Inauguração da pista de atletismo de Estarreja |
Quarta, 11 Fevereiro 2009 | |
Começo esta secção de “Reflexões” com um caso que se passou em Estarreja já que tive a oportunidade de estar presente nessa cidade no dia do 24º Grande Prémio de Estarreja. Aproveitaram o dia para inaugurarem “oficialmente” a Pista de Atletismo de Estarreja situada no Parque Municipal da cidade, junto ao Rio Antuã. Porque das coisas que mais me repugna é a injustiça, e essa é uma realidade bastante presente no atletismo português. Oportunismo político - A cerimónia de inauguração decorreu com a presença de altas figuras da nossa Federação e de alguns “cometas” da região. E são “cometas” porque só são lembradas nos pequenos instantes que passam pelas vidas dos estarrejenses, desaparecendo logo de seguida e Estarreja teve que esperar cerca de 20 anos (!) para ter esta Pista com 6 corredores de 100m, duas caixas de areia e espaço para colchões que deverão chegar quando o oportunismo político falar mais alto. É que em eleições sob maioria absoluta, os grupos concentrados prevalecem sobre interesses dispersos pelo que, estando certo que existem esses grupos fortes, não haja dúvida que os colchões chegarão perto das próximas eleições. Até porque tal pista é irrelevante para a maioria dos estarrejenses… Mas como referi, existem grupos fortes interessados nesta Pista. E são todos aquelas “suas excelências” que a utilizam para as necessidades dos seus cães (as caixas de areia são locais de especial interesse canil), para patinagem e para namorados passearem em cima dum romântico e fofo tartan azul já que o gradeamento actual é ineficiente… Ah, quase que me esquecia dos praticantes de atletismo! Essa pequena minoria que são os atletas, não só de Estarreja, como também de outros concelhos e distritos. Com uma pista de tão fácil acesso, Estarreja pode tornar-se num pólo dinamizador do atletismo regional mas não enquanto os atletas saltarem para uma espécie de arroz de cabidela, usando uma analogia para a mistura de areia com os “presentes” dos cãezinhos. Durante a cerimónia de inauguração, os tais “cometas” da zona apelaram ao civismo das pessoas, referindo que a pista foi construída só para o atletismo. Se isso fosse verdade, a pista já teria sido vedada decentemente e só lá entravam os atletas devidamente identificados. Só que aí alguns votos poderiam voar para outros partidos… Homenagem – Foi prestada uma homenagem a Elói Almeida, ex-treinador de atletismo estarrejense e o primeiro grande dinamizador da nossa modalidade em Estarreja que viu o seu nome ser vinculado à nova Pista. Tive a curiosidade de pesquisar mais sobre esta personalidade na internet já que foi agraciado de inúmeros elogios, até do Dr. Fernando Mota e acabei por encontrar o que queria - as ligações políticas. Foi uma boa estratégia, um pouco arrojada, do actual presidente da Câmara Municipal de Estarreja ao escolher alguém apoiante do candidato rival nas próximas eleições municipais. Estou certo de que não foi só por este motivo que a Câmara Municipal distinguiu Elói Almeida dado que o seu passado enquanto treinador é de se lhe tirar o chapéu. Foi este senhor que formou atletas como Cristina Morujão e Glória Marques. Mas uma questão coloca-se: Porquê não baptizar a pista de “Cristina Morujão”? A atleta foi 27 vezes campeã nacional, 34 vezes campeã de Portugal e internacional por 50 vezes, participou em 6 Taças da Europa e em 2 Campeonatos do Mundo e deteve o record nacional de triplo salto por mais de 10 anos. Eu apoiaria mais esta opção porque acredito que, mesmo o melhor treinador do mundo não consegue fazer de uma pessoa normal um atleta genial, assim como o melhor professor do mundo não consegue fazer os seus alunos tirarem todos 20… Há características que só algumas pessoas possuem e Cristina Morujão tinha de as ter para chegar onde chegou. Só percebemos a “fora de série” que a atleta era quando olhamos para o seu record nacional de pista coberta de iniciados: 5,61m! Praticamente, sem quaisquer condições de treino… Antes de Naide Gomes, Cristina Morujão marcou a sua geração pelo que seria pacífico escolherem-na para o nome da Pista de Estarreja. Além disso, pude ver em blogues locais que a população apoiava mais esta alternativa… Heróis silenciosos – O passado serve para nós aprendermos. Com efeito, é costume dizer-se que os erros do passado não serão cometidos novamente mas quem tenha assistido à cerimónia, ficou com a ideia de que não há presente e de que só há pista por causa do passado. O passado foi elogiado de tal forma que se esqueceu do presente. E são as acções do presente que nos conduzem para um futuro com mais ou menor brilho. O momento presente… esse sim! É o mais importante! E as figuras responsáveis pelo atletismo na região passaram despercebidas. Eulálio Tavares (actual treinador do Centro Recreativo de Estarreja) e Joaquim Cruz (treinador de Fermelã) são exemplos destes heróis silenciosos que temos em enorme quantidade por este país fora. São treinadores que não são famosos, os seus nomes não aparecem nos jornais mas que, dia após dia, trabalham no duro. Além de terem vidas profissionais, sacrificam-se pelos seus atletas, tratando-os como filhos e irmãos. Não procuram ser o centro das atenções e tudo o que tentam fazer é fazer as coisas certas. A única satisfação que eles obtêm, muitas vezes, é a certeza de que contribuíram para torná-los melhores homens e mulheres ou que os ajudaram a alcançar os objectivos que à partida eram quase impossíveis. Escrevo este parágrafo em honra destes heróis e ter a certeza que não são esquecidos, como o foram durante a cerimónia de inauguração da Pista! Nem uma palavra sobre Eulálio Tavares que várias vezes vai à rádio local pedir condições para atletas que representaram Portugal há bem pouco tempo. E que além, de treinador, é motorista, roupeiro e até um “pai” de alguns jovens com bastantes dificuldades, comprando-lhes vitaminas e proporcionando-lhes oportunidades extra-atletismo. E foi completamente esquecido (!) e nem o homem que foi seu treinador há mais de vinte anos, Elói Almeida, repartiu alguns louros com ele… Numa entrevista à cm-estarreja.pt, Elói Almeida, dá a entender que só graças ao seu esforço é que a pista nasceu. “Esta é uma grande alegria para mim que lutei muito tempo por este espaço e ele, por fim, sempre apareceu” referiu. Eu não podia aceitar esta injustiça com alguém, neste caso o Eulálio Tavares, que dá a pele pelos seus atletas e que luta todos os dias para que eles possam ter melhores condições, e este foi o motivo da primeira de muitas reflexões… |
< anterior |
---|
Salto em comprimento e triplo salto? É provável que sim porque a caixa de saltos já lá está e de lá já não sai, a menos que roubem a areia para usar na construção civil.
Salto em altura e salto com vara? Pouco provável até porque foi arranjado um colchão e uma fasquia para as fotos da inauguração e entretanto o mesmo colchão voltou a desaparecer de circulação.
Lançamento do Peso? Não!
60 metros? Sim, mas convém que as provas sejam destinadas a atletas medianos que não façam menos de 8,60s porque o espaço de desacelaração é exiguo e se os atletas forem de alta competição correm o risco de terminar a prova no rio em frente. Esta é uma das particularidades desta pista inaugurada de fresco, que é, o atleta iniciar a sua prova e antes de atingir a velocidade máxima deverá ter que começar a desacelerar antes da meta porque a seguir aos 60 metros já só tem mais 27 para parar.
É óbvio que poderão vir os responsáveis afirmar que a pista serve apenas para prestar apoio aos atletas como local de treino e não para competições mas então pergunta-se: que é feito do apetrechamento da pista para a malta poder então treinar convenientemente? Já aqui se falou dos colchões para saltos verticais que misteriosamente só se dignaram a aparecer no recinto para o dia da inaguração. As barreiras é preciso levá-las de casa porque não existem e o mesmo quase se passa com os blocos de partida que foram adquiridos pelo executivo e que até são disponibilizados pela recepção da piscina que se situa em frente, mas que nas ultimas semanas passaram tempos infinitos guardados em cativeiro por motivos de intensos processos burocráticos relacionados com inventário de material e afins. E são só 2 blocos de partida. Imaginem agora o que será preciso se um dia for necessário requisitar meia duzia de barreiras? (se elas chegarem a ser adquiridas, claro) São os complicados processos burocráticos do atletismo em acção mais uma vez. Dizem eles que é para preservar e controlar o material só emprestando aos agentes do atletismo mas também não estou a ver um praticante de skate a ir pedir emprestados uns blocos de partida até porque se calhar ele nem sabe como é que aquilo se usa.
Para finalizar outra questão que nunca ninguém esclareceu convenientemente: a pista foi feita para serviço e uso de que tipo de atletas?
1-todos os atletas interessados mesmo que não pertençam ao concelho de Estarreja?
2-atletas apenas e só do concelho de Estarreja?
3-atletas apenas e só que residam na cidade de Estarreja?
4-ou atletas apenas e só que morem a 100 metros da pista de Estarreja?
Supostamente foi feita para uso da população atlética interessada mas no inicio houve muita confusão por causa de quem podia ou não usar a pista, parecia que não cabiam lá todos, o que demonstra a nossa pequenez e criancice quase como quando éramos crianças em que na hora de usar um brinquedo novo não permitiamos que o bebé do lado mexesse no nosso brinquedo. O que é certo é que a pista está lá, os velocistas já podem treinar uns arranques mais a sério até à zona dos 60 metros, os que fazem salto em altura ou preferem o salto com vara têm que ir procurar noutro lado e os que não gostam de apanhar chuva convém que fiquem em casa porque nem uma cobertura com uns míseros 20 ou 30 m2 foram capazes de construir. E assim está inaugurada mais uma pista de atletismo em Portugal para figurar no mapa de distribuição de pistas nacionais, esperando todos nós que somos de Estarreja que a mesma não sirva como objecto de troça e escárnio quando se começar a saber que Estarreja tem uma pista de atletismo com 87 metros de comprimento, sem colchões para treino de saltos e cuja solicitação dos blocos de partida obedece a rigorosos critérios de selecção natural dos interessados.
Um grande abraço ao autor deste texto pela capacidade acutilante de colocar o dedo na ferida e não ser mais um a aplaudir o bovinismo que costuma marcar estas grandes ocasiões inaugurativas.