O clima da festa da Meia

Domingo, 21 Março 2010
Mini-maratona


A Meia-Maratona de Lisboa fez 20 anos e que melhor comemoração que a queda do recorde do Mundo?!

A minha participação ao nível da Meia-Maratona de Lisboa sempre foi ao nível da corrida e julgo até que foi nesta prova que obtive o meu recorde pessoal na distância, com um tempo ligeiramente abaixo da 1:30 hora. Só tenho boas recordações desta competição enquanto atleta, quer pelo convívio, quer pela confusão que ela é (típico de eventos com milhares de seres humanos) e também por um ritual que tinha com a minha irmã, indo os dois para o primeiro ou segundo grupo de partida. Lembro-me, exactamente em cima do tabuleiro da Ponte 25 de Abril, um atleta a dizer em voz alta : “A malta que corre aqui é malta que costuma ir para baixo da 1:20 hora” (eu “esgatanhava-me” para chegar abaixo da 1:30, a minha irmã era para cima de 2:00 horas, por isso riamos por dentro). Lembro-me também da confusão que era esperar pelo autocarro da Carris junto aos Pastéis de Belém, com filas intermináveis e esta “tradição” continua a manter-se, ainda hoje, pelo que vi.

Hoje estive pela primeira vez na competição no papel de jornalista, acompanhando a competição, ora dentro da tenda da Imprensa, ora no ecrã montado junto à chegada da prova e a sensação que a maioria dos jornalistas tinha era que bater o recorde era uma missão possível mas extremamente complicada e o desconsolo de ver novamente as lebres falhar aos 10 quilómetros trouxe-nos à memória a prova do ano passado, quando “Gebre” também perdeu as suas lebres.

A verdade é que o cenário do ano passado acabou por não acontecer, agarrando Tadese pelos cornos, o “boi da qualidade da marca”alcançada por Wanjiru anos antes e que constituia como recorde a bater. O “negative split” foi novamente a estratégia conseguida para o recorde, estando mais que provado que é a melhor forma de se baterem recordes mundiais e que poucos atletas conseguem realizar ao mais alto nível, tal o nível de preparação exigido...

Mas o evento foi muito mais que os recordes e mostrou mais uma vez que é um tremendo “agregador” de massas, um produto comercial de alta qualidade, um ritual para muitos e um momento de confraternização entre tanta gente. Só isso justifica a presença de pessoas de todas as classes profissionais, de todas as classes financeiras e que motiva o espírito de grupo ,a tal nação que corre à frente, como sugere o novo hino da prova, composto pelo músico João Gil, também ele participante.

Entre tantos entrevistados e conversas informais: Américo Chaves (CNEC), António Manuel Fernandes (Revista Atletismo), António Simões (A Bola) Arons de Carvalho (Record), Bernardo Manuel (AA Lisboa), Carlos Rosa (FAA), Carlos Moia (Maratona CP), Fernanda Ribeiro (atleta), Fernando Fernandes (CNEC), Fonseca e Costa (treinador), Hermano Ferreira (atleta), Jéssica Augusto (atleta), Jorge Salcedo (FPA/EAA), José Sócrates (Primeiro Ministro), Lamine Diack (IAAF), Nelson Évora (atleta), Sara Moreira (atleta), Sofia Coelho (A Bola), entre outros, a ideia que ficou foi a de um evento de qualidade, numa atmosfera de festa que propicia uma grande vontade de presença no local, mais não seja para vermos a actuar os “Cristianos Ronaldos” do atletismo, como tantas vezes ouvimos Carlos Moia “pregar” para o público português.

Hoje quando entrevistava o Serginho, ex-atleta do Maratona Clube de Portugal que foi apanhado a traficar droga em Espanha, percebi que este evento é realmente mobilizador, já que amavelmente a prisão o deixou disputar o evento e isso vale muito mais do que mil palavras ou mil perdões e mostram que o desporto pode ser muito mais do que uma mera actividade desportiva, mas também uma actividade que apela ao funcionamento da sociedade, tal como na Roma antiga os eventos nos Coliseus eram momentos de felicidade e alegria para um povo e que muito bem retratam alguns jogos de estratégia (como por exemplo o Civilization).

A presença de ministros e presidentes nesta competição mostra, também, que para eles é importante a participação, porque o povo espera ver lá o Primeiro Ministro ou o Presidente da República, porque o povo considera que a não comparência é até uma falta de respeito para todos os presentes e por isso o mais normal é ouvirem-se nas ruas a pergunta: “Epah, por acaso já viste por aí o Socrates?!”. Mas hoje o nosso actual Primeiro Ministro, José Socrates, foi mais que isso e pela primeira vez vi tal alta entidade preocupada com o próprio jornalista (não avaliando a verdadeira intenção sequer). Arons de Carvalho, jornalista do jornal Record e também da Revista Atletismo, abordava Sócrates sobre a sua presença no evento, mas rapidamente o Primeiro Ministro perguntava-lhe como estava a saúde do jornalista, tendo tido conhecimento que tinha tido um percalço de saúde recentemente e, de repente, o entrevistado era Arons de Carvalho. Foi obviamente um momento estranho e de rara repetibilidade, mas também mostra um Primeiro Ministro solidário, como muitas vezes não vemos e que fez questão de estar presente, momentos antes de viajar para a Líbia.

Não quero terminar, sem antes dar os devidos parabéns ao Maratona Clube de Portugal, que proporcionou a mais rápida meia-maratona de sempre na cidade de Lisboa, num dos locais mais turísticos em Portugal (Belém), com parceiros de grande envergadura, com toda a festa montada durante o percurso e com muito sangue novo e jovem, que se agregou ao evento. O futuro é dos jovens e esperemos ver de pé, muitas mais edições, desta Meia-Maratona de Lisboa.

Por: Edgar Barreira
Foto: Joana Oliveira / Atleta-Digital


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Comentarios (2)add feed
Belo relato! : Emanuel Vital
Para quem não pôde participar nessa festa, foi bom senti-la por dentro através do relato do Atleta Digital.
Obrigado Edgar.
Março 21, 2010
Belas memórias : Raquel Barreira
Escusavas era de ter denunciado que eu levava mais de 2 horas a chegar a Belém :p
Março 22, 2010
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