Meia-Maratona de Lisboa coroada de sucesso.
Os vinte anos da competição trouxeram a Lisboa atletas de elevada qualidade e o eritreu Zerzenay Tadesse foi o melhor da manhã ao bater os recordes de 20 Km (55.21 minutos) e Meia-Maratona (58.23 minutos).
Foi uma manhã de grande festa, a que ocorreu hoje em Lisboa, onde mais de 35 mil atletas atravessaram a Ponte 25 de Abril e onde a queda do recorde mundial, no sector masculino, permitiram que o Maratona Clube de Portugal, clube organizador, tivesse atingido os principais objectivos do evento, que comemorou com qualidade os seus 20 anos de existência.
CORRIDA MASCULINA COM LEBRES A FALHAREM...MAS COM TADESE MAIS FORTE
A prova masculina era a mais aguardada e justificou-se todo o aparato em torno do eritreu Zerzenay Tadese, que partiu como claro favorito à vitória e ao recorde do Mundo. A temperatura acordou Lisboa para a queda de um possível recorde mundial, mas o tradicional vento nas margens do Rio Tejo poderiam inviabilizar esse sonho de Carlos Moia e sua equipa: voltar a colocar a Meia-Maratona de Lisboa como a mais rápida do mundo.
O cenário começou a assemelhar-se com o que havia ocorrido no ano passado, com as lebres a falharem muito cedo e com o objectivo de passar aos 10 quilómetros em 27.40 minutos falhado, já que Tadese passou a essa distância já sozinho, em 27.53 minutos. Em busca do recorde mundial, Tadese iniciou uma corrida contra o tempo e em “negative-split” realizou os segundos dez quilómetros em 27.32 minutos, chegando aos 20 quilómetros com novo recorde mundial, agora fixado em 55.21 minutos (o anterior era do etíope Haile Gebrselassie, de 55.48 minutos), tendo falhado pelo meio o recorde dos 15 quilómetros por somente dois segundos.
Com a queda do recorde mundial dos 20 quilómetros e com uma grande margem para gerir até final, Tadese entrou na recta da meta já com o recorde na mão e com cara de esforço, que realizou até cortar a meta, quando o relógio parou o seu tempo em 58.23 minutos, novo recorde mundial da distância, derrubando o tempo que o queniano Samuel Wanjiru havia realizado em 2007 (58.33 minutos). O recorde de hoje apenas representou querer por parte deste atleta, que tinha até hoje como melhor o registo de 58.59 minutos. "Estou numa boa forma. A cada quilómetro fui conseguindo ter mais coragem e determinação e sempre acreditei que podia obter o recorde", disse Tadese que em Abril participará na Maratona de Londres.
O segundo melhor acabou por ser o queniano Sammy Kitwara (59.47 minutos) e já depois da hora de corrida terminou o também queniano Emmanuel Mutai (1:00.03 minutos), numa altura em que o calor já se fazia sentir na cidade de Lisboa. O melhor português acabou por ser Hermano Ferreira (Maratona) que no final estava contente, embora tivesse preferido o recorde pessoal (que continuou fixado em 1:02.53 minutos), acabando com o registo de 1:03.38 minutos, no 13º lugar. “É sempre bom correr uma corrida como esta”, disse no final o português, que usou a Meia-Maratona de Lisboa para preparar a Maratona de Viena (que será disputada a 18 de Abril).
 Peninah Arusei no final da sua prova, onde terminou isolada.
CORRIDA FEMININA LONGE DO MELHOR E COM FERNANDA NO PÓDIO
A prova feminina foi uma perfeita sombra do que aconteceu do lado masculino e nem a presença da campeã olímpica Constantina Dita (Roménia) permitiu uma prova mais rápida, já que essa defraudou qualquer expectativa ao não ir além do 9º lugar. A mais forte foi mesmo Peninah Arusei (Quénia) que correu isoladamente das restantes, para uma vitória em 1:08.38 hora, com mais de dois minutos de vantagem sobre a etíope Askale Tafa (1:10.46 hora) e quase quatro minutos sobre a portuguesa Fernanda Ribeiro (1:12.17 hora), que aos 41 anos veio a Lisboa arrancar um bom pódio, num ano em que não descarta a presença no Europeu de Ar Livre (na prova de Maratona): “Se acontecer ir ao Europeu, melhor ainda”. A fundista portuguesa considerou que já não se preocupa com as marcas e que por se ter desabituado à distância, acabou por “exagerar um bocado” até aos 15 quilómetros, com “a parte final a custar-me muito”. Mónica Rosa, que segundo Fernanda Ribeiro vinha a trabalhar bem na prova, acabou por ser a segunda melhor portuguesa, em 8º lugar, mas a chegar à meta esgotada.
O CLIMA DE FESTA ALIADO À PRESENÇA DE FIGURAS IMPORTANTES
A Meia-Maratona de Lisboa voltou a ser uma festa, com os mais de 35 mil participantes a fazerem a festa perante os olhares de alguns ex-atletas, como António Pinto ou Rosa Mota, actuais atletas, como Sara Moreira, Jéssica Augusto e Nelson Évora e entidades nacionais e internacionais, com presença de representantes de federações de atletismo de outros países, da IAAF e do Governo, onde o Primeiro Ministro, José Socrates, voltou a ser participante, antes mesmo de fazer a sua partida para a Líbia: “pode-se partilhar o desporto com milhares de pessoas”.
Também a presença do presidente da IAAF, o senegalês Lamine Diack, foi um importante marco para a organização. Diack, que já havia estado em Lisboa, marcou assim a sua primeira presença no evento considerando-o “fantástico”. Sobre o recorde de Tadese, o senegalês mostrou-se contente, não só com o recorde : “os atletas realizaram os seus sonhos de ser humano”. Acabou mesmo por ser Diack a entregar o prémio de primeiro lugar a Zerzenay Tadese, junto com um cheque de 50000 euros, que foi a verba prometida pela Organização a quem batesse o recorde mundial.
 Lamine Diack e o português Jorge Salcedo.
A SORTE DE CARLOS MOIA
No final Carlos Moia era um homem feliz pelo que foi conseguido no evento, onde pelo terceiro ano consecutivo se tentava colocar novamente a Meia-Maratona de Lisboa como a mais rápida do Mundo. Com Wanjiru (em 2008) não foi possível, com Gebrselassie (em 2009) também não e foi nesta edição (em 2010) que se concretizou o ditado “à terceira é de vez”. Foi precisamente na vigésima edição, com condições de temperatura quase ideais e com o vento a não soprar demasiado forte, que Lisboa voltou a ter um grande recorde.
Na conferência de imprensa Carlos Moia dizia isso mesmo: “tenho sorte na vida e tenho vindo a ter sorte noutras coisas”. Para Carlos Moia o bater de dois recordes mundiais, comemorar os vinte anos de prova de pessoas influentes na modalidade, com a presença da mais alta entidade do atletismo mundial (Lamine Diack) e sempre com uma participação em massa e “em democracia”, como referiu há dias, acabaram por ser alguns dos principais momentos do dia de hoje, onde quase tudo correu bem, até ao nível da Organização, cada vez mais experiente e rotinada.
ATÉ SERGINHO TEVE AUTORIZAÇÃO DA PRISÃO PARA CORRER...
Segundo classificado na mini-maratona, Serginho foi um dos destaques do evento, não pelo seu segundo lugar, mas porque este atleta, que correu no Maratona Clube de Portugal desde os 15 anos (até ao ano de 2004), teve autorização especial para estar 48 horas fora da prisão de Linhó, para poder participar no evento. Orientado por Rafael Marques, do Maratona Clube de Portugal, Serginho treina dentro da prisão, onde foi parar por tráfico de droga, depois de ter sido capturado em Espanha.
Esta participação foi alvo de uma menção especial de Carlos Moia, que assim apoia o atleta que funcionou de talismã do sucesso desta vigésima edição da Meia-Maratona de Lisboa. Para Serginho resta conseguir um emprego, para poder sair da prisão “a qualquer hora”, uma medida que o juiz que acompanha o caso autorizou, pelo comportamento deste jovem.
 Serginho, lado a lado com o novo recordista do Mundo (Zerzenay Tadese).
MEDIDORES INTERNACIONAIS PREPONDERANTES
Américo Chaves e João Antunes foram os medidores internacionais responsáveis pela homologação internacional do percurso e que permitiram que nenhuma irregularidade ao longo do percurso acontecesse. Marcada durante a madrugada, num dos dias da semana que passou, os dois medidores tiveram a responsabilidade de garantir que não iriam haver encurtamentos no percurso e foram até preciosos para o recorde, ao pedalarem em cima de uma bicicleta, indicando o percurso óptimo.
Para certificação deste percurso foi usada uma base de calibração de um quilómetro, com estes dois experientes medidores a garantirem com extremo rigor o cumprimento dos 21097.5 metros, todos corridos ao nível do mar, o que permitiu a homologação do percurso e respectivos recordes.
Reportagem : "O clima de festa da Meia" (por: Edgar Barreira)
Em breve centenas de fotografias do evento
RESULTADOS:
Femininos:
1. Peninah Arusei (Quénia) – 1:08.38
2. Askale Tafa (Etiópia) – 1:10.46
3. Fernanda Ribeiro (Portugal) – 1:12.17
4. Maria José Pueyo (Espanha) – 1:13.21
5. Olga Glok (Rússia) – 1:14.00
6. Ksenia Agafonova (Rússia) – 1:14.24
7. Elizaveta Grechishnikova (Rússia) – 1:14.29
8. Mónica Rosa (Portugal) – 1:14.35
9. Constantina Dita (Roménia) – 1:14.39
10. Cruz Silva (Brasil) – 1:14.58
(...)
13. Mónica Silva (Portugal) – 1:16.41
14. Filomena Costa (Portugal) – 1:17.13
Masculinos:
1. Zerzenay Tadese (Eritreia) - 58.23 (Recorde do Mundo de Meia-Maratona)
2. Sammy Kitwara (Quénia) - 59.47
3. Emmanuel Mutai (Quénia) – 1:00.03
4. Duncan Kibet (Quénia) - 1:00.21
5. Gilbert Masai (Quénia) – 1:00.28
6. Jaouad Gharib (Marrocos) – 1:00.33
7. Gedion Ngatuny (Quénia) – 1:01.07
8. Mathew Kisorio (Quénia) – 1:01.10
9. Samuel Kosgei (Quénia) – 1:01.57
10. Ernest Kebenei (Quénia) - 1:02.01
(...)
13. Hermano Ferreira (Portugal) – 1:03.38
14. Alberto Chaíça (Portugal) – 1:03.52
15. Luís Feiteira (Portugal) – 1:04.38
16. Euclides Varela (Portugal) – 1:05.30
 Final de prova da portuguesa Fernanda Ribeiro, que concluiu no 3º lugar.
 Conclusão do evento por Hermano Ferreira, o melhor português hoje.
 Vencedor masculino da prova de cadeira de rodas.
 O eritreu Zerzenay Tadesse festejou a sua vitória, muito esforçada.
 Carlos Moia ao lado do novo recordista mundial da Meia-Maratona.
Enviados Especiais : Edgar Barreira (texto), Filipe Oliveira (fotos) e Joana Oliveira
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Outros grandes nomes do nosso atletismo, quando viram que já não davam para grandes voos pararam, mas a Fernanda não para.