Quarto dia foi dominado pela presença de Isinbayeva.
Com seis campeões mundiais definidos, metade deles terá sido quase esquecido, tamanho o astro que ‘caiu’ com o Ouro ao peito.
Um Mundial de Atletismo é sempre feito de ídolos e se há dois dias foi Usain Bolt a ser o ídolo mais aclamado, originando um estádio com 40 mil espectadores hoje, sem números ainda oficiais, por certo que a audiência aumentou, não só no número de espectadores, como muito provavelmente no número de tele-espectadores. Elena Isinbayeva foi o símbolo de promoção destes Mundiais e o seu papel foi cumprido no salto com vara.
O motivo de o Estádio Olímpico ter a maior enchente destes Mundiais estava bem identificado: Elena Isinbayeva. O primeiro grande ‘bruá’ do estádio aconteceu com o primeiro salto válido de Isinbayeva, depois de ter falhado a primeira tentativa a 4.65 metros. Mantendo a calma, Isinbaeva foi superando altura após altura, com 4.75 metros à primeira tentativa, 4.82 metros à segunda tentativa e 4.89 metros à primeira tentativa, altura que nenhuma outra adversária conseguiu ultrapassar, nomeadamente as que tentaram, a norte-americana Jennifer Suhr (Prata) e a cubana Yarisley Silva (Bronze). A euforia tomou conta de Isinbayeva que correu em direção ao seu treinador, quebrando todas as barreiras de segurança. E quando tudo fazia prever o fim do concurso, a fasquia acabaria por subir aos 5.07 metros, altura de recorde do Mundo. Inclusivamente as restantes atletas do pódio entraram pista dentro já com as bandeiras, entretanto arrumadas para dar seguimento ao concurso. A russa beneficiou de vários minutos de espera, intercalada por pódios e apresentações de partida de outras provas, outras provas que acabaram hoje “apagadas” para a maioria do público presente, tal o interesse em Isinbayeva. Para a russa significou a sua quarta medalha em Mundiais, a terceira de Ouro, igualando a sua congénere Svetlana Feofanova no número de medalhas em Mundiais, depois do último Ouro em 2007. Para os russos significou o regresso da sua “raínha” do atletismo, o motivo pelo qual se deslocaram de forma tão efusiva ao Estádio de Luzhniki e uma aposta ganha por quem promoveu a imagem deste Mundial no estrangeiro. Não deixa de ser desporto ver Cuba e Estados Unidos da América a desfraldar bandeiras lado a lado, com a Rússia a fugir na frente por intermédio de Isinbayeva, no que se refere à volta de honra, sem questões políticas. Comovida, o microfone foi todo seu na hora de dedicar a vitória ao público, apesar de já só estar metade do estádio presente para a ouvir.
A final dos 3000 metros obstáculos femininos acabou por não ser das mais rápidas da história e uma das mais esquecidas pelo público, numa distância que se disputa somente desde 2005. Pela terceira edição consecutiva estava presente na final a queniana Milcah Chemos e cabia ao Quénia ir até ao topo do historial por pontos, que estava na mão da Rússia, que hoje tinha apenas uma atleta em prova, contra três unidades do Quénia. E como era de esperar a luta deu-se entre Quénia e Etiópia, cujas três primeiras atletas de cada equipa ocuparam as seis primeiras posições. A primeira foi mesmo para Milcah Chemos, com 9.11,65 minutos, o melhor registo mundial deste ano. A queniana Lidya Chepkurui seguiu Chemos e chegou ao segundo lugar, com a etíope Sofia Assefa no terceiro lugar. Apesar do domínio que Chemos tem imposto, este é o seu primeiro Ouro em Mundiais, depois de dois Bronzes consecutivos.
Mais cedo no programa-horário, ao segundo dia de provas o Heptatlo trouxe aquilo que já se vinha adivinhando desde ontem, grandes resultados pessoais. Com as ausências de algumas daquelas que têm feito história na especialidade, tudo ficaria mais em aberto e quem aproveitou este Mundial mais facilitado foi a ucraniana Ganna Melnichenko, que já este ano se tinha destacado na pista coberta, com a medalha de bronze. Os 6586 pontos foram o resultado final da atleta, que sentiu uma aproximação nos 800 metros das suas adversárias, mas nada que comprometesse o seu sucesso. Este foi o recorde pessoal da atleta, tal como o de outras oito atletas, de onde ainda caíram os recordes nacionais checo (Eliska Klucinová) e holandês (Dafne Schippers).
Num regresso ao início da jornada, a prova de 20 quilómetros marcha disputou-se durante a manhã. E a prova nem começou rápida, com as atletas a anteverem as dificuldades finais, apesar de cedo duas marchadoras se terem destacado: a italiana Elisa Rigaudo e a checa Anezka Drahotová. A tentativa de surpresa acabaria por nunca ter tido grande espaço para vingar, porque atrás a portuguesa Inês Henriques impunha o seu ritmo no grupo perseguidor. Daí para a frente as russas traçaram o destino dos restantes quilómetros, gerando-se três grupos distintos, com as russas a juntarem-se às fugitivas iniciais e com as portuguesas no terceiro grupo, excepto Vera Santos, que cedo ficou descolada das principais atletas. A vencedora seria mesmo aquela que chegou a Moscovo com o rótulo de campeã olímpica. Elena Lashmanova arrecadou o Ouro que ajuda a Rússia a subir na classificação final, com o tempo de 1:27.08 hora.
LASHAWN MERRITT VENCEU UMA FINAL QUE PARECEU SER DE PASSEIO
Depois das rondas anteriores dos 400 metros, era de esperar uma grande prestação dos atletas norte-americanos, talvez não se esperasse é que LaShawn Merritt estivesse presente para deixar uma margem descomunal para os seus adversários. O atleta correu muito solto e muito rápido e isso valeu-lhe a chegada com a liderança mundial do ano, com o tempo de 43,74 segundos, depois de uma saída muito cautelosa dos blocos. O segundo classificado seria outro norte-americano, Tony Mcquay, com 44,40 segundos e no terceiro lugar classificar-se-ia o dominicano Luguelín Santos (44,52), atleta já treinado anteriormente pelo português Fausto Ribeiro. Depois dos segundos lugares de 2007 e 2011 e o Ouro de 2009, LaShawn Merritt iguala o histórico Michael Johnson no número de medalhas alcançadas nesta disciplina em Mundiais.
Robert Harting chegou à sua terceira vitória consecutiva e a sua quarta medalha em Mundiais de atletismo na disciplina de lançamento do disco. O atleta chegou aos 69.11 metros com que ganhou ao quarto ensaio, numa altura em que já liderava o concurso. Assim, o polaco Piotr Malachowski, teria de se contentar com o segundo lugar, depois de ficar como melhor com o registo de 68.36 metros. Harting voltou a rasgar o seu equipamento, tal como o faz nas suas grandes vitórias, Malachowski recebeu das mãos de Tomasz Majewski a bandeira polaca para dar a volta à pista. O histórico Gerd Kanter preencheria o terceiro lugar, com 65.19 metros, repetindo-se, assim, na perfeição o pódio de Berlim 2009. Kanter ascendeu a segundo mais medalhado de sempre na disciplina, numa final onde faltou Virgilijus Alekna, o histórico lançador de disco, que nestes Mundiais cumpriu a 10ª participação.
Corrida num ritmo frenético, o vencedor da final de hoje dos 800 metros obteve a terceira vitória mais rápida de sempre em Mundiais, com 1.43,41 minuto. E este resultado foi conseguido à custa de um ritmo final muito forte, com o etíope Mohammed Aman a vir de trás para a frente para “roubar” o título ao norte-americano Nick Symmonds, que preparava-se para fazer história. Symmonds seria segundo classificado, com 1.43,55 minuto, depois de controlar a medalha de Prata que não chegou a ser disputada, de facto, por Ayanleh Souleiman.
AS CURIOSIDADES E O DOMÍNIO NORTE-AMERICANO
O dia ficou marcado por uma lesão comovente no salto em altura, que decorreu na sessão matinal, com o atleta Diego Ferrin. A sua qualificação para a final era provável e a lesão ocorreu na altura mais importante, arredando-o de uma final onde tinha ao alcance a maioria dos adversários. Nos 400 metros barreiras o azarado do dia foi o norte-americano Bershawn Jackson, que ao fim da primeira curva sentiu uma forte dor na coxa e acabou mesmo por cair e ser rapidamente encaminhado para o centro médico. Destaque ainda para a constituição da final dos 5000 metros masculinos, depois da qualificação de hoje. A Final será monopolizada por Etiópia, Quénia, EUA, todos com três atletas. Mo Farah voltou à pista para conseguir fácil qualificação para a final, onde terá a companhia do norueguês Sindre Buraas, o outro europeu qualificado. Todos os atletas espanhóis ficaram de fora da final.
Na tabela das medalhas, os Estados Unidos da América mantêm o primeiro lugar, com 4 Ouros, num total de dez medalhas, mas hoje a Rússia viu uma subida motivante ao segundo lugar, com 3 Ouros e já seis medalhas no total. Amanhã os 50 quilómetros marcha são favoráveis aos russos que jogam aqui uma importante cartada no contexto desportivo. Alemanha e Quénia ocupam o terceiro lugar para já.
CAMPEÕES (dia 4):
400 m Masc. – LaShawn Merritt (EUA) – 43,74
800 m Masc. – Mohammed Aman (Etiópia) – 1.43,31
Lançamento do disco Masc. – Robert Harting (Alemanha) – 69.11
3000 m Obstáculos Fem. – Milcah Chemos (Quénia) – 9.11,65
Salto com Vara Fem. – Elena Isinbayeva (Rússia) – 4.89
Heptatlo Fem. – Ganna Melnichenko (Ucrânia) – 6586
20 Km Marcha Fem. – Elena Lashmanova (Rússia) – 1:27.08






Enviados Especiais: Edgar Barreira (texto) e Filipe Oliveira (fotos)
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