Portugal não se adaptou ao gelo e fez prestação modesta.
Este Europeu de Corta-Mato ficou marcado pelo percurso gelado e por várias quedas. Para Portugal significou mais uma queda nos rankings...
Na primeira vez que o Europeu de Corta-Mato passou em território húngaro, logo acabaria marcado por dois fatores que limitaram algumas prestações : os problemas no Aeroporto e o percurso transformado numa “pista de gelo”. Algumas seleções acabariam por chegar apenas no sábado, como a seleção portuguesa, que chegou ao meio-dia de sábado. Como Sara Moreira retratou, alguns atletas acabaram por tomar a decisão de não ver o percurso, preferindo o descanso de uma viagem que foi feita parcialmente por autocarro. A neve que caiu durante a semana não acabou derretida, antes sim acabaria transformada em gelo e o percurso acabaria por ser uma autência pista de gelo que originou um interessante depoimento de um dos atletas, Hayle Ibrahimov : ”isto não é crosse, isto é correr no gelo”.
Não deixou de ser uma edição muito participada, com 521 atletas a saírem das boxes, ainda assim menos que os 570 atletas do ano passado, em Velenje. Os escalões de juniores foram mesmo os mais participados de sempre, com 95 atletas femininas e 118 atletas masculinos, mais dois atletas, em cada género, que a edição do ano passado.
AS TROCAS DE CADEIRAS NO ESCALÃO DE JUNIORES
As provas juniores não foram cópias das do ano passado, mas disputaram-se ao topo por intervenientes semelhantes, numa luta que pode ser interessante de seguir pelos escalões acima, nos próximos anos.
O setor feminino teve vitória de uma atleta sérvia, Amela Terzic, que derrotou a campeã de 2011, a britânica Emelia Gorecka. Vice-campeã mundial de juniores, na distância dos 1500 metros, Terzic conquistou a sua segunda medalha no crosse, depois do Bronze de há um ano atrás. “Este era o meu último ano enquanto júnior e eu tinha de ganhar a prova, eu estava em bom momento de forma”, comentou a atleta sérvia no final. Reconhecendo o poderio de Terzic, a britânica não deixou de mostrar o seu contentamento pela Prata. No terceiro lugar ficaria a alemã Maya Rehberg, atleta que há um ano havia concluído na 10ª posição. Coletivamente se a Grã-Bretanha voltou ao Ouro, fê-lo com a melhoria em dois pontos. A troca deu-se nos dois lugares seguintes entre Alemanha (Prata) e Rússia (Bronze), se comparados os resultados com os de 2011. O sexto lugar coletivo de Portugal acaba por ser animador, melhorando relativamente às duas anteriores edições, igualando a classificação de 2010 e onde é preciso recuar ao ano de 2000 para encontrar uma classificação melhor. Para isto muito contribuiram as melhorias classificativas de Silvana Dias (30ª) e Diana Almeida (38ª), relativamente à anterior edição e ainda boas estreias de Jéssica Matos (39ª) e Sara Sousa (43ª).
O leste saiu reforçado no setor masculino, com uma vitória de Szymon Kulka (Polónia), que teve próximo o búlgaro Mitkko Tsenov, que chegou à Prata. A importância do Ouro de Kulka é evidenciada pelo mesmo atleta que considerou estar ”realmente feliz sobre a forma como a corrida se desenhou”, ele que conquistou o seu primeiro Ouro internacional. Por outro lado Tsenov conquistou para a Bulgária a primeira medalha internacional ao nível do corta-mato, na vertente individualizada. Também aqui se verificou uma troca de posições no pódio coletivo, com a vitória a recair na Rússia, oito anos depois de ter conseguido esse feito pela terceira vez consecutiva. Olhando o medalheiro de toda a história do evento, a Rússia firma ainda melhor o estatuto de melhor seleção junior europeia da história do evento. França e Grã-Bretanha seguiram-se na classificação coletiva, enquanto Portugal não ia além do 17º lugar, com uma equipa inexperiente. Samuel Barata, desistente há um ano, foi desta vez 94º classificado, numa equipa que teve em Guilherme Pinto o melhor atleta, na 52ª posição. Fernando Mendonça (72º) e Bruno Varela (73º) completaram a equipa nacional. Esta posição coletiva portuguesa foi a pior de todos os tempos, na história dos Europeus de Crosse.
GRÃ-BRETANHA PERDEU A HEGEMONIA NO ESCALÃO DE SUB-23
Se a Grã-Bretanha tem aparecido, desde que os sub-23 existe neste evento, como uma das seleções mais fortes em sub-23, desta vez perdeu esse estatuto, em ambos os setores. Um dos fortes responsáveis acabou mesmo por ser a equipa da Rússia.
Começando pelo lado feminino, a equipa britânica não evidenciou o brilhantismo de outras edições, mas manteve umas das típicas tradições de colocar uma das suas atletas como a vencedora do evento. Desta vez esse papel especial pertenceu a Jess Coulson, atleta que partilhou o pódio com Liudmila Lebedeva (Rússia) e Clémence Calvin (França). Esta partilha, entre equipas que tipicamente disputam resultados entre si, acabaria por tender para a Rússia que chegaria à meta, contando a última atleta a pontuar, na 13ª posição, numa equipa só de quatro atletas. Calvin subiria do 8º lugar de há um ano para um Bronze desejado, enquanto que a medalha de Bronze de 2011, a alemã Corinna Harrer, se queixou de lesões que a incomodaram na preparação de Budapeste 12. “Estava frio, mas adorei a prova. O meu treinador deu-me um bom plano de prova e eu apenas segui esse plano. Ao início foi realmente difícil, mas quanto encontrei o meu ritmo, ninguém veio comigo, disse Jess Coulson no final, enquanto em sessão contrária estava a francesa Calvin : ”O final foi muito complicado, porque a meio da última volta eu literalmente não via nada, apenas corrida o mais rápido que conseguia”. A Rússia abatia, assim, a imponente armada britânica, com cerca de cinco pontos de vantagem e uma subida no medalheiro global do escalão. Grã-Bretanha (33) e Alemanha (84) seguiam-se na classificação. Portugal acabou por vir logo a seguir, no 4º lugar, uma classificação coletiva, a segunda melhor prestação de sempre, a seguir ao Bronze de há um ano atrás. Salomé Rocha acabaria mesmo na melhor posição de sempre, depois de em junior chegar a 11ª classificada e como sub-23 já ter produzido anteriormente o 9º lugar (agora melhorado para 7º lugar). Era, contudo, a primeira corrida em neve da portuguesa, que tentou levar atrás de si Catarina Ribeiro (10ª). Mais tarde fechariam a equipa Catarina Lima (39ª) e Daniela Cunha (49ª).
![Jess Coulson](/images/arquivo/2012/eventos/budapeste12/jess_coulson.jpg)
A Noruega voltou para a continuação das medalhas do passado, nomeadamente a conquistada no ano passado por Sondre Moen. Esse destaque indiviual, no setor masculino, deu-se pelas pernas do atleta norueguês, que fez uma ponta final a gerir e a festejar.“Senti-me realmente forte. Não me senti cansado durante a prova e acabou por ser uma corrida fácil para mim. O percurso estava complicado, mas ao fim do dia a vitória é o que mais interessa”, disse Henrik Ingebrigtsen no final. Dez segundos depois cruzaria a meta o belga Soufiane Bouchikhi e logo depois o britânico James Wilkinson. Mas esta vitória de Ingebrigtsen não se pode considerar um ato isolado, até porque é ele o medalha de Ouro em Europeus de Ar Livre, na distância de 1500 metros, prova onde o português Hélio Gomes foi 4º classificado, em Helsínquia. No caso de Wilkinson foi a segunda medalha do escalão e a sua despedida dos sub-23. A França acabaria por não ter nenhuma medalha individual, mas acabou vencedora coletiva, com nove pontos de vantagem sobre a Espanha, reforçando-se como a mais medalhada de sempre neste escalão. A luta seria mais interessante pelo terceiro lugar com a Grã-Bretanha a ficar à frente da Noruega por um ponto. O 12º lugar de Portugal acabou repetido ao do ano passado, como sendo as piores participações coletivas de sempre, no escalão. Individualmente o atleta Rui Pinto conquistou um interessante 33º lugar na estreia neste escalão, depois de três anos a correr como junior, dentro do top-10. Mais experiente, Luís Mendes chegaria no 66º lugar, piorando relativamente há um ano. Hugo Correia era estreia na seleção, mas esteve furos abaixo do que fez no período de observação, enquanto Diogo Lourenço, não conseguiu melhor que 84º lugar na sua estreia como sub-23.
![Henrik Ingebrigtsen](/images/arquivo/2012/eventos/budapeste12/henrik_ingbrigtsen.jpg)
BRITTON LEVOU IRLANDESES À LOUCURA, LALLI ALCANÇA FEITO HISTÓRICO
As provas séniores acabariam por trazer boas efemérides, tanto no setor feminino, como no setor masculino. As vitórias de Fionnuala Britton e Andrea Lalli foram alcançadas com ataques lançados de longe, principalmente no caso do atleta italiano, que acabou por ser coroado com um grande triunfo.
A corrida feminina trazia à luta quase as mesmas intervenientes de topo, mas agora num palco diferente e que prometia diferenciar as atletas. A luta da irlandesa Britton não deu descanso às adversárias, ela que estava no terreno para defender a sua medalha de Ouro de há um ano atrás. E assim foi, alheada das lutas pelos lugares abaixo, Britton acabaria mesmo de medalha de Ouro ao peito, mas “mordida nos calcanhares” pela portuguesa Dulce Félix, que fez as duas últimas voltas numa enorme recuperação do espaço que perdeu anteriormente. “Quanto tu gostas de corta-mato, tu estás preparado para estas condições. Elas não estiveram assim tão mal. No final eu ouvia as pessoas gritarem ‘ela vem ai, ela vem ai’, disse a irlandesa, que além da outra medalha sénior já tinha sido, em 2006, medalha de Prata como sub-23. Já Dulce Félix deu-se como contente com a medalha de prata, também repetida de 2011 e foi irónica com a imprensa internacional no momento de falar na temperatura : “Conseguem imaginar a temperatura quente que se faz sentir neste momento em Portugal?”. Atrás chegaria a holandesa Adrienne Herzog chegou à medalha de Bronze e a sua 12ª participação coloca-a entre uma das atletas mais participantes em Europeus de Corta-Mato. Mas não foi só Britton que brilhou individualmente, já que a sua equipa acabaria também por alcançar o Ouro, com a mesma pontuação que a França, que foi segunda classificada. É preciso recuar a 2003 para ver outra medalha da Irlanda no escalão, nessa altura também de Ouro. A Grã-Bretanha acabaria ultrapassada e não foi além do terceiro lugar desta vez. Já Portugal perdeu a sua continuidade de seis anos consecutivos com medalha coletiva e não conseguiu melhor que o 6º lugar, classificação que só foi melhor que a de 1996, quando Portugal alcançou o 12º lugar. A Prata de Dulce Félix, em conjunto com o 12º lugar de Sara Moreira, poderiam ser bons presságios. Contudo a restante equipa chegaria no 31º lugar de Ercília Machado (uma melhoria relativamente ao ano passado) e à boa estreia de Sara Carvalho enquanto sénior, no 46º lugar.
![Fionnuala Britton](/images/arquivo/2012/eventos/budapeste12/fionuala_britton.jpg)
O setor masculino tinha em corrida o mais medalhado de sempre em Europeus de Corta-Mato, o ucraniano Sergyi Lebid que tentava aqui mais uma medalha, ampliando também a liderança de atleta mais presente de sempre. Mas desta vez Lebid não foi o Lebid que a Europa se habituou a ver, com o atleta a não ir além do 15º lugar. “Estava em boa condição, mas foi uma péssima corrida para mim. Nos últimos três dias tivemos vários problemas, principalmente com os problemas no Aeroporto. Talvez volte no próximo ano, porque eu continuo em forma“, disse o ucraniano no final, com dificuldades em falar à imprensa. Nesta corrida destacou-se um atleta bem mais jovem, o italiano Andrea Lalli, que cedo se isolou na frente para fazer a gestão da sua corrida e ainda tendo tempo de pegar uma bandeira italiana, para com ela festejar. “Sacrifiquei-me para conseguir obter esta medalha. É estranho, mas não me sinto cansado”, disse Lalli no final, que juntou às medalhas de Ouro enquanto júnior e sub-23, esta medalha sénior, sendo o primeiro atleta da história a consegui-lo. Pelo quarto ano consecutivo, embora anteriormente como junior e sub-23, Hassan Chahdi (França) conquistou uma medalha, desta vez de Prata e o italiano Daniele Meucci, que também já tinha sido medalhado em sub-23, chegou ao Bronze sénior. Apesar do poderio italiano, a classificação coletiva apenas permitiu à Itália a medalha de Bronze, à frente de uma França ferida no seu orgulho, depois de dois anos seguidos enquanto campeã europeia. Desta vez venceu a seleção de Espanha, que foi compacta nos seus resultados individuais, seguida da Grã-Bretanha. Assim a Ucrânia, que tem sido movida pelos resultados de Sergyi Lebid, vê o seu estatuto de líder histórico nas medalhas deste escalão em causa, estando agora a Espanha a uma medalha de Ouro de conseguir a liderança, enquanto Portugal é terceiro. E a Portugal, desta vez, calhou “a fava” com uma queda prematura, logo à saída das boxes, que ditou o fracasso classificativo, com o 11º lugar, a pior classificação de sempre. Fernando Silva era o rosto do descontentamento no final, ele que foi 36º classificado, logo seguido do veterano Paulo Gomes. Já o 45º lugar de António Silva marca o regresso deste atleta às lides internacionais, depois de um logo período de ausência, nesta que foi a sua sétima presença. Com a terceira presença, Bruno Jesus foi desta vez 70º classificado e foi um dos atletas que saiu mais prejudicado com a queda inicial. Nota ainda para a terceira desistência consecutiva de Alberto Paulo, que ficou cedo fora da corrida.
![Andrea Lalli](/images/arquivo/2012/eventos/budapeste12/andrea_lalli.jpg)
PORTUGAL ESCORREGOU NO TERRENO E NA CLASSIFICAÇÃO
Se até ao início do milénio a seleção nacional era a seleção mais admirada, por quatro primeiros lugares e três segundos lugares nos medalheiros de cada edição, a partir daí vem-se assistindo a um escorregar nas classificações finais. O 11º lugar, nas medalhas, alcançado por Portugal, foi apenas melhor que o ano de 2005, onde Portugal não alcançou qualquer medalha. A anterior década tinha trazido uma participação meritória em Albufeira, quando Portugal foi 2º classificado, descendo no ano passado para o 7º lugar e agora para o 11º lugar.
O Corta-Mato entretanto tem assistido à recuperação dos países nórdicos e de leste, além da massificação das habituais Grã-Bretanha, Espanha e França, com a Rússia a voltar a apostar nesta componente. Novamente a Grã-Bretanha conquistou o topo do medalheiro, com as mesmas duas medalhas de Ouro de Rússia e Irlanda, esta última a beneficiar de uma super participação de Britton, mas no desempate valeram as restantes medalhas. Apesar de uma participação inferior de França, Portugal viu cavar-se uma pequena vantagem da equipa francesa no histórico das medalhas, depois de há um ano ter perdido o estatuto de segunda classificada nesta tabela. Aproximou-se de Portugal a seleção de Espanha e também a da Rússia, que ultrapassou Espanha nesta classificação.
Assim a classificação do medalheiro, somadas todas as edições, fica assim ordenada :
1. Grã-Bretanha – 40 Ouro + 37 Prata + 25 Bronze
2. França – 21 Ouro + 20 Prata + 23 Bronze
3. Portugal – 19 Ouro + 20 Prata + 16 Bronze
4. Rússia – 14 Ouro + 21 Prata + 12 Bronze
5. Espanha – 14 Ouro + 18 Prata + 14 Bronze
Enviado Especial : Edgar Barreira (texto e fotos)
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