Há pistas fantásticas

Sexta, 03 Junho 2011
Pista Moniz Pereira (Lisboa)O assunto não é novidade: Portugal está bem apetrechado de Pistas de Atletismo mas existe um problema com a sua utilidade, facto justificado pela ausência de um forte diálogo entre a FPA e o Instituto do Desporto de Portugal (IDP), segundo o Arq. Luís Leite na sua carta de demissão tornada pública após o Mundial de 2009 em Berlim.

Não sei se é possível negar que algumas das pistas em Portugal estão desajustadas às reais necessidades locais. Olhe-se para o número de utilizadores e de potenciais utilizadores (por exemplo, olhando para o número de habitantes da região) e deparamo-nos com algumas das seguintes questões: “Porque a construíram se está às moscas?” “Em que é que estavam a pensar quando decidiram construí-la?”. Claro que é fundamental haver pelo menos uma Pista de Atletismo por Associação Regional mas em associações com um pouco número de federados, as Pistas têm de estar estrategicamente localizadas para que a distância não se torne um motivo para alguns atletas não usufruírem delas, nem que seja uma a duas vezes por semana (no trabalho de formação com jovens, nem é preciso mais).

E quantas são as Pistas que estão entregues à gestão de privados, os quais exigem um pagamento considerável por cada entrada? Afastam os interessados e acabam por não ter muita utilização. Quanto tempo esperaram todos os atletas da Amadora para treinar na Pista de Atletismo do Monte da Galega na Amadora? Estava construída há longos anos e fechada até ao início da época de 2005. Até os atletas do Clube Atlético de São Brás, da freguesia onde tal Pista está construída fizeram camisolas onde tinham escrito “PISTA MONTE DA GALEGA- PODEMOS ENTRAR OU É SÓ PARA O FUTEBOL?!?!” que usavam quando aqueciam e subiam ao pódio nas provas do Torneio de Atletismo da Amadora para serem bem vistos pelos dirigentes da Câmara da Amadora. Olho para trás e tenho especial orgulho nesta “manifestação” por ter participado na origem e execução desta ideia.

A título de curiosidade: Actualmente, a Pista do Complexo Desportivo do Monte da Galega é aberta gratuitamente a todos, atletas e caminheiros, mas nem todas são assim.

Outro dos motivos que nos levam a questionar o porquê da localização da construção de muitas pistas prende-se com o vento. Continuando na Pista do Monte da Galega (provavelmente poucos sabem que esta pista existe), esta tem oito pistas e após a sua construção, optou-se por não montar os postes de salto com vara nem a gaiola dos lançamentos. Não terá sido pelo forte vento que lá se faz sentir? Óbvio pois é um vento horrível… Quantas provas de séniores houve lá? Que eu tenha conhecimento, só uma – a prova de inauguração com “pompa e circunstância” e que contou inclusivamente com a participação de alguém que se tornou Campeão Olímpico e Mundial no triplo salto: Nelson Évora. Nos últimos três anos, tem sido aproveitada pela Associação de Atletismo de Lisboa para 2 ou 3 provas de benjamins e infantis, para os quais o excesso de vento pouco significa. Esta Associação tem sido muito pouco feliz na escolha das pistas (O Universitário deixou de ser utilizado…) e os atletas que querem tirar mínimos para competições nacionais nas provas de preparação têm a tarefa dificultada pois deparam-se com ventos de 3, 4 m/s (às vezes até mais) na Pista do Lumiar, usada (e abusada) recorrente.

E quantas não estão apetrechadas de material conveniente ou suficiente para o treino de todas as especialidades do atletismo? E quantas foram alvo de barbaridades na sua construção? Sabiam que a Pista de Borba tem a vala de água na curva a seguir à meta? Incrível!

Também muito grave é o facto de, actualmente, haver muito poucas pistas ao ar livre onde se possa realizar uma competição com o programa completo. Luís Leite referiu recentemente na sua página do “facebook” que se tivesse ficado na FPA, 90% das pistas tinha perdido a homologação, graças à degradação e às próprias falhas na construção das mesmas.

Seguindo uma das mais emblemáticas frases do Prof. Moniz Pereira: “Dêem-me as melhores condições que obteremos iguais resultados”, ninguém pode negar que a construção de Pistas de Atletismo foi essencial para o desenvolvimento do Atletismo Português, especialmente nas especialidades técnicas porque no meio-fundo e fundo, os resultados não acompanharam a mesma tendência.

De facto, se actualmente temos estrelas mundiais nos Saltos, a verdade é que quando havia pouco mais pistas do que a do Estádio Nacional no Jamor, o número de atletas a baixar dos 14min aos 5000m e dos 29min aos 10000m ultrapassava largamente o número actual de atletas a conseguir fazê-lo.

A mensagem é clara. Se por um lado, ter mais Pistas de Atletismo significa ter melhores condições de “trabalho” para os atletas portugueses, a verdade é que, por outro lado, ter melhores condições de trabalho não gera necessariamente melhores resultados. Construir Pistas de Atletismo não é um factor isolado no desenvolvimento do Atletismo e quem o deseja desenvolver não se pode assustar perante todos os outros factores, sob pena de nem sequer tentar alterar o panorama actual. No entanto, uma coisa é certa: as Pistas fechadas, sem materiais adequados, sem as pessoas certas ou mal localizadas enfraquecem este factor especial de desenvolvimento da nossa modalidade.


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