Finlândia e a Fino-Escandinávia (dia 2)

Quinta, 28 Junho 2012


Hoje não vos trago uma aula de geografia, mas trago-vos paralelismos entre povos e costumes. Há três dias na Finlândia já se começa a perceber a dinâmica de um povo que tem os costumes nórdicos, não fosse parte do que se designa de forma comum como Países Nórdicos, compostos por Noruega, Suécia, Dinamarca, Finlândia e Islândia. Este conjunto de países partilha entre eles o frio, os olhos claros, os cabelos igualmente claros, a forte ligação com a água (ou com o gelo?) e uma forte cultura assente em valores distintos de outros países mais sulistas, como é o caso de Portugal. Mas há diferenças entre eles, em todo o caso…

Há um ano estava mais ou menos nesta altura em Estocolmo, na Suécia, acompanhando um estilo de vida mais certinho que um relógio, entre os imensos relógios que a cidade tinha. Aqui não há relógios, aqui não há qualquer indicação das horas. O povo é igualmente fechado enquanto lúcido e a beber água ou líquido gaseificados, o que se transforma totalmente em algo diferente nas noites em que enchem pubs para beber litradas de cerveja, uma bebida muito apreciada, além de todas aquelas outras bebidas com mais teor de álcool. Aqui há muito mais bicicletas que em Estocolmo e é um hábito tão saudável de se ver como de se praticar, imaginando que tais corpos magrinhos, mas trabalhados, provêm desta atividade desportiva, entre tantas outras. E é aqui que faço uma pausa nas diferenças, para introduzir a temática da “bina”, da “bicla”, da “bike” ou da “buga”, como em Aveiro se chama (ou se chamou?).

Andar de bicicleta é em Helsínquia um fator de deslocação para o trabalho, de gente bem vestida e que não se está a preocupar com o suor produzido, até porque a temperatura ligeiramente fria da rua ajuda a arrefecer a temperatura humana. Os declives não são extremamente acentuados, mas existem e, apesar de não ter visto até agora aqueles monstruosos parques de estacionamento para bicicletas, vejo jardins cheios delas, agarradas a postes, árvores ou simplesmente deitadas no chão. As ciclovias são muitas e as regras de trânsito sobre duas rodas rodadas ao pedal são tão exigentes como se fossem carros. Há dois dias circulava a caminho do alojamento, quando ouço alguém gracejar qualquer coisa em finlandês e com tom aborrecido. E não é que eu estava mesmo no meio de uma ciclovia?! Não me tinha apercebido, mas normalmente ao lado de uma via pedonal está quase sempre uma ciclovia, com um tom mais avermelhado, como internacionalmente se reconhece. O foco nas bicicletas e nas pessoas que andam a pé é tal que os sinais de trânsito para carros acabam em algumas zonas por estar menos tempo com sinal verde que para os restantes e esse é o fator principal pelo qual há um trânsito pouco visível e frequente nesta cidade, pelo menos pela cidade que tenho conhecido…

E é a partir deste ponto que volto às diferenças pegando pelas regras para velocípedes e caminheiros. Tanto em Berlim, como em Estocolmo passar um sinal vermelho para peões era visto com mau olhado, com esse mau olhado mais intenso em Estocolmo do que em Berlim. Lembro que em Estocolmo um sueco espera pelo verde, passa a passadeira nesse momento e nunca, em momento algum, opta por sair da sua zona de passagem, a passadeira. Em Helsínquia, se é verdade que maioritariamente as pessoas se regulam dessa forma, por outro lado o desleixo acaba por ser um pouco maior, vendo-se com muito mais regularidade a quebra das regras de trânsito, como um bom português está deveras habituado.

E é aqui que finalmente chego ao propósito do título deste texto, a representação da Finlândia na designada Fino-Escandinávia. Apesar da influência sueca na Finlândia (é a segunda língua oficial, aprendida pelos finlandeses durante o trajeto escolar), a Finlândia não faz parte do habitual grupo de países que é designado por Escandinávia (Noruega, Suécia e Dinamarca). Apesar de no passado ter sido fortemente atacado pelos países vizinhos, a Finlândia não partilha fortes semelhanças linguísticas com os seus vizinhos, não teve ligações passadas com a monarquia escandinava e tem por outro lado a influência russa na parte este, com a cidade de San Petersburgo relativamente próxima. Por esses e tantos outros motivos a Finlândia não é Escandinava, pelo que o pomposo nome de Fino-Escandinávia represente melhor o grupo de países da Escandinávia com a Finlândia incluída.

Hoje a medalha de Sara Moreira acabaria por ser num local indigno, esta que foi uma medalha digna e com forte alegria para a comitiva nacional presente. Talvez ainda fale no decorrer destes campeonatos sobre as cerimónias de medalhas, mas hoje não caberá tal tema neste texto. Faz-me falta a cama…

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