A cronologia do caso de Sara Moreira.
Sara Moreira viu ontem a sua carreira manchada por seis meses de suspensão num caso de doping que se provou involuntário...
A suplementação alimentar, seja ela farmacêutica ou laboratorial, tem dado que falar pelo Mundo fora, por alguns dos casos de doping que foram provocados involuntariamente. O caso de Sara Moreira está longe de ser único, mas em Portugal foi o primeiro alerta de que a suplementação tem riscos, que são penalizados por suspensões de doping. Tomada a decisão, o Atleta-Digital deixa a cronologia do caso de Sara Moreira.
DOS SUPLEMENTOS FARMACÊUTICOS AOS LABORATORIAIS
É hábito os desportistas com alto rendimento utilizarem suplementos farmacêuticos, controlados pela Infarmed (Autoridade Nacional do Medicamento e Produtos de Saúde), para suprir algumas lacunas. No caso de Sara Moreira a falta de ferro no sangue faz com que sofra de anemia crónica, que levou a que recorresse, a partir de júnior, a suplementação à base de ferro. Desde aí a suplementação que vinha fazendo era somente à base de produtos controlados pelo Infarmed, fundamentalmente na reposição do ferro, para compensar esta lacuna, que é habitual na população mundial.
Só há cerca de um ano Sara Moreira começou a tomar os suplementos laboratoriais, sem controlo de qualquer autoridade em Portugal ou no estrangeiro, mas muito habitual em atletas internacionais, que podem através destes suplementos fixar e complementar alguma perda de nutrientes essenciais devido aos esforços realizados. Apesar de cientificamente a toma não ser generalizadamente aceite, preferindo muitos especialistas o foco na própria alimentação, a verdade é que muitos atletas usam suplementos. Inclusivamente o Departamento Médico da Federação Portuguesa de Atletismo tem orientações para não recomendar qualquer tipo de suplemento aos atletas internacionais, evitando casos como o ocorrido com Sara Moreira..
No início de Agosto deste ano, antes da ida para as Universíadas, Sara Moreira recebeu um novo suplemento indicado pelo seu nutricionista, Rui Runa, o “Top Launch”. A indicação de Rui Runa é que a atleta deveria ingerir este suplemento numa altura de enorme cansaço, dadas as duas competições consecutivas que teria no Oriente: as Universíadas e o Mundial de Ar Livre.
DAEGU E FIM DE AGOSTO, DADOS DO “CRIME” INVOLUNTÁRIO
Depois de ter estado nas Universíadas, que ditaram uma medalha de prata na prova de 5000 metros, Sara Moreira deslocou-se para Daegu, onde iria disputar os Mundiais de Ar Livre. As viagens, a época longa e a preparação para o Mundial foram momentos duros para a portuguesa, que até acabaria por não chegar aos resultados de que gostaria. O apuramento para a final dos 3000 metros obstáculos quase foi impossibilitado por um problema que poderia impedi-la de participar, depois de detetada a falta de identificação, por meio do dorsal, na câmara de chamada. A portuguesa acabaria por transformar a raiva em força e terminou num confortável terceiro lugar de série. Entre o apuramento e a final Sara Moreira acabaria por acumular cansaço e optou pelo uso do “Top Launch”, tal como o seu nutricionista lhe indicara. Foi um dia antes, o dia em que a vida de Sara Moreira iria mudar, sem que o soubesse...
Correu a final dos 3000 metros obstáculos no dia 30 de Agosto, onde voltou a acusar cansaço, terminando no 12º lugar, com a irreconhecível marca de 9.47,87 minutos, atendendo ao historial desta atleta. A obtenção da final seria, na mesma, um bom prémio pela época que teve, fornecendo à Organização a amostra de urina, obrigatória para todos os participantes, que à chegada a Daegu recebiam os recipientes próprios para o efeito, numa das maiores operações de anti-doping no desporto.
Ainda em Daegu, a 3 de Setembro foi conhecido o resultado da análise. Essa amostra de urina mostrou uma realidade surpreendente e que abalou a comitiva presente em Daegu, Sara Moreira tinha acusado positivo! Jorge Salcedo, secretário-geral da Federação Portuguesa de Atletismo, que mais tarde seria o relator do processo, teve conhecimento e essa realidade foi comunicada à atleta, que ainda efectuou a habitual contra-análise.
A 8 de Setembro a atleta foi suspensa provisoriamente pela IAAF, aguardando pela justificação da atleta e por um eventual pedido de redução de pena, decorrente dessa justificação. O processo decorreu sempre de forma silenciosa, porque em causa estaria não uma toma premeditada de um produto dopante, mas sim a desconfiança da contaminação do suplemento. À IAAF a atleta justificou o que poderia ter ocorrido, apontando logo o novo suplemento como possível causa do seu controlo positivo. Além de Sara Moreira apenas o coreano Hee-Nam Lim foi também apanhado no controlo anti-doping, neste último caso não se livrando de uma pena de dois anos, que não conseguiu justificar.
Oito dias depois da suspensão provisória, a 16 de Setembro, os cinco suplementos que Sara Moreira tomava à data foram enviados para o Laboratório de Colónia, especializado na análise de suplementos, na tentativa de despistar exatamente qual dos suplementos continha a alegada contaminação, o que poderia ajudar a justificar a inocência da atleta. Os resultados mostrariam que o “Top Launch” era de facto o suplemento contaminado com um estimulante, a Metilhexaneamina, tal como a justificação dada por Sara Moreira.
Os dados do Laboratório de Colónia foram relatados num processo argumentado por Jorge Salcedo, que reuniu ainda os restantes dados, para serem mais tarde analisados pelo Conselho de Disciplina. Este recebeu o relatório a 4 de Novembro, tendo agora a missão de analisar e decidir sobre o caso de Sara Moreira, para depois informar a IAAF da decisão tomada.
MAIS DE UM MÊS PARA SE ATINGIR A DECISÃO FINAL
No dia 9 de Novembro, após fuga de informação no processo que ditou a saída da notícia da suspensão nos jornais, Sara Moreira solicitou uma conferência de imprensa para explicar a situação, em conjunto com a Federação Portuguesa de Atletismo, onde estiveram a seu lado Fernando Mota, o Dr. Pedro Branco, Jorge Salcedo e o seu nutricionista, Rui Runa. No dia anterior a atleta até esteve na Gala do Desporto, onde era candidata a um dos prémios. Nessa conferência de Imprensa, na sede da FPA, foram dados a conhecer alguns dos detalhes do caso de Sara Moreira, bem como divulgados os resultados do Laboratório de Colónia. Numa tentativa de esclarecimento, o que ficou desta conferência de imprensa foi a inocência da portuguesa, apesar do processo não ter ainda qualquer decisão final.
O Conselho de Disciplina esteve a trabalhar no processo, na decisão de uma pena que poderia ir de Advertência a um ano de suspensão, neste último caso colocando em causa a participação nos Jogos Olímpicos. A IAAF foi consultada para uma atenuação da pena, provada que estava a inocência da atleta, que no momento do controlo colocou todos os suplementos que utilizava à data. Sensível à questão, face à prova de que Sara Moreira tomara um suplemento sem conhecimento da sua contaminação, a Comissão de Disciplina acabou por decidir por seis meses de suspensão, que era o mínimo que a IAAF admitiria neste tipo de caso.
Há uma semana atrás a IAAF, através do “Doping Review Board”, comunicou a sua aceitação dos seis meses de suspensão e ontem confirmou a sua decisão final, coincidente com o entendimento da IAAF, que foi sensível aos argumentos. Desta forma finalizou assim um processo, três meses e meio após o controlo positivo de Sara Moreira, em Daegu.
SARA MOREIRA ACATOU DECISÃO, COM UMA RESOLUÇÃO DE ANO NOVO...
Desde que o caso foi tornado público, Sara Moreira passou por momentos difíceis, apesar de continuar a treinar com a esperança de poder prosseguir em 2012 os objectivos que tinha em mente. Se por um lado a 9 de Novembro considerou ir para o tribunal arbitral do desporto, caso a pena fosse superior a advertência, ao Atleta-Digital considerou não o fazer, após conhecida a pena de seis meses : “Tenho de aceitar a decisão da IAAF. Não irei recorrer ao tribunal arbitral do desporto para não ficar fora dos Jogos Olímpicos”. A atleta tem noção da demora de um processo em tribunal, além da sua impotência de alteração legislativa porque “apesar de achar injusto não cabe a mim mudar a lei”. Sara Moreira, preocupada com a imagem negativa que este caso transmitiu, ficou infeliz pela pena aplicada, mas também infeliz pela posição de muitas pessoas da comunidade do atletismo, apesar de se declarar inocente, mas com a inevitável pena que é sempre aplicada aos atletas e por isso lamenta que “a única pessoa responsável seja o atleta”.
Sobre a parte nutricional, agradecendo o facto de Rui Runa, o seu nutricionista, acompanhar todo o processo, respondendo também perante o seu caso, Sara Moreira tem já uma resolução de Ano Novo, não tomar suplementos. A atleta que “não vai manter, nem vai mudar” de nutricionista, considera que esta situação não tornará viável a ingestão de suplementos daqui para a frente : “não me sinto em condições de tomar o que quer que seja e com quem quer que seja”. A única suplementação que irá ponderar é ao nível do ferro, uma suplementação que sempre tomou, desde Júnior, embora conheça também eventuais riscos à sua toma. A sua desconfiança sobre suplementos ficou para sempre marcada, numa carreira onde sempre se demonstrou contra o doping. Por isso a atleta mantém-se preocupada sobre o papel dos suplementos nas carreiras desportivas de outros atletas. A 9 de Novembro, na conferência de imprensa a atleta era clara : “O que está a acontecer comigo é uma lição para todos os atletas. Como eu, todos estamos sujeitos...”.
O SONHO OLÍMPICO MANTÉM-SE DE PÉ...A VONTADE DE IR À PISTA COBERTA É ENORME
Com a suspensão preventiva, Sara Moreira ficou já de fora da Taça dos Clubes Campeões Europeus de estrada e de corta-mato, além do Europeu de Corta-Mato. A pena aplicada, de 8 de Setembro de 2011 a 7 de Março de 2012 não a impede de estar nas principais competições do próximo ano, nomeadamente o Mundial de pista coberta, o Europeu de ar livre e os Jogos Olímpicos de Verão. E o desejo da atleta é mesmo estar em Istambul, no Mundial de pista coberta, porque “a vontade de competir é tão grande”. A presença no Mundial de pista coberta não está totalmente certa, embora, segundo os critérios de selecção, a atleta possa estar presente no evento através dos critérios mais abrangentes da IAAF, que considera as marcas obtidas a partir de 1 de Janeiro de 2011. Caberá depois à IAAF aceitar uma eventual inscrição de Sara Moreira, que terá de ser realizada ainda no período da pena, mas cuja participação no Mundial já será fora desse período. Em Istambul os Mundiais começam a 9 de Março, um dia depois do fim do prazo de suspensão de Sara Moreira...A decisão da sua ida caberá à Direcção Técnica Nacional, porque apesar da sua participação caber, em limite, dentro dos critérios, esta é uma situação muito específica que por exemplo permitiria à atleta de Santo Tirso estar no Mundial sem fazer qualquer prova de pista coberta desde Março deste ano, falhando também o Campeonato de Portugal...
Certa é a sua vontade para estar nos Jogos Olímpicos, competição para a qual já tem mínimos e que poderá preparar ao longo de 2012, não sendo certo que os Europeus de ar livre façam parte dos seus objectivos. Se mantiver a opção admitida anteriormente, os 3000 metros obstáculos serão novamente aposta, apesar de possuir mínimos nos 1500, 5000 e 10000 metros.
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Afinal podemos tomar todos, a federação autoriza e depois ainda nos defende.
E danos uma palminha nas costas, diz continuai, nós queremos é medalhas o resto não interessa.
Claro que agora tem que fazer o mesmo a todos os atletas... Afinal somos todos Portugueses ou não?
O so defendem quem querem?
É giro a dualidade de critérios...o coreano apanha 2 anos..a sara 6 meses!!
Vamos dar o top launch a todos os nosso atletas antes dos jogos, pois como estes sao em agosto, ainda vão a tempo de ir ao europeu da pista da coberta, pois estão a tomar um produto "contaminado"!
Só espero que a "Anemia" que teve em junior, tenha sido só corrigida com ferro e nao com outras coisas "contaminadas"...
Os regulamentos de 2010 implicam que um controlo positivo com metilhexaneamina tenha no máximo um abatimento de um ano à pena de suspensão, o que poderá levar Rui Costa e Mário Costa a ficarem afastados da competição durante um ano.
A substâncias não específicas são aquelas que, por norma, só podem ser ingeridas com intenções dopantes, pois não são usadas para qualquer tratamento médico. Está neste caso a metilhexaneamina, que não tem aplicações terapêuticas há algumas décadas. A confirmada presença desta droga em suplementos alimentares, sem que os desportistas saibam que estão a ingeri-la, deverá estar na base da mudança decidida pela AMA "
ent mas se o "top launch"já foi acusado como composto contaminado pelos irmaos Costa em 2010.. e eles foram castigados 1 ano......
1 ano depois outra atleta
com a mesma desculpa
com o mesmo produto.. desfruta de 6 meses??
não admira que ela esteja feliz... a mentira colou bem !
Viva ao doping!