Análise do ciclo olímpico (10000 m)

Quarta, 07 Dezembro 2011
Análise do ciclo olímpico (10000 m)

Os “Ruis Silva” têm dominado ciclo em masculino.

São quatro os atletas com mínimos para Londres e o ciclo até nem tem corrido mal na distância... 

Portugal tem nos 10000 metros uma das mais versáteis equipas europeias, com opções de excelência que não destronando recordes nacionais do passado, produzem uma profundidade de marcas muito aproximada de um passado de talentos. Ano após ano as medalhas nos 10000 metros têm acontecido, umas vezes em competições mais fortes do que outras. Será um género de “grito do Ipiranga” face ao poderio africano. No fundo o sucesso de Portugal nos 10000 metros, é um sucesso semelhante ao alcançado no corta-mato, onde maioritariamente os atletas fazem corta-mato no Inverno e 10000 metros no Verão. As duas federações ibéricas voltaram a promover a Taça Ibérica de 10000 metros, na tentativa de estimular ainda mais esta distância e o ciclo olímpico acaba por correr bem às cores nacionais, depois de em Pequim não ter estado nenhum atleta português nos 10000 metros...

DE RUI SILVA EM RUI SILVA, A LIDERANÇA FINALMENTE BAIXOU DOS 28 MINUTOS

Se tomássemos o primeiro e último nome apenas, a liderança seria sempre de um “Rui Silva”, mas Portugal tem dois na mais alta esfera, o que traz a necessidade da diferenciação. Rui Pedro Silva foi o mais regular neste ciclo, com três presenças no lugar mais alto dos rankings anuais de 2008, 2009 e 2010, uma distância em que se dedicou e o levou a marcar presença em algumas provas internacionais. Além de finais internacionais, Rui Pedro Silva conseguiu neste ciclo um segundo lugar na Taça da Europa da distância, disputada na Ribeira Brava, prova onde José Rocha também alcançou o bronze. Além destes também se começou a destacar na distância Youssef el Kalai, que na edição deste ano da Taça da Europa foi mesmo o vencedor, tendo sido nos dois últimos anos o segundo melhor português, sendo que em 2009 também esteve a um bom nível, mas nessa altura ainda com nacionalidade marroquina. Com a mudança de distâncias, quem veio revolucionar ainda mais os rankings, para melhor, foi Rui Silva, que agarrou a 100% a distância e neste ciclo foi mesmo o único a baixar dos 28 minutos, ao correr em 27.53,55 minutos. O seu desempenho deu uma final no Mundial de Ar Livre, em Daegu, onde foi 11º, ainda assim uma classificação que poderá ser melhorada nos próximos anos. Veteranos como Paulo Gomes (3º em 2008) e José Ramos (3º em 2009) acabaram por desaparecer do top-3 e a profundidade melhorou, ainda que longe da realidade das melhores marcas nacionais de sempre...porque por exemplo em 1976 já Carlos Lopes (27.45,71) tinha melhor marca que Rui Silva este ano e desde aí o recorde nacional já foi melhorado oito vezes, até chegar ao recorde de António Pinto, de 1999, com 27.12,47 minutos. A marca de Rui Silva é, ainda assim, suficiente para os Jogos Olímpicos de Londres, onde se espera que o atleta possa surpreender positivamente...

A juventude que vem debaixo pode até ser garante da sucessão nacional, porque atletas como Tiago Costa (28.52,11) ou José Costa (29.49,76), têm tido evoluções muito positivas e parecem dedicados a continuar em distâncias até 10000 metros nos próximos anos. Pena têm sido alguns dos casos de doping que impediram a progressão de outros atletas como Fernando Silva, Eduardo Mbengani ou Nuno Costa, atletas que em condição natural estariam com certeza a lutar por participações internacionais e a apetrechar as selecções nacionais na Taça da Europa e até em Europeus ou Mundiais...

Rui Silva
Foto : Filipe Oliveira / Atleta-Digital

TESTEMUNHO ENTREGUE POR FERNANDA RIBEIRO EM 2008, ÀS DUAS DO TOP-3

Não há dúvida que Fernanda Ribeiro é a verdadeira referência portuguesa na distância, depois de um currículo invejável obtido, com o topo a ser o Ouro olímpico em 1996. Não é, por isso, de estranhar que tenha batido o recorde nacional da distância por cinco ocasiões, a última das quais em 2000, quando nos Jogos Olímpicos de Sidney correu em 30.22,88 minutos. Aliás, com 39 anos Fernanda Ribeiro ainda foi a melhor portuguesa do ranking, num ano em que não houve qualquer participação portuguesa na olimpíada de Pequim, passando aí a ser marcado um novo paradigma da distância. Nos dois anos seguintes foi Inês Monteiro a liderar e em 2011 foi Ana Dulce Félix a melhor em Portugal, exactamente as duas atletas que completaram o top-3 do ranking nacional em 2008. Este passar de testemunho traz ainda alguns factos positivos, como o facto de, ao contrário do sector masculino, aqui as atletas se terem aproximado das melhores marcas nacionais de sempre. Por exemplo os 31.13,58 minutos de Inês Monteiro em 2010 faz dela a segunda melhor atleta portuguesa de sempre, assim como os 31.19,15 minutos de Jéssica Augusto e os 31.26,55 minutos de Sara Moreira fazem delas top-5 nacional de sempre. O ciclo olímpico foi até agora marcado por três medalhas individuais em Taças da Europa (Inês Monteiro, Sara Moreira e Ana Dulce Félix) e ainda pela medalha de bronze de Jéssica Augusto no último Europeu de Ar Livre, o que faz da equipa portuguesa uma equipa fortíssima na Europa e até no Mundo. Aliás, no último Mundial a equipa portuguesa contou com duas atletas na final dos 10000 metros, onde estiveram Jéssica Augusto e Dulce Félix, num ano onde Inês Monteiro esteve lesionada e onde Sara Moreira optou por outras distâncias. Por isso não estranha que actualmente Portugal conte com três atletas com mínimos para Londres, duas com mínimo “A” (Dulce Félix e Sara Moreira) e uma com mínimo “B” (Jéssica Augusto). Como é provável que Dulce Félix e Jéssica Augusto sigam a Maratona em Londres, resta aguardar que Inês Monteiro recupere da lesão e volte a esta distância para acompanhar Sara Moreira, se esta optar pela distância, recuperando assim a tradição portuguesa nos 10000 metros femininos.

Face a este domínio, o sector mais jovem tem tido dificuldade em impor-se e será mesmo uma incógnita pensar quem poderá dominar a distância no futuro. Serão Catarina Ribeiro, Carla Salomé Rocha ou Susana Godinho nomes a considerar para um futuro próximo?!

Inês Monteiro, Dulce Félix e Ana Dias
Foto : Filipe Oliveira / Atleta-Digital

MÍNIMOS:

Masc. A – 27.45,00 (nenhum atleta) | Masc. B – 28.05,00(Rui Silva)
Fem. A – 31.45,00 (Dulce Félix e Sara Moreira) | Fem. B – 32.10,00 (Jéssica Augusto)

RANKINGS

Masculinos:

2008 – 28.05,78 (Rui Pedro Silva) | 28.42,69 (Licínio Pimentel) | 29.15,22 (Paulo Gomes)
2009 – 28.01,63 (Rui Pedro Silva) | 28.15,44 (José Rocha) | 28.47,89 (José Ramos)
2010 – 28.17,39 (Rui Pedro Silva) | 28.39,60 (Youssef el Kalai) | 28.44,60 (José Rocha)
2011 – 27.53,55 (Rui Silva) | 28.20,03 (Youssef el Kalai) | 28.52,11 (Tiago Costa)

Nº de presenças nos Jogos Olímpicos :13 (1 em 1972, 1 em 1976, 1 em 1984, 3 em 1988, 2 em 1992, 3 em 1996, 1 em 2000 e 1 em 2004 )
Melhor marca em Jogos Olímpicos : José Ramos (2000) – 27.56,30

Femininos:
2008 – 32.07,54 (Fernanda Ribeiro) | 32.16,19 (Inês Monteiro) | 32.28,63 (Dulce Félix)
2009 – 31.25,67 (Inês Monteiro) | 31.30,90 (Dulce Félix) | 31.42,94 (Ana Dias)
2010 – 31.13,58 (Inês Monteiro) | 31.19,16 (Jéssica Augusto) | 31.26,55 (Sara Moreira)
2011 – 31.33,42 (Dulce Félix) | 31.39,11 (Sara Moreira) |32.06,68 (Jéssica Augusto)

Nº de presenças nos Jogos Olímpicos : 11 (2 em 1988, 3 em 1992, 3 em 1996, 2 em 2000 e 1 em 2004) Melhor marca em Jogos Olímpicos : Fernanda Ribeiro (1996) – 30.22,88

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Comentarios (2)add feed
enfim : Zeca Monge
Será que vai haver alguma 'analise' sem voces falarem de doping.. já chateia meus caros.. sempre a dizer o mesmo...
Dezembro 08, 2011
Enfim : Frankie
Penso que terá sempre de se falar em doping quando se analisa certas disciplinas porque a melhor atleta nacional de 1.500m a 5.000 m está sob suspeita de doping.

Penso que será só por isso. Penso eu...
Dezembro 16, 2011
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