Código de missão : Szentendre (dia 1)

Domingo, 09 Dezembro 2012


O que vos escrevo hoje é um género de missão quase impossível, aquela que é, de facto, a missão e o objectivo final da minha vinda a Budapeste. Depois de todos os quilómetros feitos, de todos os desvios realizados, de todos os esforços desenvolvidos, só tinha de tentar uma cobertura digna e ao nível de outras realizadas no passado.

E o início da missão era, pela segunda vez, tentar apanhar um avião que chegasse, em bom estado de preferência, à pista de Budapeste. Parece minimalista, mas queria de facto ter a certeza que, pelo menos, o avião descolava e aterrava nos locais devidos. Daí para a frente outras questões se colocariam, como é óbvio.

Comecei o dia na expectativa de fazer exactamente a mesma caminhada do dia anterior, mas em sentido inverso e mal saí do hotel comecei a pensar se a ideia seria boa. Nestes dias que já aqui passei habituei-me à neve e ao gelo e nem me passou pela cabeça que hoje houvesse a possibilidade de chuva. “Não interessa”, pensei eu e fiz-me ao caminho, sem um único abrigo, no escuro e perfeitamente consciente da necessidade da chegada ao Aeroporto. Os passeios estavam escorregadios do gelo, levando a um maior esforço físico, a relva estava molhada, levando a um desconforto nos pés, mas em espírito de missão as coisas desconfortáveis tornam-se quase indiferentes…

Chegado ao Aeroporto a primeira coisa que tentei fazer foi ir à loja de ontem, agradecer os préstimos das duas funcionárias que me indicaram o caminho para o Hotel e explicar-lhes que o próximo cliente que lhes perguntar como pode ir a pé até ao hotel, que basta indicarem o caminho e dizer que são 20 minutitos, nada de mais. Infelizmente nenhuma das duas estava presente. A segunda coisa foi tratar de fazer todos os procedimentos típicos de um Aeroporto. O primeiro desafio estava superado, o voo estava operacional, eu estava sentado na minha cadeira. Sem boas ou más publicidades tenho aqui de escrever sobre três diferenças fundamentais entre voar pela Ryanair ou pela Wizz Air (duas companhias low-cost).

Diferença 1 : Se a política de dimensão das malas da Ryanair é, já por si só, restrita, a da Wizz Air é híper-restrita, se considerarmos trazermos uma bagagem de mão para dentro do avião. As dimensões são cerca de dez centímetros inferiores e o controlo é igualmente apertado.

Diferença 2 : Se consideram a distância entre a vossa cadeira e a cadeira da frente curtas, se voarem na Ryanair, na Wizz Air essa distância é ainda mais encurtada, ao ponto de ser impossível não ter os joelhos encostados na cadeira da frente.

Diferença 3 :Percebe-se agora porque a Wizz Air é uma companhia tão low-cost e com tantos riscos de cancelamento associados (embora não tenha sido esse o problema que me levou a chegar atrasado a Budapeste) : em caso de nevoeiro alguns dos seus aviões não têm possibilidade de aterrar.

A segunda parte da história leva-me a fazer um flash-back. Ontem desenvolvi todos os esforços junto da Organização para que tivessem a gentileza de me irem buscar ao Aeroporto, já que a minha chegada ocorria após o começo das provas e queria minimizar as lacunas na minha cobertura jornalística. Entre mails, telefonemas e alternativas, foi combinado que alguém da Organização estivesse no local à hora da chegada do meu avião. Agora só faltava o avião não se atrasar….E confesso que temi por falhar esse objectivo, já que o avião saiu cerca de 30 minutos atrasado de Charleroi, com este atraso a dever-se a um avião cheio de gente (as políticas da Wizz Air não ajudam a despachar pessoas).

Chegado ao Aeroporto voltei a contactar a secção de transportes da Organização, que me confirmou ter um condutor à minha espera. E assim foi, alguém me esperava com um daqueles papéis que têm o nome da pessoa, à chegada ao terminal de Aeroporto. Ele esperava ainda outro jornalista, vindo da Bélgica, que não tardaria em chegar ao local. Perfeito, tudo estava a correr de feição. Agora esperava-nos um percurso de 40 minutos de carro até Szentendre, o local onde o evento já se realizava.

Durante a viagem aproveitámos para debater várias questões relacionadas com o desporto, com a vida em geral, com os estilos de vida dos países europeus e tanto mais. O condutor era comunicativo, experienciado em competições internacionais, um daqueles voluntários que percorre tudo o que é eventos desportivos em Budapeste. E é nestas coisas que uma viagem pode, de repente, ficar tão rica de conteúdo, mais do que de paisagens ou castelos.

Chegados ao local colocou-se um novo problema para mim : sem acreditação não teria acesso aos atletas e à zona de trabalho. Como resolver agora isto?! Expus o problema ao condutor, que aliás já tinha exposto ontem junto da Organização e desta vez ele não tinha capacidade de resolver o meu problema. Deixou-me, porém, junto ao percurso, na zona do público e durante esse momento deu para eu ainda conseguir ver a passagem da última volta das atletas sub-23. Ufa, afinal “só” perdi duas das seis corridas, algo que era para mim o melhor dos cenários possíveis…

E eis, quando de repente sou abordado. Era o condutor, que trazia consigo a sua filha, que era a responsável pela secção de transportes na Organização. Despedi-me do condutor com um abraço e segui com a sua filha em busca da acreditação. Ela levou-me a diferentes locais, falou com diferentes pessoas, moveu todas as influências que tinha em posse e “voilá”, acreditação na mão. Incansável esta família de voluntários que se podia ter alheado do meu problema, mas que se moveu para resolvê-lo o mais urgentemente possível.

A partir daí foi montar tudo, tentar minimizar estragos, escrever o que estava para trás o mais rápido que conseguia, enquanto já decorria a prova de sub-23 masculinos. Confesso que nunca pensei escrever tão rápido com os dedos tão gelados. O frio era imenso, parecia ser daqueles dias frios portugueses, com o ar a cortar-nos as “guelras”, mas novamente o espírito de missão ultrapassa quase tudo. Entre a missão de fotografar e escrever, a correria não foi pouca, as escorregadelas também aconteceram em frequência elevada e a queda acabaria mesmo por ocorrer. Nada de grave, felizmente!

Acabado o trabalho, onde não tive a calma necessária para absorver realmente o evento, a minha decisão foi sair rapidamente do local e ir directamente para a cidade, porque o frio era considerável, o cansaço também e a busca pela cama do hotel era necessária. Já não era de todo possível apreciar a cidade de Budapeste, já não era fácil chegar junto da selecção portuguesa, para tentar um depoimento técnico (apesar de tentativas telefónicas). No que restou do dia, em resumo, acabou por não ser mais do que um jantar, um copo e uma ida para cama, desenvolvendo algum trabalho pelo meio, no rescaldo da competição. E isto porque amanhã é dia de acordar muito cedo, para regressar a Portugal. Amanhã, ou daqui a 4 horas mesmo?!

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