A importância do Voluntariado no Mundial

Terça, 08 Setembro 2009
Um voluntário é um dos principais agentes de um grande evento desportivo, porque aproximam os jovens do desporto, porque ajudam a dar vida a um evento e porque tornam toda uma estrutura de apoio funcional, com baixos custos e um espírito de entrega total.

O Mundial de Ar Livre, este ano realizado em Berlim, não foi excepção e teve mais de 5000 inscrições para voluntários, sendo que “apenas” 3500 terão sido aceites pelo Comité Organizador, um número bastante elevado.

Várias foram as tarefas praticadas pelos voluntários, que no geral foram divididos pelas seguintes categorias:

- Apoio aos Media (nas bancadas e Centros de Imprensa) : encarregues pela distribuição dos resultados em formato de papel e de prestação de informações aos Media.

- Centro de Acreditações : a tarefa consistia basicamente em tirar uma fotografia a cada acreditado e fazer a acreditação de todos os jornalistas e outros agentes.

- Serviços de Transporte : fosse do Aeroporto, estações de comboio previamente indicadas ou hotéis, os voluntários foram responsáveis pela condução de Media, Selecções e outros agentes aos autocarros correctos.

- Protocolo : responsáveis pela entrega das medalhas e outros pequenos prémios aos atletas que subiram ao pódios. Também com responsabilidades ao nível da subida das bandeiras.

- Público : tinham como missão o esclarecimento de dúvidas no público e ainda o controlo de acessos às bancadas.

- Venda de Bilhetes : num sector próprio, foram responsáveis pelas vendas de milhares de bilhetes nos dias de Campeonatos.

- Controlo de Entradas : tiveram como grande responsabilidade o controlo do acesso ao Estádio Olímpico de Berlim, seja por via de acreditação ou por via de bilhete.

- Voluntários de Cidade : promoveram o evento em locais emblemáticos da cidade, além da venda de pequenos livros com informações acerca dos Mundiais.

- Merchandising : estiveram presentes nas lojas oficiais de venda de merchandising relacionado com o evento.

- Logística : o transporte e arrumação de materiais constituíram algumas das principais missões destes voluntários.

- Medicina : ao nível dos controlos anti-doping e também ao nível do socorro a atletas em dificuldade, foram incansáveis na sua tarefa.

Todos os voluntários tiveram as suas regalias e como exemplos temos a oferta de roupa da marca patrocinadora, a Adidas (t-shirt, fato de treino, ténis, meias, calções), refeições, viagens em todos os transportes de Berlim, além de todas as regalias que se relacionam com a proximidade a atletas e gente famosa.

Ser-se voluntário é uma forma de estar muito particular e que nem toda a gente tem estofo para o ser. Trata-se de um conjunto de realizações pessoais que movem um voluntário a aderir a eventos desportivos e outro género de voluntariado, que por vezes envolve esforço e sacrifício. Ficam abaixo alguns testemunhos importantes de voluntários que estiveram neste evento.

ANNETTE HOFFMAN, A RECEPCIONISTA DE AEROPORTO

Foi uma das voluntárias que recebiam selecções, imprensa e outros agentes no Aeroporto de Tegel. A missão era simples, mas muito importante, informar qual o autocarro que cada um precisaria de apanhar para ir ou para os hotéis, ou para o Estádio Olímpico de Berlim.

Como normalmente a primeira impressão é sempre importante, Hoffman apresentou sempre uma boa disposição com todos os que aguardavam pelo seu autocarro, dialogando até, num acto de autêntico voluntarismo e entrega à causa.

Enquanto esperávamos pelo autocarro, reparámos logo que todos os voluntários estavam equipados com a marca patrocinadora, a rigor e num momento em que olhamos para os ténis desta voluntária, a mesma, como quem quer quebrar o gelo e deixar logo um ar mais alegre por Berlim, não teve dúvidas em perguntar: “estão a olhar para minhas pernas, ou para os meus ténis?”.

MANUEL HEIDE SOUBE ASTEAR A BANDEIRA PORTUGUESA

Flags Astear as bandeiras, é uma tarefa aparentemente simples, mas de uma responsabilidade enorme. Imagine-se o que seria um engano na escolha da bandeira ou por exemplo um engano na ordem das bandeiras, num momento em que uma transmissão televisiva mostra para todo o Mundo, em directo, uma cerimónia protocolar.

Durante a competição estes voluntários aguardavam pelos resultados oficiais, para logo preparar as bandeiras que iriam ser hasteadas. Para não cometerem enganos, os voluntários foram obrigados a conhecer as bandeiras e a perceber certos detalhes em algumas delas, como o número de estrelas da bandeira dos Estados Unidos da América e até a posição correcta para a posição da bandeira portuguesa, de forma a não ser colocado a “esfera” virada ao contrário. E Heide soube hasteá-la, quando Nelson Évora subiu ao pódio…

Era esta a tarefa de Manuel Heide e de mais onze voluntários, que muito treinaram para não falhar durante os Mundiais. A tarefa de Heide e dos seus colegas terminava bem depois do final da competição, já que era necessário armazenar as bandeiras num local seguro do Estádio Olímpico de Berlim e se preciso, até engomar as bandeiras, “sem deixar marca”.

AS MENINAS DO PÓDIO SÃO REALMENTE “QUENTES”

Ceremonies Já é hábito os voluntários que entregam as medalhas serem escolhidos pelos seus atributos físicos, porque a imagem vende e um evento de grande envergadura acaba por querer dar aos fotógrafos e operadores de câmara a possibilidade de mostrar a todo o Mundo que ao lado dos campeões, estão presentes voluntários bonitos, elegantes e bem vestidos.

Com idades entre 22 e 26 anos e praticantes de desporto (somente dois eram praticantes de atletismo), os voluntários partiam da zona de chamada para os pódios, que se encontrava na parte exterior do estádio, junto da porta da Maratona, com os atletas e com as entidades convidadas para a entrega das medalhas.

Se os primeiros pódios se constituíram em nervosismo, os restantes já saiam naturalmente e enquanto os rapazes jogavam os dados para escolher as posições dos pódios, as raparigas, que se consideravam mais adultas, decidiam por si que medalhas iriam entregar. No entanto foram convergentes na hora de falar da forma como estavam vestidos, considerando sentirem-se bem por baixo daqueles uniformes. E houve até quem dissesse: “As raparigas parecem realmente “hot””.

MICHAELA REDL TRANSPORTOU O CESTO DE BOLT

Michaela Redl Os meninos e meninas dos cestinhos são uma das principais funções de um voluntário, que passa a ter a responsabilidade pelo transporte das roupas dos atletas, tendo normalmente alguma possibilidade de interacção com os mesmos.

A estrela da competição, é certo e sabido, acabou por ser o jamaicano Usain Bolt e segundos antes da sua partida na prova de 100 metros, era Michael Redl quem estaria mais feliz, mesmo antes de partir – ela tinha os “valores” de Usain Bolt. E destes Mundiais não teve dúvidas: “O trabalho como assistente de Usain Bolt foi a cereja no topo do bolo”.

Mas antes das partidas Redl sempre foi assistindo a situações engraçadas, na câmara de chamada, como por exemplo Usain Bolt e Asafa Powel em busca de uma aranha que tinha visto, com Powell até a cantar uma música de um filme dos Simpsons, a conhecida “Spider Pig”. Mais uma curiosidade é o facto desta voluntária ser a namorada do atleta jamaicano Isa Philips, o que mostra que ser voluntário não tem categorias sociais.

ISABELL HEYMANN, O APOIO SIMPÁTICO AOS MEDIA PORTUGUESES

Os voluntários que entregavam os resultados aos Media tinham turnos rotativos, mas as filas em que entregavam os resultados eram normalmente as mesmas e os Media portugueses tiveram o prazer de ter Heymann como uma das empenhadas voluntárias de apoio aos Media.

Habituada a outros programas de voluntariado, como por exemplo na Maratona de Berlim, Heymann é também uma empenhada estudante de 18 anos, que procura entrar no curso de Medicina já este ano. Em conversa com o Atleta-Digital, a voluntária colocou este Mundial como “o maior evento” em que fez voluntariado, tendo-se declarado “extremamente feliz” pela experiência. As poucas horas de sono e o intenso trabalho no Estádio Olímpico de Berlim, fizeram, contudo, com que chegasse a casa exausta todos os dias.

Além do contacto com os Media, Heymann contactou também com juízes e atletas e foi para si uma realização pessoal estar com atletas que só conhecia pela televisão ou rádio. A berlinense, que mostrou uma simpatia enorme em tudo o que fez durante o evento, realçou a importância do voluntariado, recomendando a todos, este género de experiência porque ,segundo a mesma, “serão momentos que nunca esqueceremos”.

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A OPINIÃO DE QUEM JÁ FEZ VOLUNTARIADO

Eu mesmo, Edgar Barreira, já fui voluntário em diversas ocasiões e é por isso que não tenho dúvidas sobre o trabalho de um voluntário e da sua importância. Foram eles que nos deram os sorrisos, as informações, o bom falar em inglês (o que é uma enorme safa para quem não saiba alemão), o bom prestar dos serviços, tendo também sido eles quem encheram o relvado do Estádio Olímpico de Berlim, na hora da despedida deste Mundial.

Vê-los trabalhar foi um pouco lembrar-me das minhas funções em alguns voluntariados, como por exemplo os que realizei em Campeonatos de Portugal, onde estive nos resultados e no apoio à locução ou os que realizei em provas de Triatlo, desde distribuir águas e bananas ou a indicar o percurso.

Fazer voluntariado num evento destes é realmente reconfortante e aprende-se bastante, principalmente em momentos da vida em que nunca trabalhámos e sentimos pelas primeiras vezes o que é a hierarquia de uma Organização e a responsabilidade de uma falha nossa. Tenho a elogiar toda a organização dos voluntários, que não aparentou ter falhas importantes. Talvez retirasse um pouco do excesso de zelo, tipicamente alemão, mas que já não é um problema de voluntariado, mas sim de cultura…

Texto: Edgar Barreira
Fotos : IAAF e Joana Oliveira/Atleta-Digital


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