Istambul e os seus costumes (dia 3 e 4)

Terça, 13 Março 2012


Com a intensidade do Mundial (no última dia) e com os tempos livres a serem preenchidos por atividades pela cidade, sobrou para um único diário (de dois dias…) a atividade do Atleta-Digital por Istambul. O roteiro incluiu visitas à Mesquita Azul, ao Hagia Sophia, no domingo, além de um tour pela cidade. Esse tour foi oferecido pela Organização, que disponibilizou aos jornalistas um autocarro com uma guia que nos foi mostrando a cidade. Na chegada à Mesquita Azul a explicação, ao frio, sobre o referido monumento acabaria por ser tão extensa, obrigando que um jornalista mais entediado a interpolasse diretamente sem papas na língua : “já sabemos, mas agora poderemos finalmente entrar?!”. Diria que o clima ficou ainda mais frio…

Frio era também o chão da Mesquita Azul, palmilhada pelas plantas dos pés, conforme os pés gostam, mas que o Mundo moderno estranha. Andar descalço em mesquitas não é só um ritual, é uma obrigação, como no caso das senhoras a obrigação é não levarem pernas à mostra, sendo convidadas a taparem-se com uma manta azul durante a visita. O culto e a calma que se respira nas mesquitas é uma magia difícil de descrever, porque é algo realmente único. No dia seguinte sentimos a vontade de voltar a uma mesquita, outra perto da Universidade de Istambul e do Grande Bazar, onde o ambiente vivido na Mesquita Azul era igualmente vivido. Aí conhecemos um dos seus frequentadores, que nos questionou a nossa motivação ali dentro e esteve saudavelmente connosco durante alguns minutos. A foto tinha de ser tirada e ele amavelmente acedeu à foto a quatro, tiradas por um fotógrafo-aventureiro que andava por aquelas bandas. De repente parecia que estávamos naquelas viagens míticas que normalmente vemos em documentários e em pesquisas na internet…A fotografia é, talvez, a mais valiosa para nós, pela magia do momento. É muito nossa, mas a partilha é importante para explicar o acontecimento…

O Grande Bazar teria de ser outro dos pontos da viagem, que não podia não passar por este local de autêntico tráfego comercial da cidade e onde os viajantes encontram a possibilidade de negociar um bocado. Ali o negócio e a troca de argumentação para fazer subir e baixar o mercado dos preços são reais. Ali vende-se muitos tipos de coisa, das que interessam muito, às que nada interessam. Ali os vendedores são profissionais do “jogo” do compra e vende e encontrámos aquele que para nós foi o mais interessante de negociar, não só pelo volume de negócio gerado, como pela sua personalidade…Sem exagero, 30 minutos naquele local serviram para escolher, negociar, escolher, negociar, escolher, negociar, até que as diferenças entre as partes não diferisse mais do que cinco liras, que correspondem aproximadamente a 2 euros. No final do negócio, numa perspetiva de win-win (ambas as partes ficaram a ganhar), a foto entre negociadores com direito a imagem da Turquia e tudo (aliás, Turquia é algo que se vê um pouco por toda a cidade, com muitas bandeiras espalhadas!). Tal como na mesquita só não sabemos o nome do senhor, mas mesmo que ele o dissesse provavelmente não o saberíamos repetir em palavras…



Visitámos ainda a praça do peixe na costa, virada para o Mar de Marmara. Este Mar está cheio de petroleiros que abastecem a cidade e que deverão trazer muita da riqueza que o país tem. Nesta praça vende-se peixe, também ao género do regatear, mas no nosso caso esse não era o nosso objetivo. O objetivo era tentar apanhar um barco até ao lado asiático de Istambul, que não era de todo ali próximo. Com as malas às costas, foi altura de apanhar o comboio para outro porto da cidade, esse com conexão para o lado asiático. Chegados ao lado asiático, eis que não a desilusão de não ver qualquer placa a dizer “Welcome Asia” ou algo do género. Como provaríamos a quem quer que fosse que estivemos na Ásia, sem qualquer referência disso?! Chegámos até a pensar que nunca estivemos de facto na Ásia, mas descanso o nosso quando chegados ao local perguntámos a alguém local se aquilo era a Ásia, depois de outras pseudo-tentativas anteriores. Aquele lado está todo em revolução com a construção do metro que ligará no futuro as duas margens, um projeto ambicioso mas que promete potenciar aquele lado de Istambul, que funciona um pouco como dormitório da cidade, tal como Almada está para Lisboa ou como Gaia está para o Porto.

O dia de 2ª feira foi duro, com a chuva a cair pela cidade, que não para durante o dia. Os transportes de material fazem-se muito por carroça, movida por pessoas, sejam por estradas alcatroadas, empedrados, a subir, a descer, ou seja, em condições pouco humanas por vezes. É uma cultura muito diferente, que não cheguei a perceber se é feliz por ela própria tal como é, mas que marca definitivamente a diferença entre a Europa ocidentalizada e esta nova dimensão que é a Turquia. No primeiro dia parti de pé atrás com o povo, mas ao logo dos dias fui percebendo que é um povo que tem muito de intrigante e ao mesmo tempo de interessante de se conhecer. É pena que os dias fossem tão poucos, mas a ideia final do povo turco é a do povo que apesar de muitas vezes não nos compreender, também sabe ser solidário, também tem a sua simpatia, sendo claramente mercantilista. Apesar de existirem as tradicionais lojas que proliferam por todo o mundo, a qualquer espaço e momento pode passar a haver uma loja nova, montada na rua, com alguém a querer-nos impingir alguma coisa que não precisamos…

O fim do dia foi de movimento para o aeroporto para despedida da Turquia, depois de uma excelente edição dos Mundiais de pista coberta e da presença no banquete de final de competição, onde estiveram a maioria dos intervenientes do Mundial, para a habitual festa final de competição. A vinda para Portugal seria de gestão dos sonos, porque a vida continua…



Edgar Barreira

| Mais
 
Seguinte >









facebook atleta-digital rss atleta-digital
 
SRV2