As panelas de pressão assassinas

Terça, 16 Abril 2013
De que vale treinar, correr e tentar mínimos para se estar numa Maratona, quando toda a festa se estraga após a forte pressão das panelas que saem da cozinha? Se afinal tudo não passasse de um fogo de artifício, como Dulce Félix suspeitou à primeira interpretação, a festa seria outra e seria digna de uma Maratona como a de Boston, com 117 anos de vida e com muito poucos incidentes na sua longa história – em 1918 a prova foi substituida por uma prova de estafeta devido ao envolvimento dos EUA na 1ª Grande Guerra Mundial.

Os dias patrióticos deviam ser dias de festa, no caso do estado de Massachussets é povo que, apesar de festejar o aniversário da Batalha de Lexington e Concord, não sabe o que é não ter a Maratona na cidade de Boston desde 1897, ano em que o norte-americano John McDermott venceu a prova em 2:55.10 horas, numa distância que foi estimada à altura em 38.51 quilómetros (23.93 milhas, em unidade local).

Mas o que ontem, dia 15 de abril, se passou em Boston foi um ato que se tem explicação, mesmo que proveniente de causas internas, não tem explicação para o Mundo que se tem habituado ao desporto como forma de união de povos, da democracia, sempre na lei básica de que a corrida é um dos mais democráticos movimentos em todo o Mundo : as distâncias são as mesmas para todos, é possível correr ao lado dos grandes campeões, nas mesmas condições de asfalto e de condições atmosféricas. Ontem a democracia foi quebrada para todos os que corriam para cima das 4:10 horas, quando às 4:09.44 horas de corrida dois engenhos explosivos orquestrados ribombaram na reta da meta, instalada na Boyston Street. Hoje as primeiras perícias forenses indicam que tudo poderá ter sido provocado por panelas de pressão, cheias de peças metálicas aguçadas e de pregos (!). A explicação vem dos corpos que entraram nos hospitais, alguns com mais de 20 peças metálicas incrustadas...

Se houver uma bruxa nos Estados Unidos da América que corra regularmente maratonas, por certo que todos agradecerão que ela vá ao terreno devolver a felicidade das maratonas no país, já que não tinha bastado o Sandy ter passado por Nova Iorque em novembro passado, obrigando ao cancelamento de uma das maiores Maratonas mundiais, foi agora Boston afetado na credibilidade, curiosamente também uma prova a contar para o circuito das World Marathon Majors. Este circuito inclui além destas duas, as Maratonas de Tóquio, Londres, Berlim e Chicago. Será que Chicago salvará a honra do convento norte-americano, ou será melhor que a bruxa entre convento dentro para salvar Chicago?

Agora a preocupação centra-se em Londres, que decorre já no próximo domingo, mas centra-se em qualquer grande prova de corrida em todo o Mundo. A imagem transmitida com Boston é a de que qualquer espertinho que queira mostrar descontentamento, terá nas estradas milhares de alvos para se entreter, sem que aparentemente se possa fazer algo para que não ocorra. Ontem nem o facto dos militares correrem à margem do evento, lado a lado com os milhares de participantes, parece ter sido uma atenuante. Se a zona do público obrigou a uma forte vistoria, como afinal entraram panelas de pressão? Foi descuido, ou foi desvalorização de um utensílio que afinal é tão inofensivo e tão útil nos dotes culinários de cada um de nós?

atleta ferida

Como repórter ou como corredor já fui participante em eventos com milhares de pessoas. Poderá alguém um dia destes tentar fazer uma “gracinha” por Lisboa durante a Maratona de Lisboa, que este ano terá simultaneamente a Meia-Maratona de Portugal a decorrer? Hoje Carlos Móia deixou uma mensagem de sentidas condolências ao diretor da Maratona de Boston, mas ao contrário do diretor da Maratona de Londres não julgou necessário referir que a segurança nas grandes provas em Portugal possa ocorrer. A constante confiança no povo português parece-me de louvar, mas qual será o dia em que o português faz história para mudar o rumo da tradição de que somos o povo brando e paciente. A segurança nos eventos em Lisboa dependerão das medidas da equipa de Carlos Móia, ou dependerá dos próximos episódios políticos que ocorrerem em Portugal?

Esta dramatização, que assumo exagerada, pegando na lógica dos típicos atentados que se têm realizado no Mundo (muita exposição, em países-chave, etc...), vai de encontro a um receio que tenho refletido nos últimos meses, sobre o fenómeno da corrida em todo o Mundo. Não será uma grande corrida de facto um alvo apetecível para atentados ou ataques surpresa? Imaginando que Kim Jong-un, líder norte-coreano, tem de facto meios e interesse de atacar a Coreia do Sul, ter-se-à lembrado de atacar Daegu no dia em que a cidade fez disputar a sua Maratona? Quantos milhares não afetaria de uma só cajadada?

Obviamente que não deverá ser o receio a faca que corta o desejo de correr e de estar nos grandes eventos e, desde que não pegue moda, não será este atentado que afetará o forte movimento da corrida. Mas quais serão de facto os meios de segurança que cada organização mobiliza para garantir ou maximizar a segurança de todos os envolvidos? Londres considerou repensar os meios de segurança previstos para a próxima edição, mas quais seriam os anteriores?

Para a história ficaram histórias tristes e dramáticas. Um jovem de 8 anos perdeu a vida à espera do pai, cuja mãe sofreu um dano irreparável no cérebro e com a sua irmã a ficar sem uma das pernas. Com 29 anos faleceu um gestor de uma loja local. Um jovem estudante da Universidade de Boston também perdeu a vida, ao ver a prova com mais dois amigos. Várias pessoas viram as suas pernas amputadas, num espetáculo triste de se ver e onde foram as barreiras de separação entre o público e a corrida que “salvaram” maiores danos nos participantes. Nunca uma faixa publicitária e um conjunto de grades terão sido tão uteis aos participantes e nem mesmo aquele atleta que nas imagens cai instantaneamente no chão sofreu de danos relevantes. Com o nome de Bill Iffrig, o atleta de 78 anos corria a sua terceira maratona e a queda deveu-se às ondas de choque provocadas pela explosão junto à linha de meta. O atleta ainda completou a prova e terá dado graças às divindades por ter conseguido almoçar sossegadamente no hotel onde estava hospedado.

E afinal nos EUA os utensílios de cozinha parecem-me ser armas perigosas demais, tão forte é o esforço de Barack Obama em proibir as armas a sério. Se houve quem considerasse um saca-rolhas o motivo forte para se enjaular para uma vida, desta vez foram as panelas de pressão a provocar o terror. Se um ralador de vegetais não vier a fazer parte da história assassina deste Mundo, será seguro estarmos ao pé de utensílios de cozinha na próxima década?

No fundo só quero mesmo acreditar que é seguro sonhar-se com as marcas e com a felicidade de olhar para um cronómetro enquanto se corre livremente por este Mundo...Fico a desejar que não nos retirem mais atos genuinamente democráticos das nossas vidas...

EB Edgar Barreira
Gestor de conteúdos de Atleta-Digital.com


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