Momento de felicidade (por: Rafael Lopes)

Segunda, 03 Março 2008
Estes Campeonatos Mundiais de pista coberta vão ser os mais participados desde que existem. Tanto a nível de nações participantes como de espectadores. As 179 nações inscritas para Valência ’08 e os bilhetes já estarem todos vendidos tornam esta competição o maior evento “indoor” de sempre e o terceiro maior evento da modalidade à escala mundial.

Se o número crescente de países se deve ao facto de, nos países mais pobres, o atletismo ser visto como forma de fugir à pobreza certa e de ganhar algum estatuto social, o rápido esgotamento dos bilhetes a dias do ínicio do evento tem sobretudo a ver com a cultura desportiva espanhola. Essa emergiu fundamentalmente nos finais da década de 80, inícios de 90 fruto de fenómeno chamado Jogos Olímpicos.

Os espanhóis, que até essa data, estavam no mesmo patamar a nível desportivo que o português, deram um “salto” tremendo e os seus atletas levam frequentemente mais medalhas para casa. Para mim, a diferença entre Portugal e Espanha tem a ver com o facto dos espanhóis olharam para si próprios como a fonte de resolução dos problemas, como a fonte de felicidade. Com efeito, um sábio (desvalorizado) do atletismo português disse-me que os portugueses são cada vez mais tristes porque pensam que a felicidade está longe, fora de nós. Na Declaração da Independência Americana, Thomas Jefferson consagra os direitos à vida, à liberdade e à procura da felicidade. Que raio faz ali a parte da procura? Será a felicidade algo que apenas possamos buscar? E que podemos nunca vir a atingir, façamos o que fizermos? Será? Pessoalmente acredito que não mas também acredito que a maioria dos portugueses não partilha da minha crença.

É, de certa forma, por isso que somos os únicos no mundo a ter a palavra “saudade”. Temos saudades porque só damos valor às coisas quando elas partem, quando elas estão longe de nós. Essas coisas são, concretamente, as pessoas, os momentos e os ensinamentos que, discretamente, nos trazem a felicidade.

Em Valência, com certeza, teremos atletas com a intenção de atingirem o seu momento mágico que é, por definição, o instante irrepetível encantado. Eu tenho a esperança de que o Dayron Robles e Susanna Kallur (60m barreiras), a Blanka Vlasic (salto em altura), a Yelena Isinbayeva (salto com vara) imortalizem “mais um pouco” (não é pedir muito...) os seus nomes nas respectivas provas com tentativas de record do mundo que estão bem ao alcance. Sem dúvida que esses estão habituados a brindarem-nos com momentos de felicidade, mesmo sem serem portugueses. Outro atleta genial e, frequentemente me põe a vibrar com os seus saltos é o pequeno Stefan Holm que está imbatível há uma dúzia de competições.

Mesmo em ano Olímpico, teremos momentos fantásticos. Cada modalidade do atletismo tem uma beleza própria e, quando executada pelos melhores do mundo, deixa-nos maravilhados. Maravilhados por desejarmos que aquele momento de felicidade fosse proporcionado por nós... Mas nós somos meros espectadores e, como tal, só sentimos as emoções que os outros nos fazem sentir. Dito isto, Valência será o palco ideal para encontrar essas emoções e vão ser imensas, assim esperamos.

Para concluir as minhas expectativas para estes campeonatos e,em jeito de patriotismo, escrevo agora que o meu maior momento de felicidade será aquele em que se visualizará a subida da bandeira nacional em solo espanhol. Todos os portugueses desejam ver esse momento e até se espera que não seja um caso isolado. A verdade é que todos julgamos ser possível que uma dessas subidas seja feita no mastro central... Isso seria mágico... Mas, mais vale jogar pelo seguro porque deitar foguetes antes da festa acaba frequentemente mal.

Resta desejar força aos nossos campeões porque a sorte teima em não aparecer para as cores nacionais. Basta lembrarmo-nos do que aconteceu à nossa Naide Gomes no último ensaio em Osaka...

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