Edi Maia a perseguir recordes

Quarta, 14 Março 2012
Edi Maia a perseguir recordes

Varista português faz balanço da época de Inverno.

Foi uma das sensações da pista coberta e depois do recorde nacional de pista coberta, o objetivo é o de ar livre...O Atleta-Digital foi falar com o varista português e conhecer os seus hábitos de treino e objetivos... 

De jovem promessa a valor confirmado, Edi Maia tem-se superado e pode-se afirmar como o principal saltador com vara em Portugal, tendo já portas abertas em meetings internacionais. Mas afinal o que motiva tanto para que Edi Maia tente chegar aos índices já obtidos e possa vir a ser um justo campeão nacional?

O SUCESSO DA PISTA COBERTA EM 2012

Notoriamente houve melhorias nesta pista coberta, uma época onde passaram por Portugal alguns dos melhores especialistas de salto com vara de todo o Mundo, entre eles o francês Renaud Lavillenie e a brasileira Fabiana Murer, atletas que também fizemos questão de entrevistar nas suas passagens. Na troca de experiências com os melhores atletas mundiais Edi Maia terá tirado as suas conclusões, mas entre várias coisas, uma delas permaneceu exatamente igual : oferecer os recordes ao seu treinador de salto com vara...

Atleta-Digital – Edi, depois de várias tentativas, desde a época passada, finalmente bateste um recorde nacional (neste caso de pista coberta). Estava a tornar-se difícil?

Edi Maia –
Sim, já estava a ficar um pouco impaciente mas desde a época passada nunca duvidei de que um dia seria recordista nacional. Acho que foi o ultrapassar de uma barreira psicológica e agora é tentar subir mais alto.

Atleta-Digital - Dedicas a alguém em especial?

Edi Maia –
Principalmente dedico ao meu treinador, Raposo Borges, porque este recorde nacional também era um objectivo dele enquanto treinador. Era um objectivo nosso. Mas também dedico à minha família e às pessoas mais próximas porque esses nunca se esquecem de me apoiar mesmo quando nem tudo corre bem.

Atleta Digital – Conseguiste este recorde numa altura em que o que procuravas fazer era o mínimo para o Mundial de Pista Coberta (5,72 m). Qual é que era mesmo o teu objectivo principal para a época de pista coberta?

Edi Maia –
O principal… aquilo que tinha mesmo de ser era o recorde nacional. Sabia que estava a valer esse recorde há já algum tempo mas em prova, por pequenos azares como a colocação dos postes e pequenos erros técnicos, a marca não estava a sair. No entanto, nunca escondi o desejo de ir ao Mundial de Pista Coberta e penso que as coisas poderiam ter sido diferentes se não fosse a minha queda em Alpiarça que prejudicou não só a minha preparação, como também a minha condição física durante algum tempo. Ainda assim, foi por muito pouco que não saltei 5,72 m em Pombal no dia do recorde…

Atleta-Digital – E agora... Ano de Europeu e Jogos Olímpicos ao ar livre, quais são os teus principais objectivos.

Edi Maia –
Não vou dizer o que realmente desejo porque não quero correr o risco de dizer coisas que depois não acontecerão. Na vida e principalmente no desporto, é muito difícil dizeres o que vai acontecer no futuro quando, por exemplo, de um momento para o outro podes lesionar-te. É claro que tenho os meus objectivos mas prefiro guardá-los para mim. O que posso dizer é que o objectivo essencial é bater o recorde nacional ao ar livre. Depois, eu e o Raposo vamos traçar outros objectivos...


DEPOIS DA MARCHA, POUCOS TREINOS DE VARA, NUMA JUVENTUDE INCERTA

A vida desportiva de Edi Maia começou na margem sul do Rio Tejo, onde experimentou muita variedade no atletismo, uma noção correta aos olhos do treino desportivo, que deve ser rico na variedade nas idades mais jovens. Rapidamente o jovem Edi Maia evidenciava jeito para o salto com vara e é famosa a história do ser campeão nacional pegando na vara duas vezes por semana, uma em treino, outra em competição...

Atleta-Digital – Vamos andar uns anos para trás, quando ainda não pensavas em recordes nacionais, nem sabias o que era salto com vara. O que te lembras da tua infância?

Edi Maia –
Lembro-me de não conseguir estar parado em casa e é por isso que me faz confusão os jovens de hoje em dia passarem grande parte do tempo agarrados às consolas e ao computador. Como nasci no “campo”, lembro-me que havia dias em que saía de casa de manhã para ir ter com amigos e só voltava à noite. Andávamos de bicicleta, íamos à barragem, subíamos árvores, íamos aos melros, fazíamos disparates próprios da idade.

Atleta-Digital – Com que idade começaste a praticar atletismo?

Edi Maia -
Por volta dos 8 anos de idade. O meu pai conhecia umas pessoas no Grupo Desportivo Independente de Setúbal e levou-me lá. Comecei a fazer um pouco de tudo. Corta-mato, provas de estrada, marcha… Fui duas vezes campeão regional de marcha… Fazia tudo.

Atleta-Digital – Quando é que foi o primeiro contacto com o salto com vara? Lembras-te do teu primeiro treino?

Edi Maia –
Foi por volta dos 12 anos. Vi uns atletas saltar e quis logo experimentar.

Atleta-Digital – Como é que começaste a treinar salto com vara com Raposo Borges?

Edi Maia –
Era iniciado de segundo ano e o meu pai teve conhecimento que havia uma escola de salto com vara em Lisboa treinada por um antigo campeão de salto com vara. Foi então que me começou a levar lá uma a duas vezes por semana, havia outras semanas em que nem ia uma vez. Dependia e, a partir de certa altura, só treinava mesmo nos dias em que ia a Lisboa.

Atleta-Digital - Qual foi o teu primeiro título nacional? O que significou para ti?

Edi Maia -
Foi em Juvenil, em 2004. Fiquei muito satisfeito e esse título na altura foi muito importante para mim. Dei mais importância a esse título nacional na altura do que dou agora aos que venço em sénior… Mas é normal, agora já tenho sonhos mais altos, já não fico tão feliz por títulos nacionais como fico com as marcas. Essas marcas e os resultados internacionais é que interessam agora uma vez que ainda não posso dizer que tenha grande concorrência cá em Portugal..

Atleta-Digital – Mas temos jovens a evoluir…

Edi Maia –
Sim, espero que dentro de algum tempo, o Rubem (Miranda) e o Diogo (Ferreira) me acompanhem às grandes provas internacionais.

Atleta-Digital – Quando é que começaste a pensar que poderias vir a ser um atleta internacional e representar Portugal?

Edi Maia –
Foi quando o Raposo Borges me começou a dizer: “Se tu treinares, podes vir a ser um grande atleta”. Na altura, eu treinava pouco e conseguia fazer marcas que outros faziam a treinar diariamente e o Raposo dizia-me para não desperdiçar o meu talento.

Atleta-Digital – Contam os teus colegas que quando eras Junior, bateste o recorde nacional de juniores (4,95 m) e que durante a época de ar livre normalmente pegavas na vara duas vezes por semana – uma em treino e a outra em prova. É verdade?

Edi Maia –
Sim, todos sabem disso. Agora já é outra história…

Atleta-Digital – Como é que foi a tua transferência para o Sporting?

Edi Maia –
A partir de júnior fui tendo convites de alguns clubes pequenos e do próprio Benfica mas essas colectividades não me davam oportunidade de me manter financeiramente. Por isso preferi sempre ficar no Grupo Desportivo Independente de Setúbal já que o meu pai pertencia ao clube e dava-me transporte gratuito para vir treinar a Lisboa duas vezes por semana. Passado algum tempo, o Moniz Pereira falou comigo, convidou-me a casa dele e acertámos tudo.

Atleta-Digital – Foi a partir daí que começaste a levar o atletismo mais a sério?

Edi Maia –
Sim, sem dúvida. Senti que tinha de levar as coisas mais a sério pela responsabilidade que é representar um clube como o Sporting. E rapidamente as minhas marcas foram subindo, passei a qualificar-me para provas internacionais…

Edi Maia

UMA ROTINA DIÁRIA EXIGENTE, PARA SONHOS DE UM PROFISSIONAL

Profissional, pelo menos na rotina de treino, Edi Maia tenta a todo o custo chegar aos píncaros do Mundo, ainda que esse seja um caminho longo e que pode até nunca chegar a acontecer...Certa é a sua aposta em tentar derrubar os recordes nacionais e isso já será motivo para tentar boas participações em provas internacionais. Contudo este objetivo depende também de outros fatores e Edi Maia conta com o seu treinador para chegar a um patamar difícil de igualar em Portugal...

Atleta-Digital – Sonhas ser o primeiro português a ter 8 títulos nacionais (Raposo Borges, Nuno Fernandes e João André têm ambos 7 títulos) ou isso não é uma prioridade na tua carreira?

Edi Maia –
Claro que é um objectivo, ainda faltam alguns anos… Mas espero conseguir ultrapassar esses grandes nomes do salto com vara português.

Atleta-Digital – Qual é o teu maior sonho enquanto atleta de salto com vara?

Edi Maia –
Acho que o sonho de qualquer “varista” é passar a barreira mítica dos 6 metros… Mas lá está, é um sonho. Sendo um pouco realista, o que posso dizer é que quero saltar o mais alto possível e elevar o recorde nacional português a nível internacional para durar mais anos do que este do Nuno Fernandes que durou muito tempo, 16 anos.

Atleta-Digital – Conta-nos um dia teu normal de treino?

Edi Maia –
Acordo às 8h, 8h30 e tomo o pequeno-almoço. Às 10 começo o treino da manhã que vai até às 12h, 12h30. Vou almoçar e depois descansar um pouco no meu quarto no CAR porque às 16h tenho de estar na Pista outra vez para o treino da tarde.

Atleta-Digital – Como é treinar de manhã e à tarde todos os dias?

Edi Maia –
É cansativo mas faz parte. Tenho trabalhado muito forte para atingir os resultados e marcas que quero. Tenho feito treinos bi-diários todos os dias da semana mas não custam muito porque faço muitas coisas diferentes e há sempre sessões de treino mais calmas.

Atleta-Digital – Qual é a tua relação com o teu treinador, Raposo Borges?

Edi Maia –
Acima de tudo é uma relação de amizade e confiança. Ele é muito meu amigo e talvez por isso é que nos damos tão bem na relação atleta-treinador.

Atleta-Digital – No início de 2011, de um momento para o outro, ficaste sem treinador (Raposo saiu da Escola de Salto com Vara da F.P.A.). Foi um período difícil para ti? O que é que passou pela tua cabeça?

Edi Maia –
No início estava convencido que a situação se resolveria rapidamente e que o Raposo voltaria atrás na decisão. O problema é que o tempo foi passando e ele não voltava. Estava a passar demasiado tempo e foi aí que comecei a pensar em mudar-me para outro país, para encontrar soluções equiparadas ao nível do Raposo Borges. Pensei em França, Itália… No entanto, fui dos poucos que não se esqueceu do Raposo Borges, nunca desisti dele, nunca deixei de o contactar, e acho que insisti bastante para ele voltar. Valeu a pena! Ele voltou a treinar-me e agora temos um recorde nacional.

Atleta-Digital – O Raposo Borges diz que tens de ser um profissional de salto com vara. Sentes que já o és?

Edi Maia –
Já me sinto um pouco… Mas ainda não sou “profissional”, para isso ser verdade é preciso ter marcas a sério e isso significa estar no top-20 mundial. Como sou muito exigente comigo próprio, vou trabalhar muito para poder dizer isso.

O português Edi Maia já conta com mínimos ‘B’ para os Jogos Olímpicos de Londres, além de mínimos para o Europeu de ar livre, desde ano.


Rafael Lopes

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Comentarios (2)add feed
Uma Nota : ...........
Gostaria apenas de deixar claro que ninguém se esqueceu nem desistiu do Raposo Borges, ele sim esqueceu e desistio de todos!
Ninguém deixou de o contactar, ele abandonou os meios de contacto com todos.
Todos os atletas o respeitavam, mas esse sentimento não era reciproco...os valores monetários falaram mais alto na altura de escolher!
Mas é curioso, para quem disse "nunca mais voltarei a entrar numa pista"
..a vida da muitas voltas! Nunca podemos dizer "Desta água não beberei"
Março 16, 2012
... : J....
Parabéns Edi. Só é pena que o ex-treinador do grande campeão do salto com vara, se tenha arrepiado quando te via saltar!!É verdade que treinas com o melhor treinador Português de salto com vara, mas não te esqueças que também é o único. Em terra de cego...
Abril 12, 2012
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