O arrepio na espinha…(dia 4)

Domingo, 16 Agosto 2009
É no silêncio de um estádio vazio, que há momentos acolheu uma emoção estonteante, que escrevo, tentando separar o dia desta final de 100 metros, mas cheguei rapidamente a uma grande conclusão, é impossível! Como é que podemos esquecer a visão de um atleta a correr os últimos 40 metros em 4 segundos, com uma passada de quase dois metros e meio e com mais de 4 passadas em cada segundo?!

O dia começou calmo e sereno e desta feita a equipa foi obrigada, novamente, a desdobrar-se em duas.Enquanto eu e o Telmo acompanhávamos em Brandeburgo a prova de marcha, no Estádio Olímpico de Berlim, a Joana e o Filipe acompanhavam as sessões matinais. Na verdade tem sido muito difícil, para toda a imprensa, lidar com esta dualidade, o que leva a que tenhamos adoptado a táctica de entreajuda, na imprensa portuguesa, aos mais diferentes níveis. Temos a dar os parabéns às marchadoras e principalmente à Susana Feitor, pela sua décima e bem sucedida edição de Mundiais.

Deu para conhecer melhor pequenos detalhes da cidade, aproveitando ainda para filmar um pouco do que temos visto, para mais tarde recordar. Temos feito desta viagem a Berlim, um misto de trabalho (e não é pouco) e turismo (faz parte também da envolvência de uma competição destas).

Almoçados, foi o tempo da sesta. É algo que por exemplo eu (Edgar) raramente faço na minha vida diária, mas aqui em Berlim foi fundamental para eu agora estar desperto, acordado, mesmo com poucas horas de sono na madrugada anterior.

Na sessão da tarde, acompanhar as competições e ver que o Nelson Évora se encontra numa forma impressionante e com um único “saltinho”, colocou-se na final, com uma leveza técnica que impressiona até os mais distraídos, é muito reconfortante. O equilíbrio corporal, aliado a uma capacidade fantástica e com uma velocidade de ponta impressionante, fazem de Nelson Évora um colosso dos saltos, que só aquelas fibras musculares “elásticas” percebem o porquê.

Isto, por si, já teria sido um regalo suficiente para os olhos, mas a tarde ainda não tinha terminado e com a final do peso, o excelente final do Heptatlo e fundamentalmente a bombástica final dos 100 metros, trouxeram uma cor diferente a este dia.

A final dos 100 metros é uma situação que é tão difícil de traduzir em palavras, quanto difícil é entender a velocidade de Bolt. É como se aqueles 9.58 segundos se tivessem reduzido a um único instante, a uma fotografia com som, com cheiros, com calor e com pessoas a saltar desgarradamente à frente e atrás. Decorar estas sensações é uma tarefa mesmo difícil e recriá-las é impossível. O público, que já estava emocionado das anteriores finais, tornou durante muitos minutos este Estádio Olímpico numa enorme coluna de som, com decibéis elevadíssimos, numa sensação que nunca tinha antes experimentado numa prova de atletismo. Valeu a pena passar por isto, por este momento e ver um homem “voar”, como o gesto que Bolt tão confiantemente realizou imediatamente antes da partida.

É novamente no silêncio de um estádio vazio, que termino este diário, sem antes dizer que são momentos destes que nos levam a adorar atletismo. Estamos todos siderados com um momento tão grandioso como este. Vamos até à “cabana”, para recompor, porque amanhã há mais…e com uma surpresa que só falarei no diário de amanhã.

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