[PUMBRIA11] O domínio queniano

Segunda, 21 Março 2011
[PUMBRIA11] O domínio queniano

A excepção ocorreu em juniores femininos.

Quénia continua como o país mais forte no corta-mato Mundial e isso ficou demonstrado no passado Domingo. 

Em Punta Umbria (Espanha) assistiu-se a um Mundial, onde a equipa da casa teve muita dificuldade em assumir-se perante uma onda de atletas muito fortes vindos de África. A Espanha acabou por ser muito modesta e a Grã-Bretanha assumiu claramente o papel de melhor selecção europeia, na generalidade.

A Grã-Bretanha conseguiu o 5º lugar em juniores femininos, com a sua melhor atleta a classificar-se no 15º lugar individual. Num pódio que até podia ser totalmente africano, a equipa japonesa salvou a sua honra e conquistou o terceiro lugar, atrás da Etiópia e Quénia, que lutaram ferozmente pelo primeiro lugar, ficando separados por dois pontos. Esta luta foi, aliás, semelhante à de 2009, quando ambas as equipas ficaram com o mesmo número de pontos, com o Quénia a vencer como este ano. Mas a Etiópia acabaria mesmo por ser a pedrada no charco e a única vitória colectiva sem que fossem as quenianas a pular no topo do pódio.

O cenário europeu ficou ainda mais complicado, quando nos juniores masculinos o melhor atleta europeu ficou classificado apenas no 39º lugar, uma má imagem de um continente que em tempos fora dominador do fundo internacional e onde Portugal apresentava uma das suas esperanças debilitadas. Todos os continentes conseguiram ter uma equipa com melhor classificação colectiva que o Velho Continente e a Europa, apresentou novamente a Grã-Bretanha num tímido 10º lugar colectivo e com a equipa espanhola novamente no 13º lugar. E aqui o pódio colectivo foi mesmo todo para África : Quénia (20 pontos), Etiópia (24 pontos) e Uganda (50 pontos). Que mais dizer?

Japão

Em seniores femininos, com um Portugal desfalcado e longe de sequer pensar no 5º lugar de há um ano e muito menos no 3º lugar de há dois anos, novamente coube à Grã-Bretanha o papel de melhor selecção europeia e aqui garantido o 5º lugar que Portugal não conseguiria de modo algum. Foi até uma agradável surpresa ver a tão jovem Charlotte Purdue, campeã de Juniores no passado Europeu de Corta-Mato, a mostrar-se no escalão sénior como melhor europeia. A outra agradável surpresa foi a aparição dos Estados Unidos da América, que começam a voltar a dar cartas no fundo internacional. Desta vez foi Shalane Flanagan a conseguir transportar a equipa norte-americana para um grande resultado, o 3º lugar colectivo, que condiz com o 3º lugar individual desta norte-americana. Quem ficou longe foi novamente Espanha (8º lugar), mas ainda mais Portugal, que se limitou a um desinteressante 12º lugar, não por culpa de ninguém, por culpa da ausência de uma segunda linha poderosa que permitisse substituir atletas como Dulce Félix ou Jéssica Augusto (ambas participaram no mesmo dia em provas de Meia-Maratona).

Tal como nos juniores masculinos, na prova de seniores masculinos o pódio colectivo foi preenchido pelas mesmas equipas e pela mesma ordem : Quénia, Etiópia e Uganda. E foi neste escalão que a Espanha se apresentou ao melhor nível, com a melhor selecção europeia (8º lugar) e melhor atleta europeu (Ayad Lamdassem em 16º lugar). Terá ficado guardada para o fim a alegria, ainda que pouco efusiva, que os espanhóis buscavam numa prova organizada por si próprios. Mas a selecção nacional, muito melhor do que tem sido habitual, bem que poderia ter mandado o balde da água fria, não fosse a igualmente fria desistência de Youssef el Kalai, de quem Portugal esperava mais depois do Europeu de Corta-Mato e da vitória no Nacional de Corta-Mato. Talvez fosse uma previsibilidade esta desistência, mas o público em geral desconhecia e infelizmente o que foi bom, poderia até ter sido melhor…Também foi aqui que ocorreu a única vitória individual sem ser queniana, por intermédio das pernas de Imana Marga (Etiópia), o único resistente do feroz ataque queniano composto por quatro atletas que perseguiam a todo o custo o etíope, que se aguentou até final…

MUNDIAL REPRESENTA FUNDO PORTUGUÊS EM CRISE?

O Mundial de Corta-Mato, já se sabe, é um palco de difícil afirmação das cores nacionais e ainda mais difícil quando várias selecções africanas apostam neste evento. Tal como a Europa, Portugal não fez aqui a aposta principal, mesmo sendo este Corta-Mato às portas do país e onde se deslocaram vários apoiantes nacionais, como se vê neste caso em relação ao estreante Marco Morgado.

Apoiantes de Marco Morgado

O que foi este público apoiar?! Acima de tudo apoiou uma selecção que tentou persistir numa prova de dificuldade extrema e onde a melhor afirmação europeia ocorreu por Purdue (Grã-Bretanha) no 14º lugar. Contra tantos factos poucos argumentos faltam, numa selecção que se debateu com a presença de um só júnior por género (ambos a classificarem-se perto da 50ª posição) e de duas equipas completas seniores. O que se poderia pedir a Sara Moreira, depois de se preparar exclusivamente para os 3000 metros de Paris, com poucos objectivos colectivos para lugar, face à ausência de três nomes fundamentais do corta-mato nacional actual (Dulce Félix, Inês Monteiro e Jéssica Augusto)? Como se poderia condenar Dulce Félix e Jéssica Augusto que tentam objectivos de longo prazo na Maratona ou Inês Monteiro, a contas com uma lesão? E porque não dar a oportunidade às atletas mais jovens, para que haja no futuro uma sucessão mais válida por parte de nomes como Carla Salomé Rocha, Daniela Cunha e Ercília Machado?! Em masculinos, um dia depois de se saber cá fora que Eduardo Mbengani caía num caso de doping, fazendo lembrar a situação da selecção espanhola quando se deslocou a Portugal para o Europeu de Corta-Mato, tudo poderia acontecer. E aconteceu bem, um resultado melhor que há um ou dois anos e acima de tudo com um Nuno Costa em boa forma, um atleta jovem e promissor que caminhou bem na sua incursão como sénior. Talvez tenha sido quase o melhor possível, exceptuando a já falada desistência de El Kalay, o atleta que trocou o seu clube pouco antes deste Mundial e que deixou o seu ex-treinador, Eduardo Henriques, órfão de um grupo de treino de bom nível, sabendo-se que muito provavelmente Mbengani também será carta fora do baralho nos próximos tempos…De Portugal talvez nem fosse óbvio exigir muito mais, de facto.

FALHAS TÉCNICAS E TRANSMISSÃO EM DIFERIDO NUM MUNDIAL SEM ECO EM PORTUGAL

Não foi este o Mundial do exemplo na lógica de quem o acompanha, quer localmente, quer em Portugal. Um sistema de acreditações que atrasou, atletas que não apareciam a cada passagem no sistema online de resultados e más condições locais de trabalho para os jornalistas. Numa altura em que falhava a comunicação entre os enviados especiais e a equipa de conteúdos em Portugal, o Atleta-Digital chegou a anunciar Susana Godinho como se a mesma não tivesse partido. No sistema de cronometragem aparecia mais tarde que a atleta não teria acabado e ainda hoje a atleta aparece desse modo nas classificações, apesar de ter terminado no 49º lugar. É incompreensível…

Claro que o apoio da comunicação social portuguesa a esta prova é pouco e o Atleta-Digital tem sido quase solitário na presença também neste evento, mesmo que sem as boas condições de trabalho. A RTP transmitiu o evento em diferido e as notícias que ocorreram nas horas seguintes ao evento foram poucas e insuficientes para o que de facto aconteceu em Punta Umbria…Realmente para se transformar num evento fantasma, será preferível optar por outro tipo de modelo. É que nem a constante mudança das equipas africanas ajuda, perderam-se algumas das referências mundiais e outras das referências, Lebid, Farah e outros, optam por nem correr o Mundial de Corta-Mato…

E claro, é muito difícil olhar para um Mundial de Corta-Mato, quando Portugal tinha a competir à mesma hora a Meia-Maratona de Lisboa, a Taça da Europa de Lançamentos e ainda a presença de Jéssica Augusto na Meia-Maratona de Nova Iorque. O que às vezes existe a menos, neste fim-de-semana existiu a mais e o Mundial de Corta-Mato foi apenas um facto curioso que aconteceu num dia de Domingo…

Para a história ficou a dignidade demonstrada novamente por Sara Moreira, mesmo que tenha passado ao lado a mensagem que a atleta passou com esta participação, a inexistência de Susana Godinho na competição, quando esta até teve uma participação dentro das expectativas e fundamentalmente uma Europa adormecida, a ser muitas vezes relegada atrás da maioria dos continentes. Onde estavam a França, a Rússia, a Turquia e outros, que têm dado tantas alegrias à Europa?

O próximo Mundial de Corta-Mato está ainda por definir, mas o certo é que será apenas dentro de dois anos, um modelo que pretende não banalizar esta especialidade.

Fotos : Bruno Araújo / Atleta-Digital

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Comentarios (1)add feed
Parabéns : JPM
GRANDE MARCO
Março 27, 2011
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