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A corrida às compras.
Hoje publicamos mais uma história do frio. Como definimos inicilamente esperamos que estas sejam histórias para se lerem à lareira enquanto se espera um familiar, histórias para se lerem de manhã ainda no quentinho da cama, histórias que gostaríamos que fossem de facto lidas seja lá qual for o propósito e a vontade.
A história desta semana traz a todos os leitores um hábito comum e geralmente realizado por todos, mesmo tendo em conta todas as restrições orçamentais que cada um terá, motivadas pelos tempos em que vivemos. Mesmo que as nossas compras não sejam diretamente prendas de Natal, a verdade é que este é um período de consumismo elevado. Independentemente da discussão sobre o consumismo, que é um tema pouco consensual, a verdade é que somos todos “agredidos” com publicidade e com apelos ao consumo, quer queiramos, quer não.
Tudo isto provoca uma desenfreada corrida às compras, logo a partir de novembro, quando os ornamentos natalícios invadem estabelecimentos comerciais. Não deixará de ser irónico que seja na última semana, antes do Natal, que os centros comerciais enchem e, mesmo que não queiramos trazer nada para casa, acabamos por ser limitados pelas compras dos outros.
Se compararmos um processo de treino com as compras podemos trazer as seguintes analogias.
Analogia 1 : Se o período de propaganda do Natal corresponder a uma Maratona, então os participantes optam por correr em negative-split, ou seja, mais rápido na segunda metade do percurso, que na primeira metade.
Analogia 2 : Se fizessemos um “plano de treino” para um lojista e considerássemos o pico de forma para dezembro, o que seriam os restantes picos de venda e de atividade (saldos, dia dos namorados, etc.) ao longo do ano? Poderiam considerar-se treino intervalado?
Analogia 3 : Tendo em conta que velocidade e resistência são duas capacidades que costumam ser inversamente proporcionais, como se deveria preparar fisicamente um lojista? Com processos de resistência para aguentar mais horas, ou com processos de velocidade, para serem mais rápidos durante um período curto de tempo?
Estas são meras analogias de quem pensa do ponto de vista dos processos de treino para vários aspetos da vida. Até na vida de uma empresa a forma de pensar de um treinador pode ser um bom caminho para o sucesso e um gestor (de tarefa, ou de projeto) deve muitas vezes pensar como um treinador. Apesar de pouco dignificados, ser treinador é, acima de tudo, saber aproveitar de um recurso todo o sumo que dele provenha, com planeamento de estratégias que levem o seu recurso o mais longe possível. Os recursos humanos de uma loja, por exemplo, não são diferentes, embora a vertente económica seja aquela que prevalece, com custos humanos que cada vez ficam mais evidentes...
Mas voltando ao Natal, este ano voltou a verificar-se um fenómeno extremamente interessante e que provavelmente passará ao lado de muitos. A Corrida Pela Vida, que se tem realizado sempre no fim-de-semana do Europeu de Corta-Mato, tem uma componente solidária para a qual todos os atletas presentes contribuem, ao participarem. Certos de que a boa ação está feita, muitos dos atletas presentes aproveitam para irem às compras nas lojas locais, muitos deles com as suas famílias, aproveitando um passeio agradável pelas Caldas da Raínha. A proximidade do evento às lojas, acaba por ser uma solução de vantagens mútuas. Ao lojista é acrescentado, por um dia, o ritmo do seu trabalho e para o atleta ocorre primeiro a corrida às compras e depois a corrida para a solidariedade.
O Natal ainda está para chegar e, como de costume, esperam-se semanas de grandes corridas às compras. Infelizmente também tendem a existir mais corridas aos alimentos do Banco Alimentar e mais corridas para os Centros de Emprego, uma realidade da qual nenhum de nós se deve alhear. Por isso, para quem faz do Natal um momento de consumo, será tempo de ir às compras, e para que não faz desse momento uma prioridade, passa a ser uma corrida para evitar a corrida dos outros quando realmente precisamos de ir fazer uma compra. No fundo no fundo, já andamos todos a correr e para o Natal ainda faltam 14 dias...
Releia : Histórias do frio : a corrida para a neve
Edgar Barreira
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