Do Mundial de Corta-Mato, apenas as portuguesas

Domingo, 29 Março 2009
Normalmente escreve-se e fala-se muito mal dos atletas portugueses, com críticas mais ou menos justas. Faz-se correr tinta dizendo que o atleta A, B ou C não correspondeu da forma correcta.

Desta vez das poucas coisas boas que se viram, desde Portugal, do Mundial de Corta-Mato foi mesmo a prestação das atletas portuguesas, que mostraram que ser europeu não é uma condição de derrota numa competição como esta.

Infelizmente os portugueses que assistiram a este Mundial através da RTP2, sem querer apontar culpados, tiveram a decepção de uma má cobertura televisiva, salvando-se apenas o esforço de um dos canais públicos portugueses ter as duas principais competições em directo.

Começando pelo traçado da prova, ele foi mal pensado, com zonas mal delimitadas e com algumas falhas organizativas (que se foram notando aqui e ali) de bradar aos céus. O esforço da IAAF de levar as grandes competições a outros locais do planeta, fora da Europa, é de facto uma boa medida, mas neste caso a organização na Jordânia não parece ter feito o satisfatório para a dignificação do atletismo e do corta-mato.

A transmissão televisiva, controlada directamente da Jordânia para todo o Mundo transformou-se num caos televisivo e sem interesse. Desde câmaras com movimentos descontrolados, desviando-se totalmente do que ia ocorrendo na corrida, a planos “vazios”, onde não passava qualquer atleta, com imagens tremidas e desfocadas do que se ia passando e quase se perdia a chegada da primeira mulher, num momento em que o que era focado era a cauda da corrida. Ou seja, erros de câmaras e de produção quase inadmissíveis numa prova tão grande como esta. Fica por perceber o que ocorreu e porque ocorreu, acreditando que houve uma justificação plausível para o que aconteceu, porque nem sempre tudo corre bem nestas coisas…

Os comentários realizados merecem-me também uma nota negativa. Sabendo da dificuldade que é falar num directo, onde durante quase duas horas apenas uma voz terá de fazer sentido face ao que vai acontecendo numa prova, não poderemos exigir um discurso perfeito, por muito dom da palavra que se tenha. Jorge Lopes, aquele que tem sido um dos homens que mais atletismo comentou em Portugal, apesar de experiente, cometia as suas gafes, umas mais compreensíveis que outras. Julgo que por motivos muito pessoais, segundo o que ouvi nos “bastidores” deste mundo, Jorge Lopes não pôde dar a sua voz a este Mundial e em sua substituição a RTP colocou um comentador que, infelizmente, não soube dignificar o momento. Tal como no caso da transmissão televisiva, quero acreditar que mais e melhor não foi feito ao nível dos comentários, por uma explicação plausível e justificável, apesar de gaffes tão inacreditáveis que custam a acreditar, principalmente numa pessoa que anda há alguns anos no meio do atletismo. Talvez o problema seja o facto de apenas uma pessoa comentar, porque tudo é mais simples quando duas vozes comentam um evento destes (talvez a RTP esteja habituada a Jorge Lopes, que faz muito bem o papel de dois). Mas não perceber que a prova que está a decorrer é a de Seniores femininos, não identificando na perfeição quais os atletas portugueses, não referenciando a sua classificação em pontos intermédios, trocar as nacionalidades de atletas bem conhecidos e desconhecer, quase na totalidade, os atletas vencedores, parecem-me erros a mais (e julgo que é uma opinião generalizada).

Estes Mundiais de Corta-Mato ficaram, em Portugal, marcados por uma má transmissão que a RTP pagou e que não terá tido o verdadeiro retorno de tal investimento. À falta de Jorge Lopes, a RTP terá de ponderar muito bem na próxima transmissão de atletismo que fizer, porque sendo ela muito importante para os amantes de atletismo e de desporto em Portugal, ela deverá ter a qualidade que a modalidade merece. Se um comentador só não consegue dar vazão a tanta informação que poderá consultar para completar um comentário, que se aposte numa boa dupla de comentadores, que conheça a modalidade e saiba dar emoção a uma prova de grande nível. E provas como o Campeonato Europeu das Nações ou o Mundial de Ar Livre são já dentro de meses…

Por: Edgar Barreira

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