Ao segundo dia caiu um recorde olímpico.
Foram cinco as finais hoje disputadas (mais o fim do heptatlo), num dia fantástico para a Grã-Bretanha, que alcançou três medalhas de Ouro, das cinco possíveis.
Novamente o Estádio Olímpico esteve cheio para aplaudir os melhores atletas do Mundo, tal como as ruas de Londres que se inundaram para apoiar os marchadores que tiveram uma competição emocionante e para mais tarde recordar. Em suma, o atletismo está novamente a funcionar para ser ponto alto destes Jogos Olímpicos, pelo menos se forem somados os pormenores organizativos, além dos resultados alcançados. E dificilmente os britânicos se esquecerão do dia 4 de agosto de 2012, o dia em que no intervalo de uma se deram três voltas à pista com a bandeira britânica às costas de atletas britânicos acabados de se sagrarem campeões olímpicos. Os britânicos que hoje ajudaram a encher bancadas compraram, por isso, o bilhete para o dia certo...
NÃO FOI UM CIRCO, MAS FOI CHEN A ANIMAR OS MILHARES DE ESPETADORES LONDRINOS
Nem sempre é a especialidade mais amada ou apoiada de um grande campeonato, mas desta vez os 20 quilómetros marcha tiveram os condimentos certos para se promoverem como uma importante especialidade do atletismo. A marcha foi feita com fugas, a mais importante do japonês Yusuke Suzuki, teve direito a duas desclassificações por faltas (Vladimir Kanaykin e Luis Lopez), teve luta até à exaustão, com o ex-campeão Valeriy Borchin a sucumbir durante a luta final e teve...espetáculo. E quando aqui se fala de espetáculo, ele pode ser direcionado para o chinês Ding Chen, ele que a mais de um quilómetro da meta já festejava com o público, esbracejando, batendo nas mãos que se estendiam do público, olhando para as câmaras televisivas com felicidade e com Erick Barrondo (Guatemala) ali relativamente perto. A verdade é que Chen venceu e tornou-se campeão olímpico, em 1.18,46 hora, um novo recorde olímpico, que acabou por cereja em cima do bolo. A China foi, aliás, a grande vitoriosa de hoje, com o terceiro lugar de Zhen Wang e o quarto lugar de Zelin Cai. A grande derrotada foi a Rússia, que depois de perder um atleta por desclassificação e outro por exaustão, acabaria por terminar com um só atleta, na 37ª posição (!).
Quem também não esteve para meias medidas foi a croata Sandra Perkovic, no lançamento do disco, ela que foi muito combativa, tal como tem sido nos grandes meetings internacionais e que já a tornavam, até aqui, uma verdadeira candidata ao Ouro. Na ausência de Blanka Vlasic (no salto em altura), a Croácia arranca daqui um importante Ouro e logo com um novo recorde nacional, por 69.11 metros. Contra isto nenhuma outra força adversária teve hipótese de lançar mais, uma vitória que faz juz à época de Perkovic no atletismo internacional.
Daqui para a frente o orgulho foi quase todo britânico e esse orgulho começou em Jessica Ennis, que chegou ao recorde britânico por praticamente mais meia centena de pontos, totalizando-se 6955 pontos. A “menina bonita” de Inglaterra não desiludiu o seu público, acabando com várias prestações com recorde pessoal e sempre focada nos seus objetivos, sorrindo depois dos objetivos alcançados, uma prova de que de nada valem os prognósticos, se os objetivos forem falhados. As mais de três centenas de pontos de vantagem sobre a alemã Lilli Schwarzkopf (6649) e a russa Tatyana Chernova (6628) são a prova do seu poderio competitivo, com a bandeira britânica a dar pela primeira vez a volta ao Estádio Olímpico, nestes Jogos Olímpicos. Nota menos positiva para a campeã de pista coberta e olímpica, Nataliya Dobrynska (Ucrânia) que esteve desastrosa em Londres, eventualmente ainda emocionalmente afetada com a morte do seu treinador (e marido!).
Comprovando-se que a prova do salto em comprimento masculino é das que está mais orfã de uma grande referência, hoje foi Greg Rutherford (Grã-Bretanha) a superar-se, com 8.31 metros, num concurso onde só esteve acima dos 8 metros por três ocasiões, ainda assim mais vezes que os seus adversários. A prova foi, aliás, relativamente fraca, num pódio que foi completado com os 8.16 metros do australiano Mitchell Watt e os 8.12 metros do norte-americano Will Claye, seguindo-se dois atletas separados entre si por um único centímetro. Foi a segunda explosão de alegria em Londres e o atleta ainda assistiria na pista ao outro feito...
E que feito foi esse, novamente de Mo Farah, ele que entrou na pista sorridente e era de facto um dos nomes em que Inglaterra mais poderia esperar um grande resultado. A prova foi lenta, lenta demais, num ritmo imposto de forma muito frequente, mas muito lenta, pelo eritreu Zersenay Tadese, ele que andou cerca de metade da prova na frente. Isto provocou uma estranha sensação de um grupo com perto de uma dezena de atletas, junto a duas voltas do fim. Nem a tentativa de Gebre Gebremariam (Etiópia) de espevitar o ritmo ao gosto etíope, com os irmãos Bekele a tentarem aproveitar a “boleia”, serviu para evitar uma volta final fulminante de Mo Farah, que até podia ter sido surpreendido pelo seu colega de treino, o norte-americano Galen Rupp. Em 27.30,42 minutos, foi o tempo de corrida de Farah, seguido pelos 27.30,90 minutos de Rupp, tendo dado ainda para Tariku Bekele (27.31,43) bater o seu irmão Kenenisa Bekele (27.32,44), ele que era o campeão olímpico de 2008.
As finais finalizaram com os 100 metros femininos, que durante o dia passou pelas meias-finais, neste último caso com a eliminação de duas atletas de grande valia, LaVerne Jones-Ferrette (Ilhas Virgem) e Kerron Stewart (Jamaica). Na final esperar-se-ia qualquer coisa, dado o conjunto muito forte de atletas e aqui prevaleceu novamente o nível competitivo da jamaicana Shelly-Ann Fraser, ela que renovou o seu título olímpico em 10,75 segundos, uma marca dois centésimos mais rápidos que em 2008. Desta vez a Jamaica não levou para casa o pódio inteiro, permitindo o segundo lugar à norte-americana Carmelita Jeter (10,78), mas conquistando o terceiro lugar, com Veronica Campbell-Brown (10,81).
HOJE PREPAROU-SE O EMBATE JAMAICA VS EUA, A DECORRER NOS 100 METROS AMANHÃ
Além do embate, parcialmente ganho pela Jamaica, na final dos 100 metros femininos de hoje, amanhã o embate no setor masculino promete e onde finalmente se vai ver se Usain Bolt é realmente o mais rápido do planeta. Hoje foi contido, num dia onde o mais rápido até foi o norte-americano Ryan Bailey, igualando o seu recorde pessoal a 9,88 segundos. A principal desilusão foi mesmo a ausência forçada de Kim Collins (São Cristóvão e Neves), depois de receber a sua mulher em Londres e decidir pela não participação. Nos 400 metros existiram dois principais motivos de interesse : o primeiro a participação inédita do sul-africano Oscar Pistorious, que passou à fase seguinte, enquanto que o segundo é a capacidade dos irmãos Borlée (Bélgica), com Jonathan a chegar ao recorde nacional de 44,43 segundos, a desligar (!). Com 34 anos, Feliz Sanchéz (Rep. Dominicana) voltaria a ser destaque, nos 400 metros barreiras, ao ser mais rápido e a provar que está em Londres para as medalhas, numa final que se disputa segunda-feira e que também promete espetáculo.
Na volta à pista, mas do lado feminino, disputaram-se as meias-finais, onde passaram à final as principais favoritas, entre elas a única russa que alcançou a final, Antonina Krivoshapka (49,81). A surpresa nos 3000 metros obstáculos foi o pouco à vontade da queniana Milcah Chemos, que foi apenas terceira na primeira série e a descolar das primeiras, onde quem também não esteve à vontade foi a a atual campeã olímpica, a russa Gulnara Galkina. No salto com vara foi muito estável Yelena Isinbayeva, a temível russa que se pode muito bem preparar para renovar o título de Pequim, depois de hoje não ter falhado até aos 5.55 metros que lhe permitiram a qualificação, ainda por cima com o não alcance da final de atletas como Fabiana Murer (Brasil), Monika Pirek (Polónia) ou Svetlana Feofanova (Rússia).
CAMPEÕES OLÍMPICOS (Dia 1 + Dia 2)
MASCULINOS:
10000 m – Mo Farah (Grã-Bretanha) – 27.30,42
Comprimento – Greg Rutherford (Grã-Bretanha) – 8.31
Peso – Tomasz Majewski (Polónia) – 21.89
20 Km Marcha – Ding Chen (China) – 1:18.46 (Recorde Olímpico)
FEMININOS :
100 m – Shelly-Ann Fraser-Pryce (Jamaica) – 10,75
10000 m – Tirunesh Dibaba (Etiópia) – 30.20,75
Disco – Sandra Perkovic (Croácia) – 69.11
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