Dádivas de Deus |
| Domingo, 04 Abril 2010 | |||||||
 No Atletismo, como em qualquer outro desporto, vários atletas quando atingem o "topo" e têm sucesso, explicam-no quase sempre por factores sobrenaturais, às divindades, a algo exterior a eles. "Foi graças a Deus", "Deus ajudou-me…" são expressões que ouvimos muitas vezes, acompanhadas pelo tradicional "benzer-se" no início e no fim duma prova/jogo. Antes de começar o artigo, é urgente afirmar que o Desporto e a Religião não são campos incompatíveis! O Homem é que foi tornando incompatível a ligação entre ambos… Ética no Desporto - A batota, o doping, o oportunismo e outros factores preocupantes (todos frutos da acção do Homem, esse tal Ser "Racional"), têm vindo a massacrar valores como a Verdade e a Lealdade no Desporto. Será que algum dia existiu Ética no Desporto? Não faço a mínima ideia mas gostava de acreditar que sim tal como todos aqueles que não entram por caminhos proibidos e têm consciência que fazem o seu Desporto saudavelmente. Na altura dos Mundiais de Berlin 2009, o grande Michael Johnson (ainda recordista mundial dos 400m), questionado acerca da possibilidade de Caster Semeneya ser um homem, não respondeu à questão mas deixou no ar algumas suspeitas, afirmando que, durante toda a história do atletismo, "houve exemplos de atletas que fizeram batota para terem vantagem sobre os outros". A batota, sobre qualquer forma, perturba as sociedades. Já escrevi sobre o assunto em artigos passados mas voltando a tomar como exemplo os esteróides, é necessário afirmar que, por esses funcionarem tão bem, criam uma vantagem desleal para aqueles que os usam, quebrando um "contracto social" que os atletas aceitam implicitamente: "Vamos ter uma competição justa. Há coisas que podemos fazer e outras que não". Esse "contracto social" é claramente utópico porque as sociedades adoram o Desporto, as performances mais espectaculares, os esforços mais desumanos, etc, etc. Culpados? – As sociedades simplesmente adoram e pagam para ver homens e mulheres a fazerem coisas para as quais os seus corpos não foram desenhados… É sempre emocionante ver coisas que nunca foram feitas, velocidades nunca antes atingidas mas já não é nada bonito ver os efeitos secundários nos corpos desses super atletas e as sociedades tendem a olhar para baixo quando os seus grandes campeões entram nessas zonas de perigo. Percebemos então que o problema da falta de Ética no Desporto não é só dos atletas. É de todos os intervenientes no Desporto começando (obviamente) por esses atletas e seus treinadores, passando por dirigentes e acabando nos fãs. Todos esses são responsáveis pelo estado actual porque se esqueceram de promover o "fair-play" e os valores mais nobres que nos ajudariam a dizer: "É errado fazer isto!", "Não seria justo aproveitar-me disto", etc… Mesmo que as sociedades promovessem valores desportivos sérios, surgiriam problemas resultantes da diversidade de culturas. Contudo, o pior problema é ouvirmos desportistas famosos, depois de acabarem as suas carreiras, assumirem que consumiram substâncias proibidas durante as suas carreiras, dizendo que se todos os outros faziam, porque não eles próprios também? Só assim tinham lutas leais…(?) Seria muito interessante analisar o fenómeno do Doping sob esse prisma mas correríamos sempre o risco de estar a tentar desculpar os batoteiros… O papel de Deus – Qual poderá ser o papel de Deus no panorama desportivo descrito anteriormente? É que Ele, sem culpa alguma, é várias vezes chamado para um meio que certamente não O deixa muito satisfeito. Um dos maiores autores russos, Fyodor Dostoyevsky, escreveu que "se Deus não existisse, tudo seria permitido" e talvez o papel de Deus no Desporto esteja mesmo presente em cada desportista correcto. Se Ele não existisse, talvez todos recorressem a esteróides anabolizantes, daqueles que fazem uma pessoa ficar acordada durante dias e dias, só com vontade de treinar. E aqueles que não acreditam em divindades? O caminho desses é duro mas prefiro um não crente honesto do que um crente falso e esta última espécie abunda no Desporto… Eu farto-me de ver futebolistas que têm vidas boémias e chegam ao campo de futebol e benzem-se novecentas vezes. Farto-me de ver corredores que quando eram desconhecidos não se lembravam de Deus mas atingindo os pódios já se benzem todos. Claro que muitos dizem que deve-se dar a glória a Deus mas é muito, mesmo muito raro ver um atleta de pelotão a benzer-se na meta. Porquê? Não há glória em terminar em 100º? Não há nada de louvar em superar-se? Não há que agradecer ter-se mais talento do que as outras 2000 mil pessoas que chegaram atrás? Realmente está-se a tornar difícil viver-se desta forma. Hipocrisia e talento – A atitude de muitos atletas de topo tem apenas um substantivo: hipocrisia. Nunca se ligou às religiões, a Deus e de repente tem-se resultados: foi "Deus que ajudou", foi "Deus que me meteu as pernas a andar mais rápido", foi "Deus que deu o talento". Talento! Essa palavra tão usada para justificações. Numa entrevista a Dibaba, esta refere que tem um talento especial, justificando que ter corrido um troço de 100 metros durante uma prova de 5000m em 14 segundos foi uma dádiva de Deus… E se corresse em 20seg? Será que diria o mesmo? Assim e seguindo a linha de raciocínio da atleta etíope, existem milhões e milhões de mulheres a quem Deus esqueceu de conceder uma dádiva… Mas há vários "deuses" que não esquecem ninguém, basta tomá-los pela garganta a baixo, injecta-los onde convém, e treinar sem parar. É claro que esses "deuses" que menciono são os esteróides dado que cientistas apontam para 30% de dopados no bolo total de desportistas (Baixa, Média e Alta Competição). Como se vê, é muito difícil saber que Deuses são falados nas entrevistas dos grandes atletas. Se são dádivas divinas se são dádivas químicas? Para os cépticos acerca do tema (aqueles que perguntam: Onde está o doping? Mas onde? Não vejo nada…), aconselho que se olhe para o caso do Ben Johnson e o poder das dádivas químicas no seu corpo…
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