Voluntários em formação (dia 6)

Quinta, 15 Agosto 2013
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Não é a primeira e não me parece que vá ser a última vez que falarei de voluntários neste portal. Lembro-me de há quatro anos ter referenciado o papel dos voluntários no Mundial de atletismo, em Berlim. Nos últimos dias tenho relembrado esse aspeto e hoje acabei por não resistir abordar o tema, depois de ter entrevistado a Raquel, uma das portuguesas com fortes responsabilidades neste Mundial. Em entrevista, que deverá ser publicada amanhã, ela explicava-me como ascendeu de voluntária a responsável e isso fez-me trazer não a história dela, mas a história de duas voluntárias que encontrei no autocarro durante o dia de ontem: a Nataliti e a Kristina.

A vantagem de estarmos a 40 minutos (no mínimo) de autocarro a partir do Estádio é a possibilidade de conviver, ou dormir (é sempre uma boa possibilidade para quem por vezes dorme pouco!). E foi ontem que encontrei duas simpáticas voluntárias que estão afetas à componente dos transportes, que depois do dia da vinda de Putin têm decorrido sem atrasos.

Nataliti e Kristina não se conheciam antes, até porque a primeira vive a 5 horas de carro da cidade de Moscovo. Kristina é uma jovem estudante de Educação Física na principal universidade local em Moscovo, sendo ainda treinadora de jovens ginastas. Infelizmente para Kristina, ela só fala russo, não falando inglês, ao contrário de Nataliti. “E porquê?”, perguntei eu. Aparentemente porque Kristina bocejava nas aulas de inglês e pouco queria saber delas, ao invés de Nataliti que arranha inglês, ainda que muito arranhado. Durante a nossa conversa partes da mesma foram feitas com recurso a um tradutor online que a Natalin tinha no seu telemóvel. Sinais dos tempos…

Percebi deste jeito que o facto da maioria dos jovens russos não saberem inglês, ou acontece por mera conveniência ou por mera preguiça de aprender uma língua que diplomaticamente se usa, mas que na prática se rejeita entre o povo. Há um certo orgulho nisso, pelo que agora percebo melhor a questão…Mas então como pode um voluntário estar num grande evento internacional e não saber inglês? Isto perguntei-me eu a mim mesmo durante o tal trajeto do autocarro.

Tentei ir mais longe e perguntar-lhes quanto recebiam para estarem na missão de voluntários, na expectativa de que essa resposta trouxesse diferenças para os tempos em que fui voluntário em eventos desportivos. A resposta é comum ao que acontece em Portugal, apesar de estarmos num país com mais capital e maior disponibilidade financeira: não recebem qualquer valor monetário. Todos os voluntários, são-no de facto, ainda que um conjunto de regalias lhes seja atributo, entre eles um equipamento completo da competição, para se diferenciarem dos demais – e como gostaríamos de ter um…

O que eu não sabia (e fiquei surpreso) é que a Organização está a utilizar uma parte destes voluntários para se prepararem para outros grandes eventos desportivos. Neste caso estaria-se a falar dos Jogos Olímpicos de Inverno, competição para a qual as duas voluntárias também se deslocarão e que se disputará em Sochi. Esta é uma cidade no sul da Rússia, perto da fronteira com a Geórgia, que fica a um dia de carro a partir de Moscovo. Segundo estatísticas mais apuradas, são 2000 os voluntários nesta situação de aquisição de experiência, escolhidos entre os 25 mil voluntários que estarão em Sochi. Natalin explicou-me que nesta aquisição de experiência, esteve também nas Universíadas, que também decorreram na Rússia, há cerca de um mês atrás.

De uma forma geral acabo por estar muito agradado com o trabalho dos voluntários. E entre eles já encontrámos um brasileiro, que no outro dia nos acompanhou aos tais Serviços de Inteligência para a inspeção das máquinas de fotografar. Entre voluntários existem muitos que acabaram recrutados em universidades, principalmente aqueles que eram estrangeiros e, portanto, poderiam dominar diferente línguas. É pena, de facto, que muitos não saibam inglês, ainda que nos pontos mais importantes, como o centro de imprensa, não faltem bons falantes da língua inglesa, que têm sido incansáveis na busca de respostas.

Em suma, um grande evento não sobrevive sem voluntários e este movimento que se tem gerado de há longos anos para cá, é cada vez mais um fenómeno internacional. Basta pensar que para Sochi existiram 200 mil candidaturas para o recrutamento de voluntários, cuja única coisa que pedem em troca é boa disposição, muitas conversas e excelentes amizades. São as artérias de uma Organização…

No final a boa disposição levou a uma fotografia fantástica e espontânea, para mais tarde recordar.





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