Usain Bolt voltou a ser destaque em Moscovo.
O dia voltou a correr bem à comitiva russa, que ultrapassou os Estados Unidos da América na tabela de medalhas, em dia de estádio cheio em Moscovo.
Estes Mundiais de atletismo mostram que a uma disputa diplomática por Snowden, as equipas dos Estados Unidos da América e da Rússia seguem de forma muito sentida a disputa competitiva. Não são Mundiais de regime, mas podem parecer facilmente que o são e o último dia de Mundiais promete luta muito forte pelas restantes seis finais. A responsabilidade é da superação russa e o cenário só não ficou mais desnivelado para os EUA que tiveram uma vitória, única no dia de hoje, nos 100 metros barreiras, contra as vitórias russas nos 4x400 metros e salto em altura.
A estafeta de 4x400 metros pode ter sido a chave para a Rússia abrir um cofre histórico e um precedente raro na história que tem em Mundiais, com o território atual. Não era de esperar tal poderio russo, depois de a equipa só ter apresentado duas atletas na prova de 400 metros planos, ambas finalistas: Kseniya Ryzhova e Antonina Krivoshapka. E seriam estas duas últimas atletas a chave do sucesso da Rússia na final dos 4x400 metros. Na passagem de testemunho entre ambas, nos terceiro e quarto percursos, valeu-lhes a troca no posicionamento da transmissão, que obrigou a norte-americana Ashley Spencer a recuar e ultrapassar pela direita a russa, depois de Ryzhova já ter ganho a corda. Com Krivoshapka a partir na dianteira, restou-lhe aguentar a pressão de Francena Mccorory até final, que levou ao melhor registo mundial do ano da equipa russa, com 3.20,19 minutos, beneficiando também da ausência de Allyson Felix na estafeta norte-americana, por lesão. A vitória tem importância, já que desde 2005 que a Rússia não trazia o ouro nesta prova.
A outra medalha russa poderia até nem ter acontecido, depois de no salto em altura uma das favoritas ter vacilado a 2 metros. Anna Chicherova, campeã em Daegu, há dois anos, acabaria igualada pela espanhola Ruth Beitia, depois de ambas terem falhado só a 2 metros. A luta era novamente entre Estados Unidos da América e Rússia e aqui valeu o brilhantismo de Svetlana Shkolina, atleta que tinha sido 5ª classificada em Daegu e 6ª classificada em Berlim. Os 2.03 metros que alcançou, até aqui só tinha falhado uma vez a 1.93 metros, foram realizados à primeira, altura a que falhou Brigetta Barrett (EUA), contentando-se com a marca válida de 2 metros.
Face a isto restava aos Estados Unidos da América tentar brilhar noutra especialidade e o Ouro acabaria por acontecer nos 100 metros barreiras, prova improvável de ver Brianna Rollins chegar ao primeiro lugar, com 12,44 segundos, ultrapassando a campeã em título, a australiana Sally Pearson, nos metros finais. Mas aqui os EUA tinham três atletas presentes, contra uma atleta russa, que não passaria do último lugar desta final. A Grã-Bretanha fechou este pódio com Tiffany Porter a correr no seu recorde pessoal, com 12,55 segundos.
USAIN BOLT A CAMINHO DE SER O MAIS MEDALHADO DE SEMPRE…
Michael Johnson, que está presente em Moscovo, já viu Usain Bolt a ultrapassá-lo ao nível do número de medalhas alcançadas, depois de hoje o jamaicano sair campeão mundial nos 200 metros. Mas mais importante que isto, Usain Bolt é já o atleta que mais medalhas de Ouro tem no seu currículo, ultrapassando tanto Johnson, como Carl Lewis, com a nona medalha de Ouro. Não é possível desmentir o sucesso deste atleta que hoje teve uma vida muito descansada nos 200 metros. Ao contrário do que aconteceu na prova feminina, onde a relação entre EUA e Jamaica era de 3 para 1, desta vez ocorreu o inverso, com um só atleta apurado para esta final, Curtis Mitchell. E este acabaria mesmo por ser o terceiro classificado, com 20,04 segundos, fugindo a um dos jamaicanos, Nickel Ashmade, que caiu ao cruzar a meta um centésimo depois e que decidiu nem fazer a festa com os seus dois colegas de equipa, que na pista estavam já a festejar com a bandeira jamaicana. Acabaria por ser um ato de amuo perante o brilhantismo de Usain Bolt, vencedor de Mundiais desde 2009, hoje 19,66 segundos, sem forçar, já a pensar na estafeta de amanhã. No segundo lugar ficaria o jovem Warren Weir, com o melhor registo pessoal da sua carreira, conseguido em 19,79 segundos, que se conformou com a sua primeira grande medalha.
Amanhã é dia de 4x100 metros, uma oportunidade para a Jamaica chegar a mais uma medalha de Ouro, podendo até ser uma prova vital para a disputa na tabela de medalhas entre Estados Unidos da América e Rússia. Caso a Jamaica triunfe amanhã nos 4x100 metros, dificulta a inversão na tabela de medalhas aos Estados Unidos da América.

RESTANTES VITÓRIAS EM MODO MULTINACIONAL
De resto não houve repetições de nações no Ouro do dia de hoje. A abrir a tarde decorreu a prova da Maratona junto ao rio Moscovo. Com fortes medidas de segurança e novamente quase sem público, excluídas as pontes da cidade, a prova disputou-se em grupos e no grupo da frente o ugandês Stephen Kiprotich acabou por ser o justo vencedor, face ao ritmo que impôs na frente. As 2:09.51 horas com que completou a distância, constitui a quarta melhor marca de sempre em Mundiais. Este foi, aliás, o segundo Ouro na história do Uganda em Mundiais, o primeiro na distância da Maratona. A equipa derrotada do dia seria o Quénia, que teve dois atletas desistentes, Nicholas Kipkemboi e Bernard Koech e um só atleta classificado, Peter Some (9º). Permitiu assim a aproximação da Etiópia ao quarto lugar, ainda que os dois restantes lugares do pódio obtidos pela Etiópia não sejam suficientes para que o desempate se faça a favor dos etíopes, que têm o mesmo número de medalhas de Ouro.
E esta realidade ocorre dado que hoje Meseret Defar (Etiópia) chegou ao Ouro na distância dos 5000 metros. O tempo de 14.50,19 minutos obtido por Defar levaram-na a mais uma grande medalha internacional, ela que já tinha chegado ao Ouro em 2007, quando a prova passou por Osaka. Desde aí alcançou medalha de Bronze em Berlim 2009 e em Daegu 2011. Se já era a isolada medalhista nesta distância, Defar sair de Moscovo com essa liderança reforçada, alcançando também o mesmo número de finais da histórica Gabriela Szabo, com cinco no total. O resultado final de hoje também permitiu à Etiópia destacar-se na tabela de pontos de sempre, na distância, depois de hoje sair com 1º, 3º e 5º lugares, alternados com 2º e 4º lugares do Quénia. Os Estados Unidos da América conseguiriam aqui os 6º e 7º lugares, numa final monopolizada por poucos países.
Por fim o lançamento do dardo, disputado na vertente masculina, um dia antes da prova feminina se realizar. Esta prova trazia, por um lado, o regresso em grande nível do finlandês Tero Pitkamaki e por outro o decréscimo na prestação do norueguês Andreas Thorkildsen, campeões de 2007 e 2009, respetivamente. Mas o favorito não deixava de ser o checo Vítezslav Veselý, que hoje teve de se aplicar e lançar o dardo bem longe, para 87.17 metros. Pitkamaki acompanharia-o de perto, respondendo ao terceiro ensaio a dez centímetros do Ouro, marca que nunca mais viria a conseguir ultrapassar. E a história poderia ter trazido a primeira medalha em Mundiais, em disciplinas técnicas, para o Quénia. Julius Yego lançou hoje 85.40 metros, um novo recorde queniano e que o colocou provisoriamente na terceira posição. Mas o russo Dmitri Tarabin acabaria por lhe tirar o “pão da boca”, depois de um concurso muito irregular, concluindo o sexto ensaio em 86.23 metros, para delícia do público e desalento do queniano.
CAMPEÕES (dia 8):
200 m Masc. – Usain Bolt (Jamaica) – 19,66
Maratona Masc. – Stephen Kiprotich (Uganda) – 2:09.51
Lançamento do Dardo Masc. – Vitezslav Veselý (Rep. Checa) – 87.17
100 m Barr. Fem. – Brianna Rollins (EUA) – 12,44
5000 m Fem. – Meseret Defar (Etiópia) – 14.50,19
Salto em Altura Fem. – Svetlana Shkolina (Rússia) – 2.03
4x400 m Fem. – Rússia – 3.20,19





Enviados Especiais: Edgar Barreira (texto) e Filipe Oliveira (fotos)
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