Trabalhos bem-feitos: Parte I

Quarta, 06 Maio 2009
Pretendo com estas próximas reflexões dar a conhecer sobre trabalhos que considero muito bem-feitos. Não são, por certo, os únicos no nosso país mas são os que eu conheço, porque se foram cruzando na minha carreira e que, por apreciá-los, gostaria de dá-los a conhecer. Faço-o aqui porque o que está escrito tem mais força e chega a mais gente do que falar de peito aberto para o céu…

José Marques



Sporting Clube da Reboleira e Damaia – Desde os meus tempos de Benjamim, em que os meus amigos e adversários nas provas de estrada eram deste clube, que conheço uma figura completamente envolvida e dedicada a este desporto. Chama-se José Marques, é vice-presidente e treinador de atletismo do SCRD e sempre mereceu a minha maior admiração.

A vida do Sr. José Marques confunde-se com o atletismo e com a arte de tirar os jovens de futuros possivelmente marcados de delinquência. De facto, num meio bastante difícil (nem é discutível afirmar que é das áreas mais perigosas do país), o Sr. Marques consegue ser um pai para muitos miúdos, cujas famílias, que por terem pouco dinheiro, não querem os seus filhos a perder tempo em correrias. Na minha visão e na do Sr. Marques, de certeza que mais vale os miúdos perderem tempo a correr à procura de vitórias do que a correr a fugir da polícia. Talvez seja esse um dos motivos da grande motivação do Sr. José Marques, essa motivação que frequentemente lhe rouba horas de sono.

Sobretudo aos fins-de-semana, o Sr. Marques faz um esforço sobre-humano. Sai do trabalho às 8 horas e vai com os atletas para as competições. Só depois arranja algum tempinho para dormir, sabendo que terá de entrar no trabalho novamente à meia-noite.
Um das coisas mais essenciais do seu trabalho é a de treinar atletas de várias cores ou etnias. Junta atletas de várias cores e ensina-lhes a coexistirem normal e pacificamente e qualquer discriminação não é aceite. Era bom que fosse assim em todo o lado… era bom que todos tivessem tamanho coração, tamanha coragem.

Por tudo isto que tem vivido há mais de 10 anos, merece a minha maior ovação porque, tal como disse Erasmo de Roterdão, nos seus “Adágios”, “não merece o doce quem não experimentou o amargo” e muitas dores de cabeça de trabalhar num meio tão desfavorecido. Eu sei porque já senti na pele, sendo morador na Amadora desde nascimento.
Também não se pode esquecer aqui o trabalho do mister Luís que fez bastantes atletas sonharem com algo que nunca antes pensaram poder atingir. O último caso tem sido o da atleta Marisa Borges (que passou pelo Sporting Clube da Reboleira e Damaia mas que agora representa a JOMA) e, só desejo que o tempo lhe seja bondoso e, que com ele, se torne mais dedicada ao atletismo porque pode chegar longe.

CP Alcanena

Casa do Povo de Alcanena – Um clube que fez com que uma vila deixasse de ser conhecida apenas pela Base de distribuição dos Mosqueteiros, perfeitamente visível da A1. De facto, para quem pratica atletismo, é impossível desconhecer Alcanena. Sempre teve os seus atletas nos primeiros lugares dos campeonatos nacionais jovens e esse mérito vai quase exclusivamente para o Prof. Paulo Constantino.
É certo que tem por trás apoio e “esforço” da Câmara Municipal de Alcanena, mas tudo o que tem actualmente foi merecido… Pelos resultados apresentados, pela longevidade do seu trabalho e pelas lágrimas brancas que só caiam daqueles que, quando traçam um objectivo, por mais marés e tempestades que lhes atravessem no caminho, seguem fiéis ao plano traçado, cientes que cumprirão os objectivos.

Isto não é como a Nike nos Estados Unidos, que patrocina jovens desportistas não pelo que fizeram mas pelo que se espera que façam. A minha opinião, é que esse é um modelo injusto porque as pessoas só deveriam ganhar o que merecem. E tudo o que o Prof. Paulo “ganha”, merece-o e usa-o de forma a proporcionar aos seus atletas melhores condições (pista, ginásio) e de forma a lutar para que os seus atletas, por exemplo, tenham melhores subsídios.

A verdade é que o CP Alcanena, mesmo nunca tendo equipas muito grandes, já conseguiu resultados colectivos extremamente honrosos. Em 2004, por exemplo, a sua equipa masculina classificou-se no terceiro lugar no Campeonato Nacional de Juniores de Pista Coberta com 5 elementos, atrás do Marítimo e do Benfica que tinham equipas muito mais numerosas.
Depois de, durante duas épocas, a CPA ter contado com três elementos (“Os três mosqueteiros” como o Prof. Paulo escreveu numa notícia sobre o assunto) que se posicionavam bem acima nas listas das provas combinadas, o clube perdeu um elemento, embora continuando os dois elementos fulcrais. Refiro-me aos irmãos Santos que são completamente apaixonados por Atletismo e de quem assisti, nem muito de perto nem muito de longe, à sua evolução. Conheço melhor o Pedro por ser da minha idade e por, desde infantil, termos competido várias vezes juntos. Apesar de sempre me ter ganho, sempre foi muito correcto comigo e com os seus adversários e tenho a certeza que o Prof. Paulo, no seu papel enquanto treinador, contribuiu para isso.

Hoje em dia o clube, que é a menina dos olhos de água de Alcanena, não são só os manos “Santos”, tendo também um treinador de formação (Tiago Madeira) cujo trabalho tem já dado alguns frutos como, por exemplo, vários títulos regionais. Só espero que da formação saiam muitos iguais aos “Santos” e que o Prof. Paulo Constantino os possa lapidar no futuro.

Aqui ficam os meus tributos a dois trabalhos bem-feitos. Mais se seguirão… Claro que, para muitos, isto pode não significar nada já que os tributos valem pela pessoa que os dá (e quem sou eu?!), mas para mim, é uma forma de mostrar gratidão às pessoas que, mesmo não trabalhando directamente comigo, têm feito excelentes trabalhos com jovens atletas, não só desportiva como pessoalmente…

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Comentarios (1)add feed
*** : Pedro Santos
É verdade... Muito do que a Casa do Povo de Alcanena conseguiu alcançar, foi mérito de uma pessoa apaixonada pelo atletismo, o Paulo Constantino.
Sempre me acompanhou, sempre esteve ao meu lado, abdicando muitas vezes de estar vao lado da familia. Chegou a pagar do "próprio bolso" para estar presente nas Taças da Europa de Provas Combinadas, na Eslovénia(2008e2009).
Por tudo isto eu agradeço, e a melhor forma de o recompensar é continuar a trabalhar e lutar cada vez mais, para conseguir grandes resultados.

Maio 08, 2009
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