas que é dificil construir e muito mais dificil reconstruir.

Segundo, porque não faz sentido opinar sobre um assunto a que não se pode acrescentar qualquer valor. “Bom é saber calar até ser tempo de falar”. Se sabemos que não podemos acrescentar mais do que raiva e ódio às pessoas envolvidas da Seleção, para quê nos dar-mos ao trabalho? Penso que não há nada melhor do que haver um diálogo pessoal entre seleccionador e atletas e treinadores que se sentem injustiçados. E esse diálogo só deveria sair a público se os argumentos dos responsáveis federativos continuassem a ser inválidos e ilegais (1).

Europeu de Crosse E por último, pelo chamado “conflito de interesses”. Alguém que seja próximo de atletas em posição de serem selecionados ou dos treinadores dos mesmos, cai sempre no risco de não ser imparcial e tenho estado nessa posição há 10 anos. E desconfio que qualquer um dos “comentadores” deste assunto também está nessa posição já que o nosso Atletismo é um meio muito pequeno. Devíamos saber que quando estamos a falar de amigos, colegas de treino, namoradas/namorados, familiares ou colegas de clube, estamos a falar com sentimentos à mistura. Conhecemos a entrega e dedicação ao treino daqueles que nos rodeiam, mas será que os outros ficam no sofá à lareira em vez de também treinarem igualmente ao frio e à chuva, algumas vezes duas vezes por dia? Conhecemos os que estão próximos de nós e sabemos se está tudo bem com eles ou não, mas será que sabemos o que está por trás de uma prestação menos conseguida dos outros? (2)

(1) O que aconteceu no Cross de Amora foi bastante mau para a imagem do Atletismo. Fiquei envergonhado quando comecei a ouvir aquelas palavras a alto e bom som! Há lugares certos para tudo e duvido que fosse ali, publicamente, o sitio certo para se ter dialogado. Penso que a utilização do sistema de som por parte do Igor Valente para entrar num diálogo acusatório com o seleccionador Pedro Rocha não esteve à altura da prestação daquele atleta juvenil no Cross de Torres Vedras, em que competiu no escalão de Júniores. Nem sei como é que ainda teve resposta.

No facebook, li comentários desajustados e de fraca sustentação. Dizer que impediram o Igor de correr nos Juniores por medo que fizesse outra excelente prova e ganhasse aos juniores... Por medo? Sem palavras.

Sei, na minha própria pele, o que é para um jovem atleta saber que tem potencial para lutar por um lugar de selecção e ficar de fora. Neste caso havia uma regra: Atletas juvenis não podem ser selecionados para grandes competições internacionais de juniores. No meu caso, não havia directivas acerca de idades mas sim um limite de vagas na equipa nacional para o Festival Olimpico da Juventude Europeia. Havia apenas a decisão pessoal de um técnico nacional em levar um atleta entre duas especialidades cujas marcas não tinham grande expressão a nível europeu. Ou escolhia o melhor nacional juvenil de salto em altura ou o melhor juvenil no salto com vara que também era o segundo melhor juvenil nacional nos 400m barreiras. Decidiram-se pelo saltador em altura... e eu fiquei em casa.

Será que isso contribuiu para ele se tornar melhor atleta em senior que é o que realmente importa? Não! Acabou por desistir, como tantos outros do meu ano que foram ao FOJE e que iam a todos os estágios nacionais de jovens. Fiquei triste por não ir? Sim, claro que fiquei. Desisti de praticar Atletismo? Não! Seria rídiculo dizer que ter ficado de fora do FOJE me desmotivou para toda a vida, de tal forma que Portugal perdeu um grande campeão mundial e, quem sabe, olímpico.

Quando se fala em apostar nos jovens, há a ideia de que é preciso levá-los ao estrangeiro e mimá-los. Essa ideia é errada! Apostar no atletismo jovem é muito mais do que isso.

Por isso não aceito quando dizem que, por causa deste episódio e da não convocatória de outros atletas de forma injusta (na opinião das pessoas), o Igor e os outros atletas vão ficar desmotivados e que não têm apoios, perdendo-se futuros campeões. Em todas as profissões, há sonhos que vão sendo destruidos e não cumpridos mas o mundo não acaba.

Se os objectivos futuros do Igor e dos outros passam pelo Atletismo, há que continuar a treinar para se tornarem cada vez melhores. Representar Portugal nas próximas competições internacionais terá de continuar a ser um objectivo em mente.

(2) Um atleta cuja seleção para a equipa nacional é das mais contestadas (nas redes sociais) é o Guilherme Pinto que ficou em 7º no Cross de Torres Vedras e em 1º no Corta-Mato da Amora, no escalão de Junior.

Só quem não “viu” ao vivo as duas provas pode contestar a seleção do Guilherme Pinto e ousar usar palavras como “vergonhoso”. Se o Cross de Torres Vedras fosse o único momento de observação e de seleção para os juniores, também eu contestaria. Mas não, o Corta-Mato de Torres Vedras era a principal prova de observação (alínea b dos critérios) mas não era a única. Havia mais três alíneas expressas nos critérios a ter em conta na escolha dos atletas juniores, que eram:

c) o nível de prestação desportiva demonstrado em provas de corta-mato nacionais e internacionais no decorrer de Novembro (como tal, o Corta-Mato da Amora também era alvo de análise);

d) o valor do atleta analisado em função do nível competitivo expectável no Campeonato da Europa de Corta-Mato nestes escalões/género;

e) o potencial de evolução do atleta e expectativa de futuras participações da época em Campeonatos Nacionais e Internacionais de pista – Campeonato do Mundo de Juniores.

Como estas duas alíneas são de dificil mensuração, considero que havia dois crosses em Portugal, dois momentos de observação, em que os atletas podiam mostrar o estado actual de forma. Nesses dois momentos, o Guilherme mostrou o verdadeiro carácter de campeão, provando que tem aquilo que é preciso para vencer no desporto.

Guilherme Pinto E em que é que me baseio para dizer isto?

- No Cross de Torres Vedras, o atleta do Sporting pegou na corrida desde inicio, puxou e puxou. Fez os possíveis para ir deixando os seus adversários para trás mas não estava num dia bom e a certo momento foi notório que estoirou fisicamente. Este atleta que detem um palmarés de títulos nacionais nos escalões jovens impressionante, não seguiu o caminho fácil da desistência, foi até ao fim e completou a sua prova em 7º lugar.

Há anos que vejo dezenas de atletas, que não foram campeões nacionais de juniores de 800m e 1500 em dois anos consecutivos nem foram a campeonatos do mundo e da europa, desistirem quando adversários passam e as pernas estão empenadas. Ou para não perderem com A e B, ou para se pouparem para provas seguintes ou até mesmo para complicarem a decisão dos selecionadores numa clara falta de respeito pelos adversários. Em Torres Vedras, o Guilherme mostrou o contrário. Revelou humildade e não se “recusou” a ser vencido por vários atletas que naquele dia estavam melhores do que ele e que, atrevo-me a dizer, em 10 provas só lhe ganham uma vez.

- No Cross da Amora, o atleta junior do Sporting mostrou que é forte psicologicamente e que o mau resultado de Torres Vedras não o desmotivou nem lhe provocou nenhuma crise de auto-confiança, comum a tantos atletas que estão habituados a ganhar e começam a perder. É caso de dizer que caiu e levantou-se rapidamente. Ou então nem sequer caiu, limitando-se a pensar que o Desporto é assim. Há dias menos bons.

Contabilizando com os segundos perdidos em Torres Vedras, o Guilherme Pinto ganhou, na Amora, 47 segundos ao Ruben Pessoa e 33 segundos ao André Pereira...

Para poder sonhar com um lugar na seleção, ele sabia que tinha de ganhar e não vacilou. Chegou lá e venceu, fez o que tinha a fazer e deixou a conversa para os outros.

Não é para qualquer um!

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Comentarios (8)add feed
... : ANA
este site está cada vez pior que nos interessa a opinião desta pessoa? quem é ele mesmo? como atleta pelo que sei medíocre a roçar o fraquinho... vem aqui dizer q se sentiu envergonhado....oh meus amigos menos... convidem alguém com valor na praça! tristeza

Dezembro 05, 2013
Opinião : DiogoCosta
No meu ver uma vez que o atleta-digital não se pronunciou nos outros anos então tambem não o tem de fazer neste. Que esta direção se dá bem com o atleta-digital já todo o povo sabe à muito. Se as noticias nos ultimos anos eram a voz do contra por parte do site, agora está tudo muito bem. Espero e acredito um dia ver um site imparcial em que tomadas de posições não existam...
Se consideram que o Igor fez mal, no meu ver penso que foi o mais correto possivel, os problemas tem de ser ditos e não andar com coisinhas pelo facebook. Compreendo a revolta do atleta e é perfeitamente compreensivel o facro de se ter manisfestado em publico na hora certa!

Dezembro 05, 2013
Opiniões : Rafael Lopes
Primeiro que tudo, pessoalmente não me dou bem nem mal com ninguém da Federação. Simplesmente não me dou nem tenho qualquer tipo de relação com ninguém que lá trabalhe.
Não me prenunciei sobre a convocatória, até apresentei três motivos pelos quais cada um de nós não se deve comentar.

E depois falei simplesmente de dois casos em que apresentei a minha opinião pessoal sustentada em alguns argumentos.
Cada um tem o direito de ter a sua opinião e aceito aqueles que acham que ele esteve bem. Agradeço a opinião do DiogoCosta. Também acho que a revolta do Igor é compreensível mas continuo a achar que podia ter falado pessoalmente com o Pedro Rocha e não para o público. E digo isto porque eu gostaria de ver patrocinadores apostarem no atletismo e de ver mais jovens entrarem para o atletismo e episódios destes não ajudam certamente.
Imaginem um rapaz de 10/11 que vai participar pela primeira vez numa prova e leva com ele a sua família pela primeira vez. Estão na Amora e ouvem alguém dizer que "não apoiam", "prejudicam", "destroem sonhos", "não têm respeito pelos atletas". Resultado expectável: O pai muda-o para outro desporto, se calhar com problemas bem piores. E olhem que conheço um caso em que isto aconteceu. Não se pode confundir Atletismo com Federação. Esta passa de mão em mão e o atletismo será sempre atletismo, praticado livremente por quem quer, onde quer e com quem quer.


Quanto ao comentário da "ANA".. É a triste realidade de que o Valor do Homem é julgado pelos seus méritos desportivos. Se assim é, estamos num país de zés-ninguém!
Dezembro 05, 2013
opinião : Igor Valente
Tudo isso é muito lindo, mas ele não é o único que trabalha, agora gostaria de ver o senhor (o que escreveu o texto)a sentir na pele o que me fizeram, trabalhei durante MAIS DE DOIS MESES para um único objetivo, que era o apuramento para o Europeu, quando por fim consigo concluir o meu objetivo, ou seja, todo o trabalho ardo que tive, todo o esforço que fiz, toda a minha dedicação para a modalidade, não foi em vão, pois conclui o objetivo, AGORA vem a pior parte, que foi quando me PROIBIRAM DE COMPETIR, e digo novamente, PROIBIRAM ME !!!!
Não me deixaram mostrar que eu sou digno como qualquer outro atleta de ir ao europeu, passaram por cima de mim, agora aquilo que fizeram a mim e a outros, simplesmente não se faz.
A questão que eu coloco é porque que nos outros anos há juvenis que se qualificam como eu e depois a federação os leva e este ano decidiram A ÚLTIMA DA HORA NÃO FAZER ISSO ?
Mas também falar disto ou não falar acaba por ser a mesma coisa, já é um assunto morto.

Dezembro 05, 2013
Curiosidade : Sofia
Boa tarde.

Gostaria também de saber a opinião do senhor Rafael Lopes relativamente à não-convocatória do atleta Andralino Furtado, preterido pelo atleta Emanuel Rolim.
Dezembro 05, 2013
oh sofia!!! : jaquim
O Rolim tem dado provas de que ultrapassou a lesao da melhor forma possivel...
já viste o adralino fazer alguma coisa na pista? Algum europeu???
O Rolim tem o triplo da experiencia do adralino, para nao falar da medalha que ganhou em albufeira com a equipa que esta novamente no europeu (a excepcao do nuno santos, mas acho que o hugo correia o substitui muito bem)
e
Dezembro 06, 2013
Rolim : jaquim
Anda agora falar mal do Rolim, atleta que devia ficar em casa... ahah
que comedia, mostrou o seu valor novamente!!!
A experiencia conta muito, controlou bem a prova e foi o 2o portugues!!
O 46 lugar pode ser uma posicao que sabe a pouco, mas o andamento dos melhores europeus sub23 esta ao nivel dos melhores seniores, so quem nao percebe de atletismo é que nao sabe!!!
Dezembro 08, 2013
Idiota : Rafael Lopes
Este Rafael Lopes para além de idiota é ressabiado! irra que até dá dó, Mas isto é porque nunca foi nem nunca será ninguém no atletismo? Ou é de nascença?
Julho 10, 2014
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