Finalmente o efeito da falsa partida..

Domingo, 28 Agosto 2011
Hoje aconteceu história no atletismo, mas foram precisos dois anos para que a verdadeira história fosse descoberta. Falo da falsa partida (a zero), aquela que Bolt hoje desafiou, mas que atletas britânicos como Christinne Ohuruogu ou Dwain Chambers já haviam desafiado nestes Mundiais, em Daegu. Foi preciso chegar-se a Usain Bolt para que a IAAF visse efeitos reais desta regra, que nos regulamentos aparece como 162.7. Mas esta regra precisa de um contexto e a IAAF, antes de mais especulações, clarificou a evolução desta regra (e muito bem!) :

- Antes de 2003 existia a regra de qualquer atleta ter a tolerância de uma falsa partida, o que em teoria poderia dar em oito falsas partidas, sem qualquer punição.

- Em 2001 é aprovado no Congresso IAAF, em Edmonton, a regra em que existe a tolerância de uma falsa partida em cada evento, sendo que o segundo atleta que cometesse a falsa partida seria automaticamente desclassificado. Esta situação foi votada com 81 votos a favor e 74 contra e pela proximidade de votos foram dados dois anos de adequação à nova regra, que entrou em 2003.

- Em 2009 o mesmo Congresso, em Berlim, vota favoravelmente na actual regra, da punição da primeira falsa partida que existir, excepção feita nas Provas Combinadas. A votação foi de 97 a favor e 55 contra, depois de em anos anteriores ter existido alguma resistência à nova regra.

Ora, esta medida tem ainda uma curiosidade extra para nós portugueses, que foi a sua experimentação pela primeira vez em Portugal, no Campeonato Europeu das Nações realizado em Leiria, em Julho de 2009, antes do Congresso onde viria a ser aprovada esta regra. Ou seja, nós somos o foco do problema de Bolt, que originou hoje declarações que nunca antes tínhamos visto neste campeão como : “Se eu irei marcar presença nos 200 metros? É na quinta-feira certo? Temos então de esperar por quinta-feira”. É uma forma brusca de reagir por parte de um grande campeão como Usain Bolt, que corre há quase dois anos com esta regra...Lança-se a seguinte dúvida, terá Bolt feito de propósito para questionar a regra?! Seria muito rebuscado, mas o dado é que o seu treinador nem mudou de reacção ao ver o sucedido...

Adiante. Um dos grandes impulsionadores na medida é também ele português e foi visto em Daegu a receber Christinne Ohuruogu após a sua falsa partida. Não o fez a rir, fez com o ar neutro e com a compaixão que terá certamente sentido, mas a IAAF poderá hoje orgulhar-se que a sua regra finalmente funcionou, criou a polémica necessária, fez rolar as notícias nos Media, permitiu o “air-play” que não conseguiria se Usain Bolt não fosse desclassificado. Em 2009 o dito português, Jorge Salcedo, era claro : “Há atletas que actualmente cometem falsas partidas de propósito”. Foi esse o principal motivo para que a IAAF avançasse para a regra e o secretário-geral da Federação Portuguesa de Atletismo e líder do Comité Técnico da IAAF é por isso um dos defensores desta regra. Na altura um dos primeiros a reagir, o atleta norte-americano Tyson Gay, fê-lo de forma interessante aos olhos do dia de hoje : “Se a falsa partida acontecer em Jogos Olímpicos ou Mundiais, sem Usain Bolt a corrida vai ter um asterisco ao lado. Isto não faz sentido!”. Na altura o norte-americano David Oliver, barreirista este ano candidato ao Ouro, dizia concordar com a regra, mas somente em meetings. Os mais veteranos estão tendencialmente ao lado da IAAF, mas muitos dos atletas actuais apresentam-se contra e Tyson Gay diz mesmo que “a regra está a destruir a velocidade mundial”. São muitos argumentos, agora equacionados com a desclassificação de Usain Bolt...

Quando houve a transição da regra, com o Congresso de 2001, estudos disseram que o tempo de reacção dos atletas em grandes eventos havia atrasado 10 milisegundos, algo que parece não ser suficiente para dizer que os tempos dos atletas mudaram nessa altura pela entrada dessa regra. Cada vez mais existem mais tempos abaixo dos 10 segundos e se Usain Bolt não melhorou a sua marca esta época foi por motivos físicos, não por motivos da regra actual da falsa partida...O problema, como dizia o treinador João Abrantes no seu comentário dos Mundiais na Eurosport, é que Bolt focou-se muito nas suas partidas, um dos aspectos onde era mais fracos e que esse excesso de confiança o levou à falsa partida. Eu concordo e assino por baixo...

O pior que agora pode acontecer é que após esta situação a IAAF volte atrás com a regra, porque a irá descredibilizar, já que tem existido a ideia que Usain Bolt é quase protegido pelo organismo máximo do atletismo e a mudança cairia muito mal na comunidade do atletismo. Para já a urgência de uma reunião no próximo Domingo, após o término do Mundial, sobre este assunto assusta, embora possa servir para calar algumas das vozes discordantes e segurar a estabilidade deste Mundial...A rebeldia de Bolt em não esclarecer se estará presente nos 200 metros é quase que um desafio para a IAAF, como se este Mundial dependesse da sua presença, como se o atletismo nada fosse sem Usain Bolt. Reconheço-lhe imensas capacidade desportivas, não me incomoda toda a festa que ele faz antes dos 100 metros e que mudou a mentalidade dos principais sprinters mundiais, que agora fazem a sua coreografia para animar os espetadores A regra finalmente produziu os resultados desejados pela IAAF e depois de se ter dado um passo em frente, seria errado recuar por causa dos Jogos Olímpicos, quando Sebastien Coe, um dos rostos fortes dos Jogos Olímpicos de 2012 e um dos vice-presidentes da IAAF já veio esclarecer que a regra lhe parece bem e que não tem motivo para ser alterada a tempo de Londres.

O que se seguirá não sei, mas o que já aconteceu mostrou que o atletismo ainda é capaz de mobilizar massas e de colocar pessoas a discuti-lo à mesa do café...

Por : Edgar Barreira

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Mudança de regra : Diogo Costa
A regra das falsas partidas quando mudou foi bastante polémica(é perfeitamente normal já que os atletas estavam habituados a algo diferente), mas agora considero-a justa uma vez que todos os atletas estão no mesmo grau de igualdade. A realidade é que o Bolt tem bastante poder na IAAF, algo que não deveria de ter, ele é um atleta que tem merito como todos os outros lá presentes e a IAAF não deve questionar uma regra por causa do recordista mundial. Foi uma evolução das falsas partidas que não deveria regredir. Apesar que acho anti-pedagogico a aplicação desta regra nos escalões de Benjamins e infantis já que estão lá centralizados na pratica do desporto e é uma perfeita frustação para uma criança levar um cartão vermelho e ser expulso, que em muitos casos tem os clubes feitos em deslocações para assegurar a presença das crianças.
Setembro 11, 2011
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