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O descanso do guerreiro que virou decatlonista.
O checo Roman Sebrle finalizou a sua carreira aos 38 anos, depois de uma lesão prolongada. Ficou, assim, por alcançar a 50ª marca acima dos 8000 pontos no Decatlo...
Por certo que Roman Sebrle deixará saudades ao atletismo mundial, pelo carisma que transportava consigo ao longo das provas combinadas e na volta à pista que marca a prova do Decatlo. Começou no futebol enquanto desportista, até partir uma tíbia, que o obrigou a um ano de recuperação, incluindo o reaprender a andar. O seu primeiro Decatlo aconteceu em 1991, depois de ter apostado mais no atletismo, na altura com 5187 pontos, chegando mais tarde aos 7642 pontos, já depois da primeira mudança de treinador. Foi então altura de estar dois anos na recruta para as Forças Armadas Checas, onde encontrou um outro grupo de treino de decatlonistas que jamais deixaria.
O primeiro registo acima dos 8000 pontos aconteceria em 1996, ao atingir 8210 pontos numa prova realizada no seu país, na cidade de Praga. As medalhas começaram a acontecer a partir de 1997, chegando a 19 grandes medalhas internacionais no período entre 1997 e 2011. Nos Jogos Olímpicos foi campeão em 2004, depois de ter sido medalha de Prata em 2000. Mais tarde chegaria ao primeiro Ouro em Mundiais, em Osaka (2007), depois de duas edições consecutivas onde foi vice-campeão mundial ao ar livre. Em Europeus de Ar Livre Sebre chegou a dois Ouros, obtidos em 2002 (Munique) e em 2006 (Gotemburgo). Mas foi na pista coberta onde mais brilhou, na prova do Heptatlo, tirando partido do facto de correr 1000 metros em vez de 1500 metros e de não ter de lançar o disco, aquela que era uma das suas piores provas. Em Mundiais de pista coberta Sebrle alcançou um total de cinco medalhas, duas delas de Ouro e numa das vezes campeão mundial em Lisboa, quando a prova visitou Portugal, em 2001. Em Europeus de pista coberta o checo conquistou seis medalhas, três delas de Ouro, obtidas em 2002, 2005 e 2007, sendo vice-campeão mundial logo no seu primeiro Europeu de pista coberta, no ano de 2000. A sua grande primeira medalha internacional aconteceu nas Universíadas, quando em Catania, no ano de 1997, saiu de Ouro.
Este domínio de Sebrle não se deu somente nas medalhas e o atleta checo chegou aos recordes que qualquer atleta tenta durante a sua carreira. Em maio de 2001 o checo chegou ao recorde mundial da especialidade, com 9026 pontos, numa prova disputa em Gotzis (Áustria), marca que só um atleta (o norte-americano Ashton Eaton) até aos dias de hoje conseguiu ultrapassar. Hoje a marca é ainda recorde europeu. No ano de 2004 o decatlonista checo chegou ao recorde olímpico, depois de se sagrar campeão olímpico em Atenas, no mesmo ano em que já tinha chegado ao recorde europeu de pista coberta, no Heptatlo, com os 6438 pontos obtidos na cidade de Budapeste (Hungria), durante o Mundial de pista coberta.
O ano de 2007 ditaria o virar do sucesso da sua carreira multi-medalhada, altura em que já tinha 32 anos. No início desse ano teve um incidente grave, depois de ser atingido por um dardo lançado pela local Sunette Viljoen, enquanto treinava na África do Sul, recuperando ainda a tempo de ser campeão mundial nesse ano. Mas desde então a única medalha alcançada ocorreu em 2011, em Paris, onde foi terceiro classificado no Europeu de pista coberta, acabando por desistir nos últimos Jogos Olímpicos, no ano passado.
Para este ano Sebrle só tinha dois desejos: chegar à 50ª marca da sua carreira acima dos 8000 pontos e alcançar a nona presença em Mundiais de Ar Livre. Debatendo-se com lesões ao longo de toda a carreira, esta última, no calcanhar, foi fatal para a sua carreira. ”Eu não podia fazer mais nada, é impossível parar o envelhecimento. Sabia que tinha de dizer isto ao longo da temporada, mas não esperava que fosse tão difícil fazê-lo”, disse Sebre no momento de declarar o abandono. ”O que costumava levar um mês para recuperar, demoraria agora meio ano e eu não seria capaz de chegar ao mesmo nível em que eu estava antes”, completou Sebrle que olhou para a sua carreira de forma positiva: ”Consegui tudo o que queria e saio completamente satisfeito. Sei que dei tudo o que tinha”.
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