Maratona feminina teve boa prestação nacional.
Não foram fáceis as condições da Maratona olímpica, que se realizou num percurso acidentado e com chuva forte a cair sobre as atletas. Portugal esteve numa das provas mais exigentes em toda a história das olimpíadas e deu-se bem...
Se a Maratona nasceu na Grécia antiga, a distância fixa de 42.195 quilómetros nasceu em Londres, durante os Jogos Olímpicos de 1948 e hoje cumpriu-se mais uma página de história, percorrendo-se a Maratona pela primeira vez nestes Jogos Olímpicos. Aliás, a cidade tem uma fotografia que recria o momento da Maratona em 1948, com a imagem dos reis que obrigaram os participantes a passarem em frente à varanda para ver a Maratona passar.
Hoje tudo o que havia de típico foi vivido pelas maratonistas, até a chuva, que “regou” a prova de hoje, conforme a cidade costuma apresentar aos seus visitantes. Entre as portuguesas era Marisa Barros quem aparecia de logo na frente, não propriamente a puxar o ritmo do pelotão, mas a querer sair da confusão, até porque a prova passa em zonas estreitas e que dificulta a passagem de extensos pelotões. ” O percurso era muito difícil, por causa das curvas. A primeira parte era muito gente e por isso optei ir um pouco à frente”, disse Marisa Barros no final, aos jornalistas. Também Dulce Félix se manteve vários quilómetros no pelotão, enquanto Jéssica Augusto cedo deixou-se cair num ritmo mais lento. A aproximação de Jéssica ao pelotão só começou a acontecer a partir do nono quilómetro, ela que quando se integrou nesse grupo ficou junto das quenianas, uma aposta pessoal para o que vinha a acontecer mais tarde.
Com os ritmos impostos a acelerarem, só Marisa Barros estava a resistir ao ritmo, com Jéssica Augusto e Dulce Félix a cederem a meio da prova, numa altura em que Marisa Barros era 11ª classificada, Dulce Félix 22ª e Jéssica Augusto 24ª. Mas rapidamente Jéssica Augusto acabaria por recolar ao pelotão e mais tarde Dulce Félix, mas em má altura, já que Edna Kiplagat (Queánia) esticaria o ritmo na frente, para se isolar um grupo de seis atletas, composto pelas duas equipas mais fortes, a Etiópia e o Quénia.
Entre ataques, contra-ataques e mudanças de ritmo, Marisa Barros foi-se afundando na classificação, enquanto Jéssica Augusto fez uma parte final de prova de tal modo interessante que na chegada à linha de meta chegaria no 7º lugar, com a sua terceira marca da carreira (2:25.11), o melhor registo português de sempre em Jogos Olímpicos, batendo o tempo que estava intacto desde 1988, de Rosa Mota. Aliás, Rosa Mota foi um dos olhares atentos sobre as maratonistas portuguesas, no percurso, que estava repleto de espetadores e com o apoio de uma boa parte da equipa nacional. Por exemplo um dos abastecimentos esteve ao cargo de dois treinadores pouco habituados à Maratona : Carlos Silva e Fernando Pereira, treinadores de Vera Barbosa e Marcos Chuva, respetivamente.
“Correu bem. Eu achei que devia correr mais devagar no início. No decorrer da prova fui-me sentindo bem, fui aumentando aos pouquinhos, chegando ao grupo da frente. E no final, quando elas arracaram, tentei aguentar o máximo possível. Limitei-me a ir ao meu ritmo, que foi um bocado exagerado, mas sinto-me um peixinho no meio dos tubarões, porque tenho apenas três maratonas concluídas.. Foram estas as declarações de Jéssica Augusto que a ser peixinho, foi também peixinho dentro de água, porque Londres voltou a ser a sua cidade-talismã. Afinal foi a segunda melhor participação portuguesa de sempre em Maratona olímpica, só batida pela recordista Rosa Mota, igualando a classificação de Manuela Machado em 1992 e 1996.
Mais atrás chegaria então Marisa Barros, que melhorou a sua classificação de Pequim para Londres, desta vez alcançando o 13º lugar, com o tempo de 2:26.13 horas, uma classificação muito meritória, numa prova onde algumas candidatas sucumbiram, como a russa Liliya Shobukhova, a britânica Mara Yamauchi ou a holandesa Lornah Kiplagat. Menos bem classificada ficou Dulce Félix, que na sua estreia chegou à linha de meta em 21º lugar, com o registo de 2:28.12 horas, ela que quebrou bastante na segunda metade de prova. ” Esperava um bocado melhor, fiquei um bocado triste. Mas foram os meus primeiros Jogos Olímpicos e tenho de estar contente por isso...”, disse a portuguesa à RTP.
Do ponto de vista geral, o Quénia ficou de novo afastado da medalha de Ouro, contra a segunda medalha de Ouro da Etiópia, hoje alcançada pela inesperada Tiki Gelana (2:23.07), a única etíope que “sobreviveu” aos constantes ataques que os últimos quilómetros de corrida tiveram e que levaram as suas colegas Mare Dibaba e Aselefech Mergia para lugares menos dignos : 23º e 42º lugares. A etíope derrubou, assim, o segundo recorde olímpico destes Jogos Olímpicos, um feito que mostra bem a competitividade da prova de hoje. A melhor queniana, Priscah Jeptoo, ficou em segundo lugar, restando o terceiro lugar do pódio para a russa Tatyana Arkhipova (2:23.29), que com uma segunda metade impressionante chegou ao seu recorde pessoal. Fantástico também o recorde nacional da ucraniana Tetyana Gamero-Shmyrko, com uma ponta final rapidíssima, terminando em 2:24.32 horas.
Foi a melhor prestação portuguesa na prova de Maratona feminina, em Jogos Olímpicos, que em 119 atletas teve as suas três atletas até ao 21º lugar. Se esta prova tivesse pontuação coletiva, a equipa portuguesa sairia com toda a certeza com a medalha de Prata, só batida pelo Quénia.
RESULTADOS (Maratona – Final) – Jogos Olímpicos
1. Tiki Gelana (Etiópia) - 2:23.07
2. Priscah Jeptoo (Quénia) - 2:23.12
3. Tatyana Petrova (Rússia) - 2:23.29
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7. Jéssica Augusto (Portugal) - 2:25.11
13. Marisa Barros (Portugal) - 2:26.13
21. Dulce Félix (Portugal) - 2:28.12
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