À conversa com o Prof. Moniz Pereira |
| Terça, 10 Junho 2008 | |
O Atleta-Digital.com esteve nos dias 7 e 8 de Junho em Faro, a acompanhar o Campeonato Nacional de Clubes, da 1ª e 2ª divisões. O clube vencedor foi o Sporting Clube de Portugal, quer em masculinos, quer em femininos, e Moniz Pereira “abriu” o coração à nossa correspondente, Joana Oliveira, com uma interessante conversa sobre o Sporting e sobre o seu grande amor, o Atletismo… Como acha que está a correr este nacional de clubes para o Sporting? Acho que está a correr normal, poucas pessoas o dizem, mas há 14 anos que somos campeões em femininos e há 12 anos para os masculinos, por isso está a correr normalmente. A 1ª jornada correu bem, por isso veremos a 2ª como correrá. Este ano a equipa feminina subiu à 1ª divisão na Taça dos Clubes Campeões Europeus! Quais as perspectivas para o próximo ano? No próximo ano teremos de reforçar a equipa, pois estando na 1ª divisão temos de melhorar alguns pontos fracos! Se fossemos para a 1ª divisão com esta equipa, muito possivelmente ficaríamos em 4º ou 5º lugar, por isso um reforço na equipa feminina, ainda não sei bem onde, mas terá que ser feito, tal como nos masculinos. 
Sente-se com força para estar no atletismo quanto mais tempo?Enquanto tiver saúde têm de me aturar (risos)…! Desde 1945 que sou treinador e nunca falhei nenhuma prova e espero não o fazer, apesar das dificuldades. As condições de trabalho não são das melhores e tendem a piorar o que não devia acontecer. Desde que nos mudámos para o estádio novo do Sporting (Alvalade XXI) deixámos de ter pista e então uns treinam no Jamor, outros na Inatel, depende um bocado. Antes levantava-me às 06:00, descia a rua e treinava…agora é difícil isso acontecer, mesmo assim enquanto me for possível farei esse esforço. Acha que tem alguém à altura para continuar o seu projecto no Sporting? (Risos) É difícil de esconder, não há ninguém insubstituível, e é óbvio que pode haver alguém capaz, mas tem de ser alguém que se entregue de coração e que goste bastante de atletismo, como do Sporting. O Sporting não é só futebol e é errado as pessoas pensarem o contrário. Tem de haver respeito por este trabalho pois não é qualquer um que consegue ter atletas olímpicos, marcas olímpicas, entre outras marcas importantes, tudo feito com muito trabalho e paixão, como já disse. Nunca pensei em vir a atingir marcas olímpicas, apesar de ser sempre esse o objectivo e para o qual um treinador trabalha. Ultrapassei, em muito, os meus objectivos, mas ninguém é insubstituível tal como referi anteriormente. Como são as condições para os treinos? Neste momento ainda não há condições suficientes para os atletas treinarem, já referi algumas dificuldades. Por exemplo no inverno muitas das vezes os atletas ou treinam à chuva ou não treinam, e mesmo que se realize o treino nunca é a 100% e como falei anteriormente os atletas não tem pista, portanto treinam em sítios diferentes. Quando tivermos uma pista coberta em Lisboa, aí sim, as condições vão melhorar bastante! Foi uma grande perda o espaço do mundial, mas as condições poderão melhorar. Estas foram algumas das perguntas colocadas, mas obviamente que as inúmeras histórias de vida proporcionam sempre momentos de real interesse, na voz de uma das pessoas mais importantes e influentes do atletismo português. Contou-nos ainda algumas curiosidades e deu algumas opiniões sobre o atletismo em geral. Ficámos a saber que Moniz Pereira não concorda com a Marcha atlética, “porque uma pessoa ou anda ou corre, nunca marcha”, ironizando, com alguma piada, acrescentou que mais valia os atletas correrem de costas... Com dificuldade de ouvir os resultados, confessou que não compreendia o porquê das pessoas gritarem para os atletas em prova, visto que eles deviam estar mais concentrados na prova do que propriamente no público. Aliás, até para realizar esta conversa foi por vezes complicado, dado o muito barulho que vinha das bancadas - em diversas oportunidades pediu ao público que fizesse menos ruído. 
Uma curiosidade final…durante esta agradável conversa, o Prof. Moniz Pereira contou-nos uma história da sua vida de treinador. Quando o professor chegava a casa, apontava os resultados de cada atleta num caderno seu. Por variadas vezes telefonavam para ele a perguntar qual tina sido o resultado numa dada prova ou o melhor resultado de um dado atleta, e ele, com esse livro, poderia dizer não só o melhor mas como todos os resultados daquele ano.Como nota final quero aqui expressar a profunda admiração que tenho por este senhor, o chamado “Senhor Atletismo”, e que como “rookie” nestas andanças posso garantir que nunca mais na minha vida esquecerei as conversas que tive com o Prof. Moniz Pereira, durante dois dias maravilhosos. Obrigada por esta oportunidade… Joana Oliveira. |
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Tanto como qualquer outra pessoa, Moniz Pereira pode gostar ou não de marcha atlética, tal como eu posso gostar ou não das mesmas actividades desportivas que ele. Ou dos mesmos pratos que ele. Ou do mesmo tipo de roupa, ou de pessoas, ou de paisagens. Mas não deixa de ser estranho alguém afirmar que uma pessoa nunca marcha, quando acaba de dizer que ela anda. E a autora do texto até achou «alguma piada» ao acrescento de que «mais valia os atletas correrem de costas». Onde estará a piada? Na implícita ridicularização dos marchadores? Na graçola barata? No tom ligeiro de uma personalidade grave do nosso desporto?
Esta entrada no tema da marcha logo me fez lembrar as ocasiões em que Moniz Pereira confundiu o gosto pessoal com os deveres profissionais e interveio institucionalmente contra a marcha, por regra com argumentos que, além de pouco rigorosos, relevavam mais da sua falta de apreço por esta disciplina olímpica do atletismo do que do dever de contribuir para o enriquecimento global do atletismo e do desporto nacionais. São dele comentários como «eu, marchas, só conheço as do arquinho e do balão», num registo que está ao nível alcançado por aquela passagem referida na entrevista acima.
Para não alongar ainda mais este comentário não refiro outros casos que guardo na memória, mas é o suficiente para concluir que palavras como estas proferidas por Moniz Pereira traduzem desprezo pelas pessoas que em Portugal se têm dedicado à marcha, muitas vezes com não menos dedicação e esforço do que o professor dedicou à sua actividade. Essas pessoas contribuem no dia-a-dia para que a marcha tenha registado nas últimas três décadas o crescimento ímpar que se lhe reconhece no conjunto do atletismo português.
É pena que, em tantos anos de dedicação ao atletismo, o prof. Moniz Pereira ainda não tenha aprendido a respeitar e a considerar o valor daqueles que, entregando-se a uma actividade de que o professor não gosta, o têm feito com dignidade altamente louvável. Muitas vezes em condições de muito maior dificuldade do que aquelas de que Moniz Pereira foi desfrutando ao longo da sua carreira.
Gostei do Comentário do Sr. Carlos Gomes, que só peca por estar a um nivel demasiado elevado, relativamente ao nivel da conversa do Prof. Moniz Pereira quando fala da Marcha Atlética bem como do nível da autora do texto quando achou «alguma piada» ao «mais valia os atletas correrem de costas».
Temos pena que existam pessoas assim no mundo do atletismo, bem como no mundo do Jornalismo.
Continuação de muitos êxitos para o atletismo Português - Atletismo Total (com todas as modalidades).
Pedro Martins
caro Carlos Gomes, caro Pedro Martins,
pela estima que tenho pelo trabalho de cada um, supondo que se tratam das mesmas pessoas que estou a pensar, só acho positivo que defendam a vossa especialidade. De forma pessoal, posso dizer que sou favorável a uma continuação da marcha dentro do atletismo e admiro, como já o disse diversas vezes publicamente, o trabalho desenvolvido pelo sector de Marcha ao longo dos anos.
A opinião do Prof. Moniz Pereira obviamente que só a ele pertence, e terá o direito em defender outra posição, não deixando também de ter a minha estima só por ter uma opinião diferente da minha.
Quanto à passagem da vossa discórdia: «Ficámos a saber que Moniz Pereira não concorda com a Marcha atlética, “porque uma pessoa ou anda ou corre, nunca marcha”, ironizando, com alguma piada, acrescentou que mais valia os atletas correrem de costas...», o que vos posso dizer é que o aqui "com alguma piada", não é de modo algum para atacar a Marcha Atlética, mas sim pela forma espontânea e engraçada com que o interveniente o disse. Não se deve ler entre-linhas que a repórter, a Joana Oliveira, queira aqui "gozar" com a Marcha Atlética e como tal quero deixar bem explícito que não estamos contra a Marcha (em muitos casos, bem pelo contrário).
Continuação de um bom trabalho e obrigado pelos bons resultados obtidos em Pequim.
veja só a diferença de elevação que pode haver numa tomada de posição acerca de um assunto, qualquer que ele seja. Não sei se o Edgar gosta ou não de marcha atlética (nem tenho nada com isso). Sei que estima a marcha, os marchadores e o trabalho que desenvolvem, como já tem demonstrado e agora reafirma. Mas sei outra coisa ainda: sei que, independentemente do seu gosto e da sua estima, o Edgar respeita e considera estas pessoas (e certamente todas as que no atletismo e na vida em geral trabalham de forma respeitável, digna). O mesmo não podemos dizer de quem profere palavras como aquelas a que nos temos referido. É aí que está a diferença.
Se houvesse um friso para os retratos dos nossos homens e mulheres que mais contribuíram para o desenvolvimento do desporto em Portugal, o do prof. Moniz Pereira estaria em destaque. É também a minha opinião. Só que, de cada vez que fala de marcha atlética, é como se ele próprio atirasse um tomate à sua própria imagem. Estraga a pintura com o ácido da intolerância. E isso já não é opinião minha, é uma penosa constatação.
Posso confessar que em termos de atletismo pouco conheço é verdade, descobri o mundo do atletismo há pouco tempo, mas respeito tanto, como admiro tudo o que envolve atletismo. Se por alguma razão acharam que ridicularizei ou gozei com alguma especialide, peço desculpa. Não foi minha intenção e acho que nem sequer o fiz, mas se tal coisa aconteceu e com foi meu primeiro trabalho como jornalista de atletismo..Acho que todos erramos e só temos de aprender com os erros, é isso que tentarei fazer.
Não ridicularizei a marcha atlética nem nada parecido, mas quando falei em “correr de costas” foi num tom irónico, não de gozo e na parte de “uma pessoa nunca marcha” pelo que sei a marcha tem 1 técnica d pernas e anca que uma pessoa normal no seu dia a dia não tem, por isso andar ou correr não é bem a mesma coisa que marchar.
Mas repito, não no tom de criticar ou gozar com a modalidade, mas sim irónico, referi tais palavras, espero que fique aqui esclarecido o inconveniente. A realidade é que cada um tem a sua opinião e temos que respeitar.
Ficarei feliz em receber a resposta. Muito obrigado!