De jovens valores a seniores…

Segunda, 03 Agosto 2009
Este artigo de opinião pretende exprimir o meu ponto de vista, ainda que pouco aprofundado, sobre o caminho entre o ser um jovem valor e o ser um sénior vencedor…
Jovens atletas em acção

Na verdade esta é uma análise complicada e até perigosa, dadas as inúmeras variáveis (algumas aleatórias) que estão em jogo neste trajecto que demora anos e em que tanta coisa pode acontecer e falhar.

Um juvenil é um atleta que por si só ainda apresenta melhorias naturais, que derivam do crescimento e, como tal, tudo em si pode ser uma incógnita. Um júnior é um atleta que começa a olhar e a frequentar, de forma geral, o mundo por uma perspectiva académica/profissional e quem lá passa sabe do que é essa mudança de vida, de hábitos e de costumes. Um sub-23 é um atleta que tenta conciliar estudos (ou trabalho) enquanto não vinga como sénior. Um atleta que chega a sénior, é um atleta que suportou todos os filtros impostos pela sociedade e pelo atletismo.

A questão fulcral é: “Será benéfico um atleta ter boas prestações nestes escalões?” – que nos leva a outra questão que é : “Conseguiram os nossos medalhados jovens chegar a bons resultados?”

Se analisarmos as medalhas conquistadas pelos atletas portugueses, por exemplo, ao longo das várias edições do Festival Olímpico da Juventude Europeia (FOJE), medalhados como Marco Fortes, Nelson Évora, Arnaldo Abrantes, Liliana Cá, Marcos Caldeira, João Almeida, António Rodrigues e Irina Rodrigues, podemos ver que alguns já atingiram o “estrelato”, outros participaram em Europeus, Mundiais e Jogos Olímpicos e outros têm conquistado o seu lugar com recordes. De resto são poucos os nomes de medalhados que por um motivo ou por outro acabaram por não chegar à carreira de atleta sénior de forma tão digna.

Esta análise também pode ser feita com outras competições, senão vejamos:

EUROPEU DE JUNIORES

1979
5000 m – António Leitão (3º)

1987
800 m – António Abrantes (2º)
3000 m – Fernanda Ribeiro (1º)

1989
10000 m – Mónica Gama (2º)

1991
3000 m Marcha – Susana Feitor (2º)

1993
400 m Barr – Carlos Silva (1º)
5 Km Marcha – Susana Feitor (1º)

1995
5 Km Marcha – Sofia Avoila (1º)

2001
5000 m – Bruno Saramago (2º)
Peso – Marco Fortes (3º)
400 m Barr. – Patrícia Lopes (2º)

2003
Comp / Triplo – Nelson Évora (1º)
10 Km Marcha – Ana Cabecinha (3º)

2005
Disco – Liliana Cá (2º)

2007
Comprimento – Marcos Caldeira (3º)
Peso – António Vital e Silva (2º)

MUNDIAL DE JUNIORES

1988
3000 M – Fernanda Ribeiro (2º)
10000 M – Mónica Gama (3º)

1990
100 / 200 M – Lucrécia Jardim (3º)
5 Km Marcha – Susana Feitor (1º)

1994
5 Km Marcha – Susana Feitor (2º)

É ou não verdade que a maioria destes atletas adquiriu notoriedade, nem que seja dentro de portas? Não valerá de muito a comparação com atletas internacionais, porque se formos ver os recordes do Mundo de Juvenis ou Juniores, muitos deles também não pertencem a actuais recordistas ou campeões mundiais.

Uma carreira desportiva é um longo caminho, que se percorre, onde factores como lesões, percurso universitário, empregos, família, tudo pode influir na melhor ou pior carreira de um atleta e não são todos que têm a possibilidade de enfrentar profissionalmente o atletismo, da forma como outros atletas o fazem. Tal como em Portugal (em geral também pela Europa), não existe o hábito do desporto universitário, sendo por isso um obstáculo para partilhar a formação académica e o desporto.

Não podemos, por isso, desconfiar de medalhas alcançadas por jovens atletas, tal como não podemos impedir atletas que alcancem resultados menos meritórios de alcançar voos mais altos noutras competições. Cada caso é um caso e por isso cada atleta deve trabalhar por si, para os seus objectivos, independentemente das medalhas ou recordes nas competições jovens, supondo que o objectivo final é a carreira ao mais alto nível.

E mais! Lembremo-nos que cada competição tem a sua dificuldade (anos mais fáceis para obter resultados, que outros anos), que cada competição é um momento (condições psico-fisiológicas não são previsíveis muitas vezes) e ganhar uma medalha enquanto jovem e não ganhar em sénior, ou vice-versa, é muitas vezes uma questão de oportunidades. Naide Gomes era no ano passado a melhor atleta mundial do ano no salto em comprimento (e claramente mais forte que as adversárias) e acabou, por uma falha não esperada, por nem chegar à final da sua prova. O que a história e a estatística ditarão é que: “Naide Gomes não medalhou nos Jogos Olímpicos de Pequim. (ponto)”. É isso que vai ficar escrito, sem que se escreva também que no entanto ela estava mais forte que as restantes, acabando por desvirtuar a realidade dos factos. Já dizia Benjamimn Disraeli, no séc XVIII, “Existem três tipos de mentira: mentira, mentira deslavada e estatísticas.”

Obviamente que é muito importante o papel do treinador, que deve ser consciente que um jovem não pode ser tomado como um adulto em miniatura ; o papel dos familiares que não devem exacerbar em demasia os feitos dos seus prodígios ; dos colegas de treino e de atletismo que devem ser mais cometidos e continuar a trabalhar dentro dos seus objectivos (mesmo que inferiores) ; e também a imprensa, que não deve exagerar na ênfase de um resultado, mas também não o deve esquecer.

Por isso, falando neste papel que é o de pertencer à imprensa quero aqui manifestar a minha opinião sobre qual o papel da imprensa e o que fizemos para acompanhar as duas principais competições internacionais de Juvenis. A imprensa não deve excluir a participação dos jovens nestas competições, porque é sempre um estímulo a mais para continuarem a lutar pela carreira de desportista, nem sempre fácil como sabemos. Por outro lado a imprensa não deve exagerar no foco dado a cada uma das prestações e pede-se alguma contenção, principalmente para não criar declives demasiados grandes entre atletas medalhados e não medalhados, porque todos merecem aquele momento e aquele espaço próprio enquanto jovens. O que fizemos, fundamentalmente para o FOJE, foi proporcionar uma notícia por cada prestação de cada atleta e assim aproximar o contacto entre aqueles jovens que se encontravam na Finlândia e os familiares e amigos que se encontravam em Portugal. Sempre que possível conversou-se com os jovens atletas, numa atitude delicada e compreensiva por parte dos nossos enviados especiais. A escrita de cada notícia era cuidada quer por quem escrevia (os enviados especiais), quer por quem editava (eu próprio) e em sintonia tentar criar um momento único e que nunca ninguém tinha feito em Portugal, acompanhar a par e passo o Festival Olímpico da Juventude Europeia.

Se todos os nossos jovens que estiveram no FOJE serão grandes atletas daqui a alguns anos?! Não saberemos. O que interessa é que todos aqueles que participaram sentiram o carinho antes e após as suas competições e começaram a entender o que é o Mundo do atletismo em toda a sua vertente.

Daqui para a frente é um mar de dúvidas, que ultrapassado dará acesso a uma ilha de oportunidades, onde os mais fortes chegarão e tentarão lutar contra outros atletas que aí chegaram. Outros chegarão a outras ilhas maiores, onde muitos outros chegam e isso não é desmérito, porque muitas vezes significam que apostaram na sua formação para construir a sua vida de outra forma, havendo também casos de “afundamento” ou de regresso ao ponto inicial, que é a desistência da modalidade. O que esperamos que aconteça é que os atletas continuem a ter apoio, que lhes forneçam canoas resistentes, mas também que os atletas se tornem fortes para remar contra a maré.

Esta metáfora explica exactamente o que nem sempre acontece e por isso algumas das promessas jovens, acabam por nunca chegar mais além ou por se desinteressar da modalidade. De jovens valores a seniores…vai uma grande luta, muitas etapas, muitos pontos altos e baixos e o sacrifício de quem quer fazer da sua vida, a vida de desportista, de exemplo à sociedade e de orgulho em representar a nação. Conseguem os mais fortes…

Por: Edgar Barreira

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Comentarios (8)add feed
Concordo! : Rafael Lopes
Bem dito Edgar... Estou em sintonia dessa opinião mas também gostaria de partilhar o facto de muitos jovens atletas deixarem tudo para se dedicar ao atletismo e isso muitas vezes dá para o torto. Quando só se pensa numa coisa e vive-se só para ela, acaba-se frequentemente por se desistir quando aparecem obstáculos demasiado altos e robustos. Por isso os jovens nunca deveriam de se tentar distrair do atletismo nos momentos fora dos treinos e fora das competições. Estudem, leiam, cultivem-se, namorem, tenham mais actividades... Claro que há quem se dê muito bem a pensar só em atletismo mas vejam o exemplo do Francis Obikwelu. Esteve 10 ou mais anos seguidos a treinar no duro sempre com objectivo de pódios internacionais. Esta época, esteve parado quase 6 meses e voltou a treinar com calma, aproveitando a vida, e as marcas têm sido surpreendentes...
Será que faço sentido?
Agosto 04, 2009
Muito bom este artigo. : luis
Para mim uma das grandes vantagens para se ser um bom atleta é para além da genética a vontade de querer ser alguém na área que se escolheu.

Vejamos Joana Vasconcelos da Canoagem, ainda antes de agora ser já uma estrela em Ascenção, já eu a tinha identificado à alguns tempo como uma atleta que pelas características pessoais dela só teria um resultado futuro, que é ser Campeã. E já é!!

No Atletismo também se vislumbra um nome, que é Eva Vital, mas na disciplina que ela escolheu e se dá melhor ela terá que investir muito a partir de agora no treinamento de Ginásio, precisa de massa muscular e quanto mais cedo se começa a "fabricar essa massa" melhor.
O curioso é saber se ela agora em Júnior nos vai dar alguma alegria e ser Campeã ao menos Europeia, irá ser bastante dificil, mas não impossível, pois com ela nesta Geração estão boas atletas em ascensão.

Quanto ao artigo concordo com tudo e sou da opinião que é a vontade e a forte permanência de ligação e tempo despendido à disciplina que irá fazer atletas de top mundial, sem com isso deixar de ter tempo para namoriscar e estudar, mas tem que se ter prioridade, e essa para Jovens já promissores deve ser o desporto, pois em termos de rendimento financeiro, os de Top já não se queixam, que tal perguntar à Naíde ou ao Nelson se não compensa, quanto ao futuro os Campeões não precisam de pensar muito nisso, os outros sim, se virem que não conseguirão ser atletas de top até aos 19 anos é altura de parar para reflectir sobre o futuro e dividir as prioridades


Agosto 05, 2009
Outra coisa! : luis
A castração de valores de Juvenis para subsequentes escalões é mais notória que de Juniores para Seniores.

Actualmente temos outros nomes que poderão ser atletas de top no atletismo como Irina Rodrigues que sendo Júnior é uma promessa para a disciplina que escolheu e que na minha opinião já não deveria mudar.

Outros Juvenis que irão mostrar o seu valor agora em Juniores são Tiago Aperta e Rui Pinto. Este é o escalão que começa a dizer alguma coisa.


Agosto 05, 2009
Entreti-me a ver os rankings dos + jovens : luis
E nomes a seguir para os próximos 2 anos e a destacar.

Carlos Nascimento e Filipe Cunha na velocidade e Saltos Horizontais.
Luís Neves, Davide Caetano e Cristian Rosa nas provas +200mt.
Ruben Manuel Laurindo, João Cruz e Francisco Rodrigues nas provas +400mt.
André Santos nas Barreiras.
Ricardo Mendes, José Rafael Vilas Boas e Miguel Barrigana na altura.
Joel Pereira e João Raposo no Triplo.
Carlos Bornes e Luís Cardoso no Peso
Rodrigo Rodrigues na Vara e Luís Cardoso no martelo.

Estes são os ainda Juvenis de 1º Ano e Iniciados que será interessante ver as suas prestações nos próximos 2 Anos.

A Destacar o Infantil Miguel Barrigana na Altura o Polivalente Joel Pereira mais Carlos Nascimento na velocidade e ainda Francisco Rodrigues nas provas de +800mt.

Como se pode ver teremos mais motivos de alegria no próximo FOJE. smilies/grin.gif

Isto foi só para meter foice no artigo e fazer a próxima colheita.

smilies/grin.gifepois verei as raparigas.

Agosto 05, 2009
Faltou mencionar este atleta : luis
Décio Andrade no Martelo que com 12anos lançou este ano 37,28, uma excelente marca para engenho de 4kg.
Muito Interessante!
Agosto 05, 2009
Raparigas a ver progressão nos próximos 2 Anos : luis
Estes são alguns nomes a ter em atenção para os próximos tempos.

smilies/grin.gifébora Clemente, Elizandra Alberto, Sarah Dias e Rafaela Vitorino na velocidade e Saltos Horizontais.

Teresa Carvalho especialmente no comprimento mas também Altura.

Liliana Cabral e Ana Queiroz Alves em +400mt.

Ana Oliveira na Altura mas também esperar para ver se conseguirá superar os excelentes resultados que tem tido na altura noutras disciplinas como triplo e Comprimento.
Também na altura Nicole Marques.



Rute Catarino na Vara.

Mónica Rino, Anais Baptista e Joana Costa no Triplo.

Joana Rosa no Disco, M.ª Inês Domingos no martelo e Marta Mendes no Dardo.

Maria Manuel Silva teve um excelente resultado no Triatlo Técnico com 1900 pontos, ainda é Iniciada de 1ºAno.

Joana de Jesus Costa e Raquel Botelho na Marcha sendo de salientar que a Raquel é Infantil ainda.

smilies/grin.gifestaco Ana Oliveira e Elizandra Alberto como atletas a seguir com atenção, mas todas serão atletas que poderão ser boas Juvenis.

A maioria destas atletas ainda tem 2 Anos de Juvenis pela Frente sendo algumas iniciadas de 1995 e Infantis a Elizandra Alberto e Raquel Botelho.

Este é um resumo dos atletas com prestações mais honrosas este ano até fins de Junho.
Agosto 06, 2009
A minha opinião acerca do texto : Diogo Costa
(Eu como espectador do norte de atletismo...)
Parabens Prof. Edgar, este texto é algo de fundamental para a reflexão da formação do atletismo Português.
Os atletas do escalão de iniciados mostram, a maioria, a sua capacidade fisica em cada prova devendo estes experimentar e fazer uma variade de provas diferentes nomeadamente na area dos saltos, lançamentos e corridas. Neste escalão os atletas devem mostrar o que valem, devendo o treinador não foca-lo tao cedo para uma area e levar o atleta já aos exessivos treinos(este que é um problema de vários treinadores com pouca formação). Em Portugal existem bastantes atletas talentosos mas que muitas vezes não o mostram. Neste aspecto a equipa JUVENTUDE VIDIGALENSE tem feito um papel extraordinário ao encontrar e formar atletas.
Mas tenho uma questão a por.... Como se forma atletas quando muitas vezes nem existem condições de treino, por exemplo pista, naquela região?
Existem equipas com campões nacionais e nos campeonatos nacionais de clubes bem posicionadas e SEM CONDIÇÕES DE TREINO. Como é isto possivel e sustentavel?

Em Portugal só não existem melhores atletas devido ao crescente numero de equipas de estradas e a pista a perder valor, sendo cada vez mais dificil encontrar atletas tecnicos, o desinteresse de muitos orgãos e a preocupação de muitos(não todos!) treinadores em manter a sua imagem.

O ATLETA DIGITAL tem feito um papel espetacular na promoção do atletismo Português os meus sinceros Parabens.


Agosto 17, 2011
Acerca dos comentários : Diogo Costa
Sr Luis, os rankings não querem dizer tudo e penso que existem atletas não referidos que irão ter grandes existos e alguns que permanecem aí e não o terão, atrás do nome de um atleta estão muitas coisas. O tipo de treino que faz com esta idade. A evolução que tem feito etc. O futuro do atletismo Português não é previsivel e só o tempo o dirá.
Agosto 17, 2011
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