De volta a Charleroi (dia 0)

Sábado, 08 Dezembro 2012


Quando imaginei a minha ida até ao Europeu de Corta-Mato, em Budapeste, estaria longe de imaginar várias coisas. Primeiro que teria um voo cancelado ; Segundo que pela primeira vez iria aterrar num aeroporto de uma cidade a meio de uma competição ; Terceiro, que iria voltar a Charleroi (!). Pensei que a viagem, sim, iria ser cheia de destinos diferentes, já que o programado seria voar de Lisboa para Amesterdão, depois apanhando um comboio de Amesterdão para Eindhoven. Daí sairia para Budapeste, com o regresso a fazer-se por Barcelona, antes de chegar a Lisboa novamente.

Na sexta-feira, quando chegado ao Aeroporto de Eindhoven, vendo o voo cancelado e tendo de tomar decisão de viajar para Charleroi para eventualmente conseguir chegar a Budapeste a tempo, pensei : “oh meu Deus, eu que quase tinha jurado nunca mais voltar a Charleroi…”. Não que odeie a cidade, mas definitivamente é um local que desde o primeiro momento que visitei está longe de estar nos meus destinos predilectos. Se da outra vez, também para ir para um evento, fiz uma mera escala de 4 horas, aqui implicava pernoitar e para quem conhece Charleroi, pernoitar é uma missão difícil, pela pouca escolha que costuma existir e, principalmente quando a marcação é feita tão em cima da hora, é relativamente cara…

Pois bem, para chegar a Charleroi por tantas outras localidades teria de passar. Deixei a pousada onde estive pela segunda noite, muito agradável por sinal, para me dirigir à estação de Eindhoven. Depois de comprar alguns mantimentos para o caminho, dirigi-me à plataforma principal da estação para apanhar um intercidades . O primeiro destino era a cidade que tem história (pelo acordo internacional aqui obtido), a cidade de Maastricht, ainda na Holanda. Com 5 minutos de atraso já foi impossível apanhar o meu segundo comboio e, digo agora, ainda bem que assim foi. Tive uma singela hora para visitar a cidade, o que no fundo correspondeu a uma ida até ao rio, apressando-me no regresso, até porque este rio possui uma daquelas pontes que abre para que os barcos passem e sinceramente não me queria arriscar a ficar na outra margem e “ver o comboio passar”. Será difícil fazer um juízo de valor sobre a cidade, mas mantendo a traça e o estilo de vida holandeses, tem ainda um aspeto muito interessante, mais a tender para o estilo de cidade belga, mas sem parecer uma cidade demasiado escura, e de forma alguma imunda.

Desta vez cheguei a horas para apanhar o comboio regional que me transportaria a Liége, um comboio muito menos confortável, ainda assim mais simpático que os comboios regionais portugueses, para uma curta viagem que não chegou a uma hora. Apesar de curta, esta viagem marcou algo de diferente nas minhas viagens ao estrangeiro: pela primeira vez passei uma fronteira por via ferroviária. E é interessante também o facto de ter percebdo isso quando ao meu telemóvel chegou a típica mensagem escrita sobre as tarifas praticadas no novo país. Tinha acabado de chegar à Bélgica e o meu destino estava próximo. De Liége só conhecia o famoso clube de futebol (Standart de Liége) e agora só passei a conhecer mais uma coisa : a estação. O transfer para um novo intercidades, este sim com destino final de Charleroi foi bem sucedido e voltei de novo a um comboio confortável, ao estilo dos comboios holandeses.

Antes de relatar a minha chegada a Charleroi, destaco dois contrastes claros que fui encontrando progressivamente na minha viagem. Passámos de longos campos agrícolas, planos e cobertos de neve, na Holanda, para vales cavados entre montanhas e quase ausentes de neve, do lado belga. Estas diferenças foram bastante evidentes para mim e talvez por isso deduza imediatamente que preferi passar pela Holanda do que pela Bélgica. Também o estilo do edificado ao largo da linha de comboio é bem menos aprazível na Bélgica do que na Holanda.

De quem vem de qualquer cidade holandesa e chega a Charleroi encontra um enorme contraste na cultura. Tudo é mais escuro, a cidade é tudo menos arquitectonicamente estética, tudo é de facto mais velho. Na Holanda quase toda a gente fala inglês quase tão bem como fala a sua língua materna e em Charleroi os únicos restos de inglês que encontro são abaixo do meu nível de inglês, o que realmente é preocupante para quem precisa de andar pela cidade. O francês impera em toda a Bélgica e tal como ocorre em França ou na Suiça, a perspectiva dos habitantes locais é : ou sabes francês, ou sabes francês. Na chegada também se percebe logo a sensação de perigo, não só pelos locais, como pelas rusgas policiais que não são feitas com o ar satisfeito de dois polícias que são simpáticos, mas sim com cerca de uma dezena de polícias que têm um ar rude, mal disposto e acompanhados de um cão de raça potencialmente perigosa. Claro que quem não deve não teme, mas o cartão de visita fica logo ali bem apresentado….

Aproveitei para visitar um pouco da cidade, passando por locais que já me eram familiares ao olhar. Tomei um lanche exactamente no mesmo sítio, até a mesma mesa, onde tinha jantado da outra vez com o meu colega Filipe, que desta vez ficou em Portugal, por causa de um evento que organizámos hoje nas Caldas da Raínha. Não deixa de ser estranho como esta cidade considera o rio um grande obstáculo, sem uma zona ribeirinha que se interligue ao rio. Eu estive a olhar para o rio a cerca de 10 metros de altura e a única zona mais próxima ao rio que existe está actualmente encerrada e tem um aspeto potencialmente perigoso, a avaliar pelo tipo de arte urbana lá representado…

Junto à estação existe a zona de autocarros, onde poderia apanhar o autocarro para o Aeroporto e novamente uma rusga, provavelmente em busca de droga já que o colectivo policial andava por onde o cão andasse. O autocarro, à pinha, ia para o Aeroporto, mas o meu objectivo não era viajar, mas sim procurar o hotel. Pela primeira vez tentei ficar alojado o mais próximo do aeroporto que podia e este hotel parecia próximo, vendo pelo mapa. No Aeroporto fui extremamente desaconselhado a ir a pé até ao Hotel, mas a alternativa era o táxi, com um custo fixo de 8 euros. Quebrei o conselho do táxi e fui procurar informações sobre a forma de chegar a pé ao hotel.No balcão de informações estimaram 45 minutos a pé, numa superfície comercial indicaram-se 5 quilómetros. Apesar das duas informações juntas, correlacionadas, estarem aparentemente corretas, a minha previsão era bastante diferente. Já não tinha o mapa comigo, mas pedi à rapariga da loja que me fizesse o seu mapa mental até ao hotel. Confesso que apesar do seu péssimo inglês, o seu esforço em explicar-me foi inesgotável e o seu desenho foi tão rigoroso quanto possível e foi tão precioso que me levou ao sítio certo. Cronometrando, apenas 15 minutos a pé…O caminho, é certo, não foi feito para peões, há zonas que são até proibidas por lei aos peões, mas nada que caminhar sobre ervas, relva e uma pequena conduta pluvial não resolvam. Apenas uma das partes é, aparentemente, mais perigosa, principalmente de noite, por não existir qualquer foco de luz. Contudo, os cerca de 200 metros sem luz não justificam o receio que se possa ter para chegar finalmente ao Hotel.

O Hotel estava cheio de gente, continuando a entrar pessoas até perto das 22 horas, dado que vários voos foram cancelados também em Charleroi, além dos Aeroportos vizinhos. As únicas formas de jantar aqui eram : pedir uma pizza numa máquina exterior ao hotel, comer um snack ou tirar uma comida pré-confecionada de uma máquina. Optei pela última, mas a máquina estava longe de viver dias de saúde eléctrica…Só após várias tentativas de reinicialização da máquina me foi possível chegar à tão desejada refeição, uma espécie de Lasanha, que se não me matar, com certeza não me irá fazer muito bem. Mas entre isso e nada, que fosse a Lasanha. Apesar de tudo estava saborosa e o resto da resposta dependerá do meu estômago e intestinos, que normalmente dão a resposta sem eu lhes perguntar nada…

Apesar da estadia, o tempo tem sido de trabalho, não só na preparação para o Europeu de Corta-Mato, como na resolução de trabalhos com os colaboradores que ficaram em Portugal. É, assim, o mundo globalizado ao seu melhor estilo. Confesso que a viagem está a ser riquíssima de detalhes e de apreciações que guardarei para minha memória futura, para à mesa de um café passar largas horas a contar aventuras. Mas também confesso o meu desânimo por não conseguir acompanhar todo o Europeu de Corta-Mato, se é que vou mesmo conseguir acompanhá-lo. Os contactos que tenho feito com Budapeste são aparentemente favoráveis no que toca a acompanhar a maioria das provas, só não sei em que condições. Mas deixo esta parte para o diário de amanhã…agora é tempo de descansar!

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