Dulce Félix e os seus desejos para 2012.
Depois da medalha de prata no Europeu de corta-mato, Ana Dulce Félix vira o seu foco para os Jogos Olímpicos, sem esquecer as provas de clube...
A carreira de Ana Dulce Félix tem sido construída discretamente, mas a sua posição é já de uma das melhores fundistas portuguesas de sempre, ainda que o sonho olímpico só comece em 2012. Preferindo a estrada que qualquer outra superfície, a verdade é que Dulce Félix tem-se mostrado uma atleta todo-o-terreno e a caminho de fazer a sua carreira na Maratona...
A SEGUNDA MEDALHA INDIVIDUAL NO CROSSE, NUMA SEQUÊNCIA SEMELHANTE A 2010
A história de Dulce Félix no crosse é muito semelhante em 2011, relativamente ao ano de 2010. Primeiro aconteceu a participação na Maratona de Nova Iorque, prova onde a portuguesa desistiu em 2010, mas onde acabaria por ser o grande destaque em 2011, ao correr para um quarto lugar incrível, corrido em 2:25.40 horas, o seu recorde pessoal. Depois participou no Europeu de corta-mato, prova onde voltou a medalhar individual e colectivamente.
Depois da marca incrível na Maratona de Nova Iorque, foi então tempo de preparar o Europeu de Corta-Mato, que se disputava em Velenje (Eslovénia). “Sabia que estava bem”, disse a atleta que parou completamente durante cinco dias para regenerar ainda a tempo de efetuar uma prova de observação para o Europeu. Depois foi o retomar dos treinos, para treinos mais rápidos e mais específicos e a confirmação das suas expetativas aconteceu na semana em que correu o Crosse da Amora : “na semana da Amora fiz treinos muito bons”. Garantindo que “pessoalmente tinha esse objetivo”, a imagem da medalha foi sempre guardada para si para “tentar fugir à pressão”, confessou Dulce Félix ao Atleta-Digital.
Com a vitória fácil na Amora e a sua seleção para Velenje, a atleta entrou em estágio com a restante seleção. Novos treinos de bom nível faziam-na partir com confiança para a Eslovénia e o desejo que o percurso fosse ao seu jeito. “Tive sorte porque o percurso era favorável a mim por ter pouca lama”, contou-nos Dulce Félix que reafirmou a sua limitação em provas de corta-mato com muita lama, o que na sua opinião não faz dela especialista de corta-mato. A medalha de prata acabou por acontecer, como há um ano acontecera em Albufeira, na altura com medalha de bronze. A diferença este ano é que a principal referência portuguesa era mesmo Dulce Félix, ainda assim sem a pressão que teria se não viesse de uma exigente Maratona. “As coisas correram bem”, diz Dulce Félix com naturalidade e contente de ter arrecadado mais uma medalha internacional no seu currículo. O seu agente, Hugo Sousa, considerou que não fosse a Maratona e o Ouro seria muito provavelmente a medalha que estaria no peito de Dulce Félix. Mas acima de tudo a falta de pressão foi uma das chaves do sucesso, ambos o admitem...
A MARATONA SERÁ OBJECTIVO PARA O RESTO DA CARREIRA
Apesar de ter boas marcas alcançadas em provas de pista, em tartan, é na estrada que a portuguesa mais se revê, por se tornar um piso mais rápido, sem a lama que o corta-mato lhe exige. As suas boas experiências na Maratona acabam por fazê-la focar-se nesse objetivo daqui para a frente e não exclui o bater do recorde de Rosa Mota : “os recordes são para ser batidos e o da Rosa Mota também é para ser batido”. Apesar desta convicção, Dulce Félix diz não viver obcecada pelos recordes, apesar de já possuir o recorde da meia-maratona.
Para os Jogos Olímpicos de 2012, em Londres, a portuguesa vai cautelosa, até pela sua primeira olimpíada e não prometendo classificações específicas, muito menos promete uma grande marca, até porque as marcas em Jogos Olímpicos são difíceis de obter. Nesta competição deverá ter a companhia de Marisa Barros e Jéssica Augusto e essa pode também ser uma motivação extra, se for considerada a maior experiência em eventos internacionais de Maratona por parte de Marisa Barros...
Mas esta parece ser uma aposta não só para 2012, mas para a carreira. “Para o longo prazo o objetivo também será a Maratona”, considerou Dulce Félix que “se não fosse ano de Jogos talvez fizesse outra Maratona na Privamera”. A atleta prefere não arriscar em Maratonas de Primavera, embora deixe a porta aberta para a realização de duas Maratonas comerciais por ano a partir de 2013.
Outro dos objetivos de início de ano serão obviamente as competições por clube, onde pretende revalidar títulos e alcançar os títulos não obtidos anteriormente. Terá em Janeiro o Campeonato Nacional de Estrada e em Fevereiro mais duas competições de corta-mato, a Taça dos Clubes Campeões Europeus e o Campeonato Nacional. A partir daí estará livre para a preparação da ida a Londres, sendo de prever a sua passagem ainda na Meia-Maratona de Lisboa, em Março.
No próximo dia 31, em Lisboa, Dulce Félix tem ainda um importante desafio que encara com expetativa, a “Guerra dos Sexos” na São Silvestre de Lisboa. Sem a ajuda da sua amiga Jéssica Augusto, terá de lutar contra o favoritismo de Hermano Ferreira.
A pupila de Sameiro Araújo, que já orientou várias das referências nacionais do atletismo de fundo, é assim uma atleta que simplesmente luta pelo seu sucesso pessoal e o do atletismo português, onde o ponto de viragem da sua carreira foi mesmo a profissionalização na modalidade, depois de alguns anos a treinar e a trabalhar. E o risco compensou...
Edgar Barreira
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