Patrícia, a menina bonita de Clemson

Segunda, 01 Agosto 2011
Patrícia, a menina bonita de Clemson

Entrevista alargada à atleta que fez história na América.

Patrícia Mamona passou de jovem esperança a confirmação como sénior. O espírito é de sempre querer mais e o sangue que lhe corre nas veias é de adrenalina... 

A hora marcada para a entrevista com Patrícia Mamona era às 16:30, num café do Jamor, complexo desportivo onde está implantado o Centro de Alto Rendimento do atletismo e onde agora treina, sob orientação do seu treinador de sempre, o Prof. José Uva. Patrícia apareceu, sorridente como sempre, enquanto tentava desligar o som a uma televisão que existia no local. Prestável desde o momento da marcação da entrevista, começámos a explorar o passado desportivo da atleta. Como referência tem ainda recordes jovense ainda participações em competições internacionais, como o Mundial (de Juvenis???) e o Festival Olímpico da Juventude Europeia.

EB : Que recordações tens dos primeiros tempos de atletismo em Portugal?

PM : Tanta coisa! Lembro-me que o Atleta Completo foi para mim uma enorme surpresa! Comecei no atletismo com 13 anos, quando fiz corta-mato na escola...Na altura já tinha boas notas em Educação Física e o Prof. José Uva fez o convite para ir.

A verdade é que este convite seria um enorme desafio, até porque os pais não deixaram que Patrícia se juntasse ao grupo de treino que José Uva tinha na JOMA. Mas como sempre, com forte adrenalina e aquele espírito rebelde de qualquer criança, acabou por dar a volta..

PM : Eu tinha de sair de casa para treinar, sem dizer nada aos meus pais. Depois lá falámos e o meu pai lá aceitou, com a ajuda do Prof. José Uva. Desde que começaram a aparecer resultados os meus pais apoiaram sempre...até hoje!

A presença no Mundial e no FOJE foram também momentos recordados pela saltadora portuguesa, recordando a sua presença azarada no FOJE, com uma queda que deitou tudo a perder, aquelas coisas que marcam uma carreira desportiva, mas que se permitem recordar com um sorriso na cara. Da mesma forma recordou os amigos que fez na sua infância, durante alguns anos de treino:

PM : Ainda mantenho o contacto com muitos dos antigos colegas de treino. Pelo menos as relações que eram mais chegadas ainda continuam..

Estágio


Patrícia Mamona esteve em alguns estágios nacionais, como jovem promessa que era e lembra-se bem dos dois estágios que realizou em Alcanena, esta pequena localidade que tem sido um autêntico local de “culto” dos saltadores nacionais. Quando muitas vezes atletas criticam a “obrigatoriedade” na presença dos estágios, Patrícia Mamona não ignora a sua importância e a vantagem de os ter integrado enquanto jovem atleta.

PM : A importância desses estágios eram mais a convivência e ouvir explicações e dicas de outros treinadores. Muitas vezes essas dicas eram reforços daquilo que os nossos treinadores já nos diziam! Lembro-me bastante bem de Alcanena, foi importante para mim.

Já nessa altura o papel de José Uva, seu treinador, era muito relevante para a sua carreira e hoje esse papel permanece. Foi sempre o treinador que a acompanhou enquanto Patrícia Mamona esteve nos EUA, a partir de Portugal e foi sempre o treinador que a voltou a orientar em Portugal quando ela vinha para terminar a época de ar livre. A verdade é que quando chega às “mãos “ de José Uva, Patrícia consegue superar-se e terminar com a melhor marca da sua época na sua disciplina de eleição, o triplo salto, que a levou há um ano ao Europeu de Ar Livre, em Barcelona, onde conquistou uma surpreendente final e levou o recorde nacional para cima dos 14 metros pela primeira na história da especialidade...

Patrícia Mamona


EB : O Prof. José Uva é para ti o teu treinador de sempre ou um amigo?

PM :
Sem dúvidas as duas coisas. Desde pequena que foi sempre um grande amigo! É alguém que está sempre disponível para ajudar e cá em Portugal treino sempre com ele.

A decisão da ida para os EUA foi um momento de crescimento, após os vários convites feitos para que Patrícia Mamona representasse uma Universidade norte-americana, num sistema desportivo totalmente diferente do europeu, entre um povo bem diferente do que estava habituada. A decisão era difícil, mas o mais importante era a formação da menina portuguesa que gosta de desafios...

PM : Apareceu o convite e em conjunto com os meus pais estivemos a pensar acerca das várias propostas ...Para conciliar o estudo e o treino em Portugal era complicado, porque demorava 2 horas a ir para a escola e outras duas para voltar e isso invalidava, por exemplo, os treinos bidiários. Veio essa oportunidade e agarrei-a...

Mas o início da carreira de Patrícia Mamona em terras de Uncle Sam foi menos produtiva, em termos desportivos, do que era suposto. A primeira época foi de estagnação, num momento em que treinava com o treinador que a captou na Europa, o responsável pela equipa dos tigres da Universidade de Clemson, onde Mamona fez os seus estudos na área da medicina. Após uma época desastrosa da equipa, esse treinador acabaria despedido, sendo substituído por aquele que seria a sua sorte, Lawrence Johnson...

PM : O primeiro, o que me captou, senti que não fazia quase nada para eu melhorar. Nessa altura especializei-me mais nos saltos e isso nem era mau, mas ao nível do treino de força sentia que não fazia nada de muito específico, como fazia em Portugal. A equipa no primeiro ano não resultou e ele foi despedido. Felizmente o segundo treinador mudou a história toda! Ele era treinador da Virginia Tech e já tinha atletas olímpicos. Isso motivou-me imenso até porque ele já tinha orientado uma campeã dos NCAA de triplo salto. Foi sem dúvida a melhor mudança. Fomos logo campeãs universitárias de conferência e ali eu treinava muito e o meu ânimo aumento imenso.

O dia em Clemson, principalmente na pré-época, começa muito cedo, pelas 6:30 horas,para o primeiro treino do dia. Esse treino era mais composto por trabalho de musculação, corrida e muito treino de técnica. Após o banho, era tempo para ir para as aulas que iam até perto das 18:00, onde se dá o segundo treino, mais específico que o treino da manhã. O problema é que ser estudante, nestas condições, exije recuperar aulas perdidas ao Domingo, principalmente quando as competições ocupavam as 5ª, 6ª e Sábados. E para esta recuperação existem professores contratados só para o efeito, assim é o sistema desportivo norte-americano, que financia os atletas com bolsas de estudo que combatem os elevados custos dos cursos, mas que lhes exige um bom desempenho escolar e desportivo para manutenção das condições oferecidas. Mas nem por isso Patrícia se esquecia de Portugal...
PM : Tinha informações das pessoas mais chegadas, do pessoal de treino de cá, das suas marcas...estava sempre a par disso! Cá em Portugal tinha o meu treinador atento ao que eu ia fazendo lá e isso era importante...

O progresso na equipa dos tigres (a conhecida “pata” que representa o símbolo da Universidade de Clemson), começou com a entrada de Lawrence Johnson, que levou a equipa feminina ao título de conferência e elevou o estatuto de Patrícia Mamona dentro da equipa, pelos seus resultados. Os mais conhecidos são as duas vitórias nos NCAA (em 2010 e 2011) na prova de triplo salto, sendo os NCAA a competição máxima do desporto universitário norte-americano e o sonho de qualquer atleta...Desta segunda vez até derrotou a jamaicana Kimberly Williams, atleta já com imensa experiência internacional.

Patrícia Mamona


EB : Sentes diferença entre as duas vitórias nos NCAA? A marca desta segunda vez saiu prejudicada pelas emoções que disseste sentir após a vitória?

PM :
A primeira vitória foi uma surpresa, embora tivesse sido vice-campeã de Inverno, não estava à espera! Na segunda vez eu tinha a segunda melhor marca, apenas atrás da Kimberly Williams. Fui com o pensamento de ganhar e queria o recorde dos NCAA. Só tinha mesmo de competir, até porque sabia que estava bem! Sou uma pessoa que trabalho melhor quando puxam por mim e é isso que me ajuda a saltar mais e mais. Não acho que tenham sido as emoções a impedirem-me de bater esse recorde...

EB : Lawrence Johnson disse : “Ela esteve fantástica! Nós desenhámos um plano e ela executou tudo na perfeição”. Como comentas esta afirmação?

PM :
É verdadeira! (risos). Foi um plano complicado porque dei muito pela equipa e só depois de fazer um bom trabalho pela equipa é que ia fazer o triplo salto. O plano era ser das seis primeiras do Heptatlo e das seis primeiras no triplo salto...e consegui!

Agora a atleta portuguesa prepara o Mundial de Ar Livre, um objectivo que só pode ser concretizado se atingir os 14.10 metros, o passaporte que ditaria a sua ida a Daegu, no final de Agosto. Mas antes disso está certa a sua presença nas Universíadas, na China, onde pode coroar a sua vida académica com uma boa marca e quem sabe uma medalha. Apesar de gostar de estar em Portugal, para Patrícia Mamona existe uma enorme dificuldade em competir cá, pela falta de competitividade. O antídoto poderá ser a colocação de pressão em si mesma, um exercício que promete usar para tentar os mínimos...

EB : Agora em Portugal preparas o Mundial de Ar Livre...Sentes que podes chegar aos mínimos para Daegu?

PM :
Chegar, podia até já ter chegado há mais tempo. Já fiz 14 metros em treino, o que foi a primeira vez que me aconteceu! Tive uma época muito exigente e agora é uma fase difícil, em que é como que um arrastar da forma física. Deus queira que a marca saia! Estou muito focada para as Universíadas em qualquer dos casos..Não me ajuda em Portugal não ter competitividade e terei que tentar meter pressão em mim mesma...

Patrícia Mamona


Depois o objectivo para Patrícia Mamona será pensar nos Jogos Olímpicos e a decisão já tomada é que irá parar um ano nos seus estudos para dar tudo por essa competição. Apesar de ainda fazer o Inverno nos EUA, para preparar testes que lhe podem ser úteis após um ano para tirar a especialização dentro da medicina, o plano de treino será totalmente conduzido por José Uva, com apoio dos treinadores locais de Clemson. Já quanto à forma como poderá continuar a estudar nos EUA em 2012-2013 existem vários planos, sendo que ainda não tem decisões a esse nível...

PM : Ainda estou na fase do pensar! É certo que vou parar academicamente este ano para preparar os Jogos Olímpicos em Portugal. Depois disso ir para os EUA é o meu plano A, até porque é difícil fazer as equivalência do curso de lá para o de cá. Por ser estudante internacional é sempre mais complicada a minha permanência lá. Neste momento procuro bolsas de estudo, mas ando à procura de outras alternativas para me financiar. Arranjar uma marca desportiva que me apoie também é um dos planos. Neste momento o treinador dos EUA está a tentar arranjar um contrato desportivo para mim...

Ainda que esteja muito ausente de Portugal, Patrícia Mamona representa o Sporting, clube que não pôde contar com a saltadora portuguesa em provas importantes, como a Taça dos Clubes Europeus, situação que já poderá contar em 2012 caso a atleta se mantenha no reino leonino. Esta é uma necessidade até porque com a família maioritariamente em Inglaterra, tem de suportar os seus custos em Portugal. Mas nem era uma grande aspiração sua, quando ainda representava a JOMA...

PM : Quando estava na JOMA fazia atletismo para mim mesma e para o meu treinador. O JOMA era uma família e eu estava lá bem. Na altura não tinha qualquer tipo de aspiração de um grande clube...Agora com o tempo, com contas para pagar, comecei a sentir necessidade de estar num clube com condições de me permitir pensar ser atleta profissional...

JOMA


Uma coisa é certa, a aposta agora é a 100% no triplo salto e Portugal passará a contar com uma das suas jovens esperanças, que treina em permanência no Jamor, o local onde melhor se treina em Portugal na actualidade e que assemelham as condições de treino a outros grandes atletas mundiais. Esse terá sido um forte estímulo para a portuguesa, além de ter o carinho dos colegas de selecção e do seu treinador, não excluíndo passagens esporádicas nas barreiras, uma disciplina que também faz parte do seu carinho. E sem dúvida que o Sporting irá beneficiar da contratação de Patrícia Mamona, sendo uma pedra importante para a próxima edição da Taça dos Clubes Campeões Europeus, depois deste ano terem sido terceiras classificadas.

Aberta ao diálogo, Patrícia Mamona falou-nos também um pouco da sua vida pessoal e familiar, onde o sorriso e a felicidade de viver são sempre fáceis de identificar no seu rosto. A família é para Patrícia um enorme apoio. Da intransigência inicial de impedir Patrícia Mamona de competir no atletismo, a família agora só quer as vitórias desportivas e pessoais, nem que para isso se desloquem nos principais momentos. E nem a distância impede a existência de um forte amor familiar...

PM : A minha mãe tem sempre medo que eu me magoe. Já estava habituada a haver uma certa distância com a minha família, dado que eles estão em Inglaterra. No Natal vou sempre a Inglaterra para passar umas férias com eles. Os meus pais foram à minha graduação nos EUA, pedindo justificação em Inglaterra para estarem presentes no dia...

EB : E sentes-te mais portuguesa ou mais norte-americana?

PM :
Pergunta difícil! Eu, por mim, acho que estou igual a antes. Não sei bem, mas sinto-me bem como sou! O pessoal lá não nota o meu sotaque e há várias circunstâncias que até me perguntam se sou do Norte dos EUA, quando estou no Sul, e se sou do Sul, quando estou no Norte. É engraçado! Apanhei o inglês muito rápido, o que foi bom e eles nem desconfiam que sou portuguesa muitas vezes..

Como qualquer jovem os amigos são parte importante da sua vida e tem de os dividir entre os EUA e Portugal. Os contactos são muitas vezes feitos pelas redes sociais, onde o intrigante nome de “Tisha Tyga Bunikov” levam a pergunta obrigatória...qual o porquê? Mas igualmente curioso é o apelido de Patrícia (Mamona), que são alvo de frequentes piadas, que até parecem indiferentes para ela. Um nome “catchy”, como diz, entre tanto outros que viu nos EUA...O importante é que não lhe chamem de ‘Pati’, um diminutivo que detesta...

EB : Tens mais amigos nos EUA ou em Portugal neste momento?

PM :
Amigos mesmo amigos, tenho poucos! Mas os amigos em geral, diria que é metade-metade. EB : Nas redes sociais tens o nome de ‘Tisha Tyga Bunikov’. O que motiva esse nome?

PM :
(risos). ‘Tisha’ é o meu nickname, que prefiro em vez de ‘Pati’. ‘Tyga’ é um nome que a minha irmã adora e que decidi colocar para fazer a ligação com a minha família. ‘Bunikov’ é uma alcunha...O pessoal dos EUA diziam que eu era a menina bonita e a colocação do ‘kov’ é para dar ar de uma saltadora de alto nível, como aquelas saltadoras russas (risos).

EB : Alguma vez te sentiste aborrecida com brincandeiras feitas com o teu apelido? Alguma vez explicaste nos EUA as interpretações que foram sendo dadas ao teu apelido nas tais brincadeiras?

PM :
Aqui em Portugal já estava habituada! Lembro-me de piadas com o nome fossem por causa da sua semelhança à palavra ‘mamas’ ou por exemplo uma gira que me lembro que era : ‘ela tem esse apelido porque mama as medalhas todas!’. Mas até gostava porque era sinal que o pessoal me conhecia de alguma forma...é um nome catchy. Nos EUA cheguei a explicar-lhes as várias interpretações dadas em Portugal, mas eles até gostavam do meu nome. É engraçado porque haviam lá muitos nomes assim “catchy”. Lembro-me de uma atleta que tinha o apelido de Sunny (em português representa um dia de Sol).

Mas Portugal e o seu povo não deixam de ser alvo de admiração positiva por parte de Patrícia Mamona, mesmo depois de ter passado vários anos nos EUA. A curto-prazo a portuguesa não duvida que a sua vida pode passar por lá, até porque não conseguiria uma total equivalência de cadeiras num curso português. Nos EUA os vistos permanentes não são fácies de atingir por cidadãos estrageiros e o preço dos cursos aumentam com o aumento dos graus. A alimentação, os transportes são diferenças entre a vida dos dois países, mas fundamentalmente o povo não é de morrer de amores, nem no sentido mais literal...

EB : Pensas viver em definitivo nos EUA, ou apenas enquanto lá estiveres a estudar?

PM :
Não faço a mínima ideia. Depende muito do meu futuro. Gostava de criar os meus filhos em Portugal, prefiro que naquele ambiente. O college lá éuma completa loucura porque temos tudo pago. Faz parte do plano ‘A’ ter um visto permanente que me facilitaria imenso as coisas...

EB : Como são os teus hábitos de vida quando vens a Portugal e quando estás no EUA? Existem muitas diferenças?

PM :
Lá, ao pequeno-almoço, comem-se coisas mais quentes, como os ovos, bacon e assim...Aqui vou mais para os cereais, embora eu de vez em quando fizesse lá um mistos das duas coisas. Lá raramente comia sopa e em Portugal gosto de comer sopa. Os transportes aqui são muito melhores, enquanto lá para se andar à vontade tem de ser carro.. Só nas grandes cidades temos bons transportes e muitas vezes tem de se pedir boleia para irmos para algum lado..Já as pessoas de Clemson eram muito simpáticas. Quando passava na rua, sem as conhecer, diziam um enorme “Olá” como se fosse amiga delas. Mas em geral os norte-americanos são muito materialistas, na onda do show-off, por terem um bom carro ou algo do género e eu não gosto!

Após uma hora de entrevista, que acabaria por ser mais uma conversa entre dois seres, Patrícia foi fazer a recuperação para o treino seguinte, despedindo-se com a mesma alegria com que tinha aparecido, a mesma alegria que tinha demonstrado na marcação desta entrevista e a mesma intensidade com que sorriu quando em Estocolmo lhe havia perguntado se estava disposta a falar com calma sobre o seu sonho norte-americano...

Agora poderá preparar os Jogos Olímpicos em Portugal e o seu sonho olímpico é algo que persegue desde que começou nesta modalidade, o mesmo sonho que a fez aceitar o convite de José Uva, mais tarde o prazer de trabalhar com Lawrence Johnson e entretanto a felicidade de trabalhar novamente em Portugal para brilhar com as cores portuguesas...e para já continua a única portuguesa a saltar acima dos 14 metros e os 14.50 metros são a próxima grande meta, que a colocaria entre as melhores mundiais...

Reportagem : Edgar Barreira

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