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Atletismo ficou de luto ao ver o recordista partir...
O fundista António Leitão deixou o atletismo mais pobre, depois de não resistir a cerca de um mês de internamento no Hospital de Santo António, no Porto.
Era ultimamente uma das personalidades do atletismo mais homenageada em Portugal, a par de Moniz Pereira. O estado de saúde de António Leitão inspirava cuidados, ou não sofresse ele de hemocromatose, doença que provoca situações críticas como diabetes e, que num caso de acidente, acabaria por ser sempre um entrave, como foi após uma fratura da qual tentava recuperar. Afável no trato, próximo das pessoas, António Leitão será, por ventura, um dos medalhados mais esquecidos do desporto nacional, muito por causa da sua vivência na sombra das medalhas de atletas como Carlos Lopes ou Rosa Mota, mas o seu marco no desporto nacional foi deixado e ainda hoje a sua marca aos 5000 metros é uma referência nacional e internacional...
Com 51 anos, a morte acabou por ser prematura, não resistindo à recuperação, depois de ter estado em estado de coma. O atletismo sai claramente de luto no dia de hoje, vendo partir um dos primeiros atletas da geração dourada de fundistas que projetaram as cores nacionais para um plano muito elevado...
O COMEÇO NA ESCOLA, PARA VIR A SER RECORDISTA E MEDALHADO
Foi na escola que António Leitão se iniciou no atletismo e foi ai que se destacou dos demais. Era na altura o que evidenciava mais aptidões para a prática do atletismo e começou a ganhar a maioria das provas de âmbito escolar. Em 1976 criava-se um núcleo de atletismo em Espinho e António Leitão foi naturalmente contactado. Esse clube, de nome NASCE (Núcleo dos Amigos do Sporting Clube de Espinho) nasceu e rapidamente apareceram os títulos : campeão nacional de corta-mato juvenil (1977), campeão nacional de corta-mato junior (1978 e 1979). Além dos títulos do corta-mato, apareceram os títulos na pista e esta ligação acabaria por durar em Espinho durante cinco anos, altura em que se transferiu para aquele que viria a ser o clube do seu coração, o Benfica. A medalha de bronze no Europeu de Juniores, em 1979, viria a marcar a sua carreira eterna nos 5000 metros, a primeira que Portugal conquistou nesta prova, depois de dois anos antes ter obtido a melhor marca mundial da distância, enquanto juvenil...
Ao Benfica deveu dez anos de paixão à modalidade e ao clube e o primeiro dos grandes recordes foi alcançado na prova de 5000 metros, com o registo de 13.07,70 minutos, uma marca que já não sendo recorde, é a segunda melhor de sempre, apenas ultrapassada pelos 13.02,86 minutos de António Pinto, decorria o ano de 1998. Tudo isto ocorreu na preparação para o ciclo olímpico de Los Angeles (1984), onde acabaria por tornar a sua carreira em algo ainda mais fantástico. Numa prova onde Portugal obteve o primeiro Ouro (na Maratona, por Carlos Lopes) e ainda outro Bronze (na Maratona, por Rosa Mora), António Leitão também acabaria por chegar ao Bronze, numa prova de 5000 metros de elevado nível competitivo e com o português a chegar à marca de 13.09,20 minutos, muito próxima do seu recorde. Nesse mesmo ano o corta-mato deu-lhe outra medalha, a de bronze, mas no âmbito coletivo, numa equipa que marcou o auge do fundo em Portugal, composta por Carlos Lopes (1º), Fernando Mamede (23º), João Campos (26º), Ezequiel Canário (64º), além de outros, mas entre eles Leitão, que nessa prova, realizada em Nova Iorque, foi 25 º classificado.
Aos 31 anos colocava um ponto final na sua carreira, que foi mais brilhante no início que no fim, também fruto de lesões que o foram afetando progressivamente. Mas quem colocaria em definitivo a carreira no fim era a sua doença hereditária, que o impediu de correr todo o resto da vida, facto que tentou conjugar com uma vida o mais regrada possível.
A HOMENAGEM DE ESPINHO, DANDO O NOME À NAVE DE ESPINHO
Era um dos cidadãos respeitados na cidade de Espinho, de onde foi natural e até à sua morte manteve uma loja de desporto na cidade, mostra de que sempre pretendeu estar ligado ao desporto, após uma carreira desportiva memorável. Era mesmo um dos nomes que faziam a promoção do desporto em Portugal, junto das escolas, onde esteve também muito relacionado à cidade de Aveiro.
A autarquia de Espinho não teve dúvidas no batizar da Nave de Espinho com o nome de António Leitão, pista coberta que tem sido um dos locais históricos no desenvolvimento do atletismo português durante o Inverno. Desde 1997 que a pista apresenta um cubo ostentando o nome do atleta que em 1984 ajudou a tornar Los Angeles como uma das cidades em que o atletismo nacional mais se destacou...
Encarou ao longo da vida o desporto pela cultura que lhe deu, não fossem as suas várias viagens ao estrangeiro em representação de Portugal e dos portugueses. A paz de alma com que sempre viveu, fez dele um atleta sempre acarinhado nas suas presenças e para sempre fica a imagem do bigode português no terceiro lugar do pódio em Los Angeles, o bigode que manteve ao longo da vida e que ficou sempre estabelecido como um cunho muito pessoal na sua imagem perante a vida social.
Nota de autor : O Atleta-Digital expressa as maiores condolências aos familiares e amigos próximos de António Leitão. Agradecemos por todo o legado de António Leitão para a promoção do atletismo nacional.
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