Vontade de mais (por: Gonçalo Amaral)

Segunda, 10 Março 2008
Agora, passadas as grandes lutas, seria deveras fácil de apresentar um resumo daquilo que se passou. Tão fácil que muitas vezes cairíamos na redundância de constatar que ganhou quem se figurava como vencedor à partida. Seria uma resenha na qual se poderiam fazer notar algumas situações mais caricatas como a de Robles nas meias-finais dos 60m barreiras, lesões como a de Sebrle, lutas emocionantes como as do comprimento feminino, domínios confirmados como o de Vlasic e outros mais ameaçados como o de Isinbaeva mas, numa opinião muito pessoal, o que mais me marcou em VALENCIA’08 foi a belíssima jornada de encerramento no que diz respeito ao meio-fundo.

Por um lado tivemos das últimas oportunidades de ver uma das maiores e mais premiadas campeãs de sempre numa das suas últimas prestações. Cresci a ver a moçambicana Maria de Lurdes Mutola a coleccionar medalhas. Aprendi facilmente a respeitá-la e, com o especial carinho que possamos ter pelos nossos irmãos das ex-colónias, idolatrei-a durante todos estes anos em que ela sempre foi uma constante do atletismo. Anunciou o abandono das pistas no final da época e nada melhor que mais uma medalha de bronze nestes campeonatos, a juntar a outra de prata e mais 7(!) de ouro na mesma distância desta competição. Conta já com 16(!) medalhas em J.O. e Mundiais.

Por outro lado aconteceu algo que não é normal neste tipo de competições. Um recorde do mundo foi batido numa corrida de meio-fundo. Fomenko “puxou” espectacularmente pela sua compatriota Yelena Soboleva para que esta registasse um novo máximo mundial na distância de 1500m. Eu não sou especialmente dedicado à estatística, mas a memória não me traz à tona do pensamento a última vez em que tal tinha acontecido. Não é efectivamente normal haver marcas deste tipo em corridas de meio-fundo, uma vez que os atletas preferem correr mais táctica e “traiçoeiramente” o maior tempo possível, resguardando-se para nas últimas voltas tentarem surpreender os adversários rumo à vitória. Geralmente as grandes marcas ficam para os renomeados meetings em que o prémio por recorde é chorudo. Mas o certo é que, aos poucos, a IAAF vai dando o braço a torcer e vai providenciando verbas cada vez mais avultadas para premiar os grandes feitos destas competições. Todos ficamos a ganhar.

Claro que não poderia terminar sem referenciar os bons resultados de todos os atletas portugueses. Especialmente, claro está, o bronze do Nelson e o ouro da Naide. Évora esteve ao seu bom nível, foi uma prestação das melhores a que já nos habituou. Teve o azar de encarar com um Idowu em dia sim e quando isso acontece pouco há a fazer. Honrou-nos e mostrou mais uma vez que em Portugal também há espaço para campeões em disciplinas onde poucos estavam habituados a vê-los.

À Naide Gomes quero aproveitar este meio para lhe endereçar publicamente os meus maiores parabéns. Saiu vencedora num dos concursos mais emocionantes que tiveram lugar no Palau. Liderança conquistada apenas no 5.º salto, emoção até à última ronda. E mais uma vez os portugueses a habituarem-se (se calhar mal) a ver a sua bandeira a ser hasteada e o seu hino a tocar.

Os jovens podem estar cada vez mais orgulhosos dos seus ídolos! Espero que sejam estas boas notícias que abram os noticiários e façam primeira página nos jornais de amanhã. Isso deixar-me-ia feliz.

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