Portugal pode acolher um grande evento

Quinta, 26 Janeiro 2012
Portugal pode acolher um grande evento

«Era só preciso ter budget e um bom local.»

Jorge Salcedo é um dos principais responsáveis pelo sucesso dos grandes eventos portugueses, no atletismo, um reconhecimento poucas vezes visível... 

O Atleta-Digital, que já trabalhou na equipa de Jorge Salcedo quando em Olhão foi realizada a Taça da Europa de Marcha Atlética, em 2011, conhece a sua dinâmica, o seu mérito e a sua modéstia. A sua carreira é ímpar e Jorge Salcedo é o mais alto responsável português no atletismo internacional e a sua vida é feita de acasos e, nos últimos anos, de muito choro, mais pela satisfação do sucesso. Esta é a primeira parte de uma entrevista que será continuada no próximo dia 1 de Fevereiro, dando honras de aniversário deste portal a um homem a que o atletismo português muito deve.

DESDE 1992 A ERGUER GRANDES EVENTOS EM PORTUGAL

O ano de 1992 marcou a entrada de Jorge Salcedo na Federação Portuguesa de Atletismo, a meio de uma bem sucedida carreira de professor no ensino público. Já antes tinha passado pela Associação de Atletismo de Lisboa, nove anos depois de ter recebido a primeira nomeação para eventos internacionais. A sua postura terá sido determinante, mas também o apelido “Salcedo” lhe deu muito jeito na sua carreira de juiz, como o próprio o reconheceu, porque afinal também o seu pai foi presidente desta federação. Mas claramente Jorge Salcedo vale por si próprio, dando mostras disso ao longo dos anos...

Com a experiência internacional que foi adquirindo, surgiu também a candidatura para acolher em Lisboa o Mundial de Juniores. A candidatura foi ganha e o evento disputou-se dois anos depois da entrada de Jorge Salcedo, em 1994, de 20 a 24 Julho, no Estádio Universitário de Lisboa. Este foi o primeiro desafio de fogo para Jorge Salcedo que foi designado responsável do Comité Organizador Local, como em todos os eventos que se seguiram, convites endereçados pelo atual presidente da Federação Portuguesa de Atletismo, Fernando Mota. O evento foi um sucesso, trouxe muitas valias para o atletismo português e uma delas foram as infra-estruturas que ficaram, numa pista que só recentemente foi de novo homologada segundo regras da IAAF, quando aí se disputaram os Jogos da Lusofonia.

Três anos depois, em 1997, Portugal acolheu o Europeu de corta-mato, na pista de crosse do Jamor e essa foi talvez uma das piores experiências. O percurso estava em condições impróprias de tal forma que Jorge Salcedo relembrou-nos um episódio engraçado : «Lembro-me de ter sido miudo e de me ter enterrado na lama quase até aos joelhos, o que veio acontecer na mesma zona». Jorge Salcedo, que tinha sobre si uma enorme pressão, chegou a temer verdadeiramente a impossibilidade de realizar esse europeu face aos vários problemas : « Naquela manhã todos os trabalhadores desapareceram, eram cinco da madrugada. Depois apareceu o dono da empresa que estava a fazer a obra a dizer que já não a conseguia terminar. Ele lá conseguiu fechar o percurso, estiveram pessoas a colocar relva, as condições à volta eram péssimas, cheias de lama, mas o que eles viram na televisão foi o percurso. Um italiano que tinha estado cá para observar, que entretanto teve de ir embora, telefonou-me logo a seguir a dizer que tinha corrido tudo bem. ». O evento correu de tal forma mal, que pela sua postura não lhe restou outra opção que o pedido de demissão da Associação Europeia de Atletismo, onde já era membro do Conselho, felizmente rejeitado pela sua direção.

Mais três anos e no ano 2000 a cidade de Vilamoura recebeu o Mundial de corta-mato, o momento-chave para Jorge Salcedo mostrar, em conjunto com a sua equipa, já mais experiente, que Portugal sabia organizar eventos de atletismo. No ponto de vista de Salcedo, o evento acabou bem sucedido, havendo até quem tenha considerado a melhor edição de sempre, mas que marcou o resto da sua vida pelo choro compulsivo. “Estava eu com os juizes e apareceu Fernando Mota a dizer “muitos parabéns”, comecei logo a chorar. Desde aí, em cada prova, já nem digo nada...”, contou-nos Jorge Salcedo, que não é propriamente um inexperiente em eventos porque afinal já foi Delegado Técnico de duas edições de Jogos Olímpicos...

Jorge Costa

MUNDIAL DE PISTA COBERTA FOI O COMEÇO DE UMA PISTA QUE ANTES DE POMBAL ESTEVE ARMAZENADA

A maior prova de fogo para Jorge Salcedo, pela grandiosidade do evento, foi o Mundial de pista coberta, prova que decorreu no ano de 2001 no Pavilhão Atlântico, na zona do Parque das Nações, em Lisboa. O forte orçamento e a grande promessa política de que a pista aí utilizada seria instalada noutro local fixo mal o Mundial terminasse, eram dois ingredientes apetitosos, porque tal como o Mundial de Juniores deixava em Portugal infra-estruturas importantes ao desenvolvimento. Mas isso não aconteceu! « Custou-nos por não ter sido utilizada e depois de estar anos sem utilização ficámos com receio que não estivesse em condições, ainda que afinal estivesse em situações aceitáveis », diz-nos Jorge Salcedo. Esta pista é a que hoje se encontra instalada em Pombal e onde a maioria das competições nacionais em pista coberta passaram a ser realizadas.

Os últimos dois grandes sucessos organizativos foram a primeira edição do Campeonato da Europa de Equipas (em 2009) e novamente o Europeu de Corta-Mato (em 2010). Em 2009 a cidade de Leiria acolheu no seu estádio, o outro que tem uma pista homologada pela IAAF, um evento que se tornou histórico pela implementação, pela primeira vez, da atual regra da falsa partida mas também outros desvios às habituais normas utilizadas. «O facto do Campeonato da Europa de Equipas ter sido solicitação da Associação Europeia de Atletismo fala por si...», diz-nos Jorge Salcedo sobre a capacidade organizativa de Portugal. Já o Europeu de Corta-Mato trouxe de novo ao Algarve um evento desportivo que saiu em sucesso, não só desportivo, como organizativo. Também aqui Jorge Salcedo, como nos restantes, teve um papel importante na coordenação da sua equipa de trabalho...

Em Olhão, no ano de 2011, decorreu a Taça da Europa de Marcha Atlética, evento que teve uma produção muito forte da própria Federação Portuguesa de Atletismo, mais do que noutros eventos em que as entidades internacionais têm algumas das responsabilidades em mão. A experiência decorreu como outras, onde Jorge Salcedo foi de novo o interveniente assertivo, nas alturas em que o desvio à norma se ia verificando...

Albufeira

A PORTUGAL FALTA UM EUROPEU OU UM MUNDIAL DE AR LIVRE...

Jorge Salcedo foi modesto à hora da entrevista, mas o realce permanente no trabalho de equipa parece demonstrar a sua receita de sucesso. «Gosto de fazer parte de equipas que são responsáveis pelas competições e de estar envolvido», preferindo delegar responsabilidades que tê-las todas em cima de si. À pergunta de eventualmente se sentir um dos pais dos grandes eventos internacionais em Portugal, falou de novo a modéstia em pessoa : « Não! Estive envolvido, mas não significa que me sinta “pai”. Tive o papel que foi necessário porque em qualquer das competições estive envolvido com muitas pessoas e mesmo nas situações em que fui coordenador das iniciativas que se organizaram foi a equipa que funcionou. Nestes anos todos as pessoas assumiram as tarefas de maneira tão profissional que nunca foi necessário ter uma ação tão incisiva. Trouxe do exterior as coisas boas e é possível que no princípio tenha tido uma intervenção mais efetiva mas depois as pessoas passaram também a ser experientes nas organizações seguintes que fizemos...»

Claro que Jorge Salcedo não esconde que gostaria de ter o maior dos eventos, fosse da Associação Europeia de Atletismo (EAA), ou da Federação Internacional de Atletismo (IAAF), mas também sabe que Portugal não terá condições financeiras para tal e também não tem pista para tal... «Era só preciso ter budget e um bom local. Mesmo o Estádio de Leiria, como estádio, seria suficiente, mas a zona envolvente não seria aceitável. No Estádio de Jamor sim, mas teria de ter obras na bancada do estádio». Mas de uma coisa Jorge Salcedo tem certezas : «Se falarmos do ponto de vista da organização, com toda a certeza que temos condições».

Estádio de Leiria

HISTORIAL DOS PRINCIPAIS EVENTOS INTERNACIONAIS (desde 1990):

1994
Mundial de Juniores - Lisboa

1997
Europeu de Corta-Mato – Oeiras

2000
Mundial de Corta-Mato - Vilamoura
Taça Europa 10000 m - Lisboa

2001
Mundial de Pista Coberta - Lisboa

2003
Mundial de Meia-Maratona - Vilamoura

2005
Taça da Europa (1ª Divisão) - Leiria

2008
Taça da Europa (1ª Divisão) - Leiria

2009
Taça da Europa 10000 m - Ribeira Brava
Campeonato da Europa das Nações - Leiria

2010
Europeu de Corta-Mato - Albufeira

2011
Taça Europa Marcha - Olhão
Taça da Europa de Provas Combinadas - Ribeira Brava


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