«Hoje não há hipótese de coabitarmos com o desperdício».
O Atleta-Digital foi falar com Daniel Pereira, o atual presidente da Juventude Vidigalense que quer continuar sucesso do clube no plano nacional e internacional.
Não é de hoje a capacidade de reinvenção da Juventude Vidigalense. Em dezembro de 2011 quando a equipa do Atleta-Digital foi falar com Paulo Reis, que continua no clube como técnico principal, hoje também vice-presidente do clube, falava de problemas semelhantes: ” A grande dificuldade é na captação de apoios económicos que viabilizem a existência do clube”. À época o cenário era igualmente negro, com a dificuldade extra de acesso às infra-estruturas. Praticamente dois anos passados, chegámos à fala com aquele que é o novo presidente do clube, desde janeiro deste ano. Com 41 anos, Daniel Pereira é professor de inglês e já com uma carreira política e de associativismo que faz de si o ativista que o clube estaria a precisar.
O CLUBE QUE FUNCIONA QUASE COMO UMA EMPRESA...EM BUSCA DOS APOIOS DE EMPRESAS
O ponto de vista da Juventude Vidigalense é cada vez mais empresarial, não do ponto de vista do lucro para os acionista, mas do ponto de vista do trabalho que desenvolve para cativar os investimentos que deixaram de ser públicos, para serem privados. E isso levou-nos à pergunta do porquê do cidadão Daniel Pereira ter decidido candidatar-se à presidência do clube, o que passados dez meses não lhe permite que deixe de sentir o seu discurso atual: ” O meu discurso de tomada de posse continua atual. Os clubes têm de fazer um esforço com o sentido de se rentabilizarem”.
Atleta-Digital: Porque é que decidiu ser presidente da Juv. Vidigalense?
Daniel Pereira: “Eu estive como presidente da Assembleia-Geral há cerca de 6 ou 7 anos. Conheço o associativismo bastante bem e sempre foi algo que sempre me interessou. Fui músico dez anos [Daniel Pereira tocou trompete]. A minha história no associativismo vem desde os 14 anos. Depois vim a casar com uma ex-atleta da JV [Tatiana Fernandes]. Acabou por ser um processo natural porque há aqui uma comunhão muito grande entre as pessoas do clube. Do ponto de vista de presidência da Direção, começou numa altura que era importante no clube, estamos em mudança de paradigma, na medida que há uma contração dos apoios que o clube estava a receber.”
E a este nível reina alguma paz entre o clube e a Federação Portuguesa de Atletismo, que recentemente se fez representar com o seu presidente, Jorge Vieira, na apresentação da Taça dos Clubes Campeões Europeus de Juniores, que entretanto já ocorreu. Nem tão pouco se mistura na discussão travada entre as associações distritais e o órgão federativo, dado que do ponto de vista de Daniel Pereira ” temos de ter o bom senso de perceber que as nossas dificuldades são também as dificuldades dos outros”. E por isso o presidente do clube de Leiria explicou melhor o que quer dizer deste novo paradigma...
Daniel Pereira: ”Face ao facto de estarmos perante um paradigma diferente, tem de haver uma redifinição de estratégias e na metodologia de trabalho. Temos de ir à procura de outros ingredientes para fazer o mesmo prato. Não sendo os mesmos meios no financiamento público e com o setor privado a viver dias dificeis, temos de redesenhar as metodologias de trabalho no sentido de capitalizar recursos que são fundamentais para atingirmos resultados. Fazer tanto ou melhor com menos e além de fazer com menos, fazer de maneira diferente. O presidente da FPA vê na JV uma referência a esse nível”.
E para esta nova forma de ver o clube, Daniel Pereira focou duas novas apostas (secção de trail e associados), que estarão a funcionar bem, do seu ponto de vista pessoal, para o qual muito contribui a ajuda dos seis funcionários a tempo inteiro, para gerir estas e outras atividades.
Daniel Pereira: ” Com esta Direção adotou-se a secção de trail. Temos várias dezenas de atletas de trail no clube. O Christmas trail e o Sunset trail foram organizados por este clube. Estamos atentos a outras manifestações desportivas com afinidades com o atletismo. É mais uma manifestação de organização de eventos desportivos que até há pouco tempo não havia no clube. “
Já quando se refere à base social, fala dos sócios da Juventude Vidigalense, que poderão aumentar em número, com a nova estratégia assumida, utilizando parcerias privadas que possam trazer benefícios aos sócios: ” Isso é fundamental para ter mais gente no estádio, mais gente para acompanhar as equipas, a prazo até ao nível do financiamento, o que não significa agravarmos substancialmente a quota anual de 10 euros”.
Atleta-Digital: Como será o orçamento do clube para esta nova época?
Daniel Pereira:” O orçamento do clube será idêntico ao do ano passado, em termos globais. Significa que encaramos a próxima época com otimismo mas não com a garantia que tudo correrá pelo melhor. Será um ano de muito trabalho para manter o clube dentro dos níveis habituais. Vai implicar mais trabalho, por parte de mais gente, na procura de parcerias com o setor público e privado, na procura de soluções que satisfaçam o clube e quem nos apoia.”
AS INFRA-ESTRUTURAS QUE SÃO FUNDAMENTAIS NA ORGANIZAÇÃO DOS GRANDES EVENTOS DO CLUBE
Mais longe parecem as nuvens que pairavam sobre um eventual processo de venda do Estádio Dr. Magalhães Pessoa, para além do uso do Centro Nacional de Lançamentos, para treino e competição. Sobre este último caso ”foi feito um contrato-programa com a Câmara Municipal de Leiria. A propriedade do equipamento continua a ser municipal, a gestão passou a ser nossa. Estamos muito satisfeitos, tem sido um desafio”, indicou Daniel Pereira, que aproveitou para anunciar a candidatura [entretanto aceite] à organização da Taça da Europa de Lançamentos.
Atleta-Digital: Como está o processo de utilização do Estádio Dr. Magalhães Pessoa pela Juventude Vidigalense?
Daniel Pereira:” É nosso intuito, até pela prática diária que fazemos no Estádio, que ele continue aberto aos clubes e à comunidade em geral. Nós não equacionamos outro cenário que não este. O Centro Nacional de Lançamentos, por si só, não é solução para todas as nossas necessidades. O equipamento ao nivel do atletismo é o melhor do país e só isso justifica o facto da Associação Europeia de Atletismo ter confiado pelo terceiro ano consecutivo a TCCE Juniores. Estamos na presença de um equipamento muito bom, é algo que não me canso de dizer aos treinadores, atletas e colegas dirigentes porque às vezes mais do que pensar do que poderiamos ter é valorizar aquilo que temos, porque aquilo que temos é extraordinário. Não é algo que muitos clubes do Mundo se possam orgulhar de ter. O nosso relacionamento com a Câmara tem sido muito positivo, porque da parte da autarquia há uma sensibilidade e um reconhecimento do mérito ao próprio clube. “

E é do ponto de vista de Daniel Pereira muito importante que as infra-estruturas em todo o distrito continuem a ”produzir grandes atletas”, realçando também a pista coberta existente no município de Pombal, onde decorrerão em 2014 as principais provas nacionais. ” O trabalho que fazemos também contribuiu para que Leiria seja uma potência no plano nacional, não só no plano das infra-estruturas, como também no plano desportivo. Não se pode dissociar uma coisa da outra: sem infra-estruturas não conseguiriamos atingir estes resultados”, concluiu, alargando a capacidade de desenvolver trabalho também a outros clubes distritais, que em 2013 levaram a seleção de Leiria à vitória no Olímpico Jovem.
Atleta-Digital: Nunca pensaram na realização do Meeting de Leiria de nível internacional?
Daniel Pereira:” Tanto já pensámos que a próxima edição do meeting é Meeting Internacional de Leiria. Mas também de ter noção que muitas vezes fazer muito pode significar não conseguir fazer bem. Tem de haver um critério muito grande na escolha daquilo que queremos fazer. Queremos continuar a afirmar o clube enquanto organizador de grandes eventos, vamos fazê-lo no próximo ano, o meeting é importante porque em termos nacionais são cada vez menos os meetings que se realizam. Com o sentido de lhe darmos uma dimensão maior é importante que em termos geográficos consigamos estender fronteiras”.
JUVENTUDE VIDIGALENSE É O TERCEIRO GRANDE NOS RESULTADOS, O MAIOR NO NÚMERO DE ATLETAS
Há dois anos, em entrevista, perguntámos o mesmo que desta vez a Daniel Pereira. Seria a Juventude Vidigalense o terceiro grande em Portugal? ” Penso também que podemos passar esta crise com menos preocupações e que nos podemos afirmar como a terceira ou a quarta maior equipa. Acho que há quatro ou cinco equipas que estão muito equilibradas e a médio prazo umas vão-se afirmar, outras desaparecer, e nós esperamos essa afirmação”, afirmava à altura Paulo Reis. O tempo veio-lhe a dar razão, depois de na última época o clube ter alcançado 13 dos 14 pódios nacionais, entre os escalões juvenis a séniores. Fizemos a mesma questão a Daniel Pereira...
Daniel Pereira: ” Sim é um objetivo, e já o somos. Em termos de número de atletas não somos o terceiro clube, somos mesmo o primeiro. E também queremos isso, porque muitas vezes o que pode suceder é que perante as dificuldades e em limite poderiamos deixar de ser um clube para ser uma equipa. E isso para mim está fora de questão. Este reconhecimento está sobretudo sustentado no trabalho social que o clube faz. 300 atletas são muitas famílias, 300 atletas hoje são 300 atletas que ficam, como amigos, o clube tem uma raíz comunitária muito forte e isso é a identidade do clube. Isto obriga um trabalho acrescido e ter uma máquina administrativa muito maior do que se só apostássemos nos séniores”.
E sobre este assunto fomos ainda falar com Paulo Reis, vice-presidente do clube, mas com as responsabilidades técnicas do clube, num papel muito bem definido dentro do clube: ”O Paulo é o principal responsável dentro do Estádio, eu sou o principal responsável fora do Estádio, nos contactos externos”.
Paulo Reis: ”Vamos ter de fazer alguns ajustamentos na equipa, queremos ter na mesma uma equipa competitiva a lutar pelo pódio. Vamos ter uma ou outra saida e uma ou outra entrada. Julgo que as entradas serão em menor número do que as saídas. Queremos cada vez uma equipa formada aqui em Leiria, com alguns atletas de fora que sejam verdadeiras mais valias.“
Edgar Barreira
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