A cidade do tráfego e das colinas (dia 5)

Quarta, 14 Agosto 2013
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Viajar, assim como ler e analisar, é o reduto que qualquer um de nós tem para desmistificar os mitos que nos vendem e que nós compramos com a educação que nos obriga a tal. O número sete parece mágico quando se fala de cidades e as sete colinas é uma versão lisboeta de tantas outras cidades que reclamam ter sete colinas. A existir um Deus da criação, terá ele pensado no número 7 para erguer colinas e pensar que estas possam ser a condição máxima para se ser uma grande cidade deste Mundo?


Hoje, enquanto estávamos num Tour à cidade de Moscovo, percebemos que também esta cidade é possuidora das sete colinas e percorremos algumas delas, em busca do conhecimento de uma cidade que é vasta em tráfego automóvel e vasta em pontos turísticos, porém, pouco diversos. O primeiro balanço é o de uma cidade que tem uma identidade muito particular, numa aposta grandiosa, com forte impacto da cultura religiosa, assumidamente católica. Por questões históricas, a cidade de Moscovo é um museu aberto de cultura militar e ondem percebi que a segurança em torno do evento, sobre a qual já escrevi anteriormente, é ainda maior do que julgava. Num espaço que existe junto ao complexo desportivo, que terá 2 ou 3 hectares no total, a Organização centra toda a logística, onde guarda os gradeamentos e onde mais de 20 camiões militares, completamente cheios de militares, se encontram para o caso de qualquer acontecimento trágico ocorrer nestes campeonatos. Se imaginar um ataque terrorista por estas bandas, rapidamente concluo que um batalhão de militares instalará desde logo a sua força, muito para lá daquela força que é visível dentro do complexo desportivo – e não estarei a exagerar se entre seguranças, polícia e militares indicar o número de um ou dois milhares no efetivo presente a tempo inteiro…

Esta cultura militar tem séculos de história, desde as invasões napoleónicas, à II Grande Guerra Mundial, com a Rússia a dar a volta por cima quase sempre. Para quem goste destas questões, Moscovo é o grande palco da propaganda das glórias militares, mais do que noutras cidades que já visitámos e que nitidamente tentam dar esse lado da sua história. Há quem de facto continue o legado e a Rússia é um desses países.

Não deixa, contudo, de haver restinhos de espírito olímpico, numa altura em que esse espírito aumenta com a Rússia a acolher os Jogos Olímpicos de Inverno no próximo ano, em Sochi. Em 1980 este mesmo Estádio acolheu os Jogos Olímpicos e na ponta do complexo desportivo podemos encontrar tanto a tocha olímpica, ali colocada, como a mascote utilizada na altura. Ao longo do complexo vão aparecendo outros símbolos olímpicos, como os anéis que se encontram a cerca de 100 metros do estádio, ainda desenhados e mantidos no chão. Não deixa, contudo, de ser um espaço a caminho do abandono a curto prazo e de demolição a médio prazo, já que todo o espaço vai ser adaptado ao Mundial de Futebol, que decorrerá na Rússia em 2018. Esperemos que as memórias olímpicas permaneçam...

O Tour aconteceu numa tarde sem competições e uma boa maioria dos que estão neste Mundial aproveitaram para dar uma volta pela cidade. Por isso, qualquer local por onde tenhamos passado, as diversas acreditações ao peito indicavam quem era quem neste Mundial, deu para trocar experiência, fazer novos contactos, trazer hábitos diferentes dos nossos costumes. E em conversa com António Simões, do jornal A Bola, julgo que percebemos claramente o objetivo que a Organização pretende com esta questão: conhecer, despender e cultivar a imagem russa pelos próximos. Se a estratégia resultou? Julgo que sim…





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