Rota dos Sonhos (por: Prof. Carlos Silva)

Sexta, 29 Fevereiro 2008
Quando os nossos eternos heróis “dobraram o Cabo da Esperança” será que estavam a realizar um sonho, ou nem sequer sonhavam que acabavam de estabelecer um marco na história universal!

A modalidade continua a navegar em mar alto! Inserida num sistema sujeita a tanta tempestade, vai conseguindo marcar sucessivas gerações com prestações e conquistas internacionais.

Na abordagem de qualquer participação desportiva ao mais alto nível, continuamo-nos a deparar com a dialéctica da medalha (acto heróico). Quando um sistema nacional de saúde não consegue minorar os problemas do cidadão, quando o deficit comanda a vida, quando equacionamos desmantelar estádios de futebol (EuroFutebol), ou os transformamos em pista de rallye, quando um ministro insiste em projectar o futuro do alto rendimento pela introdução do desporto escolar no primeiro ciclo do ensino básico (ensino primário) com professores contratados a prazo. Chegados a este momento, ainda vamos assistir à abertura do telejornal com a notícia de que um nosso atleta “perdeu” uma medalha. Talvez tenha razão, os nossos reis também acharam que tinham perdido tempo em receber um homem com ideias loucas, de seu nome Cristovão Colombo, e logo nuestros hermanos o receberam; hoje nós temos… África, Timor, e os irmãos Brasileiros, e eles a língua mais falada no mundo, elevado nível de vida, e um Conselho Superior do Desporto.

A rota do desenvolvimento continua à margem, pois ainda não conseguimos definir os postes básicos do alto rendimento desportivo. São quatro sistemas fundamentais: Saúde, Educação, Ensino Superior - Investigação, Desporto - Juventude. Não temos equipas multi-disciplinares que trabalhem no rumo de uma política integrada de procura e fixação do rendimento desportivo.

Neste sentido em qualquer circunstância, as expectativas… são sempre as melhores!

A modalidade e todos os seus agentes têm dado o melhor ao longo destes anos. Têm demonstrado persistência e trabalho, enfim muita carolice. A questão da Flexisegurança é um principio funcional aplicado e desenvolvido no meio do atletismo desde à muito.

O resultado desportivo traduz a capacidade que um sistema tem em promover o rendimento dos seus agentes, nomeadamente no atletismo, na obtenção de marcas por parte dos nossos atletas.

A modalidade em Portugal tem evoluído, passando de um país de corredores de fundo, que continua a caracterizar o nosso atletismo internacional, para uma prática global da modalidade, onde fomos obtendo grandes marcas de nível mundial.

Não tenho qualquer dúvida que este facto está ligado a uma melhoria significativa da intervenção técnica dos treinadores, que apostam cada vez mais na sua formação.

Se a nós pertence uma das referências mundiais sobre a corrida através da Escola Portuguesa de Meio-Fundo e Fundo do Profº Moniz Pereira, temos procurado as “âncoras” necessárias para segurarmos o barco e dar à sua tripulação o correcto rumo.

Muitos treinadores de nível mundial, em diversas áreas, têm passado por Portugal. Os treinadores vão consumindo e interpretando aquilo que o nosso sistema permite aplicar.

De toda a experiência que tenho vivido, quero aqui deixar a minha homenagem e agradecimento eterno a um Homem em especial: Robert Zotko.

O homem misterioso, que acercava humildemente cada pormenor do treino, da execução, com toda a sabedoria e experiência que o caracterizavam, foi e sempre será uma referência profissional muito influente para o meu sere como pessoa, como professor, e como treinador.

Tantas vezes ignorado, ou incompreendido, resolveu o nosso problema dos talentos com as suas próprias mãos, e com uma frase que em local próprio deixou para se pensar:

“Como resolver o problema! Quando não há cão, caça-se com gato!”

Hoje em dia, orgulhamo-nos dos nossos saltadores, que são dos melhores do mundo! Não tenho dúvida em afirmar que este trabalho está “viciado” por uma grande onda promovida pelo Grande Robert Zotko!

Espero que tenhamos apanhado a Onda, pois a proliferação de resultados de qualidade têm feito crescer as expectativas.

A pista coberta é um dos momentos espectaculares do atletismo, pelas suas características físicas, por todo o envolvimento, e pela fase do ano em que se disputa. No entanto, as opções atléticas são sempre mais condicionadas, pelo faço referência a duas questões que interferem na obtenção de resultados:

- No Meio-Fundo e Fundo, para além de se acercar o Mundial de Corta-mato que implica opções de preparação, também os atletas não apostam numa dupla periodização com um ponto de elevado rendimento no inverno. Assim, as competições desta área são sempre de grande expectativa, pois todos os cenários são possíveis;

- Na área das técnicas, as corridas são igualmente condicionadas por um conjunto de atletas que potencializa a sua capacidade de aceleração, ou entendem como uma fase de ganhos para um ano olímpico. Por seu lado, os saltadores e lançadores sendo provas de maior equivalência com o ar livre apresentam o mais alto nível de rendimento.

Por aquilo que apresentei, fica clara a afirmação que a minha expectativa nunca pode ser da obtenção de “X” medalhas. Este cenário não é verdadeiro perante a nossa realidade. Temos sim atletas de nível mundial que vão disputar títulos e lugares de honra dentro de um conjunto restrito a que pertence uma elite mundial.

A nossa caravela “Selecção Nacional” terá 8 tripulantes especiais, que com os seus treinadores tentaram rumar à descoberta de uma Sonho que até agora está ganho. Valência pode para alguns ser a “dobragem” do Cabo da Boa Esperança.

MASCULINOS FEMININOS
OURO João Campos 3000m (Paris 85)

Rui Silva 1500m (Lisboa 01)

Naide Gomes Pentatlo (Budapeste 04)
PRATA Rui Silva 3000m (Budapeste 04) Carla Sacramento 1500m (Barcelona 95)
BRONZE Mário Silva 1500m (Sevilha 91)

Carlos Calado S.Comp. (Lisboa 01)

Fernanda Ribeiro 3000m (Paris 97)

Naide Gomes S.Comp. (Moscovo 06)


(Quadro de medalhas conquistadas ao longo de todo o historial de mundiais de pista coberta)


Se em 2001 (Lisboa) com 17 participantes ganhámos 2 medalhas (ouro e bronze), em 2006 (Moscovo) com 3 participantes ganhámos 1 medalha (ouro), igual número (prata) em 1995 com 9 participantes. Ou seja, com mais ou menos crise, o Atletismo Português vai marcando a sua posição ao longo dos anos no espaço mundial.

Felizmente, analisando o quadro dos nossos atletas presentes em Valência, no seu posicionamento no ranking mundial, só poderemos ter um sentimento de orgulho!

Este não é um sentimento encomendado, como os “piratas” adormecidos por qualquer gigante adamastor faminto de um mar revoltado possam suspeitar, mas uma atitude muito pessoal de reconhecimento, consideração, congratulação, e muito respeito pelo trabalho frutífero desta dupla Treinador-Atleta que dedica horas, dias, semanas… enfim a sua vida muito para além do profissional.

A primeira expectativa é que “gozem” este momento único de passagem pelo palco dos sonhos.

Ranking Mundial

Posição Individual

Ranking Mundial

A contar 2 por país

Nélson Évora

Triplo-Salto

S. Comprimento


1

13


1

13

Naide Gomes

S. Comprimento


2

2
Jessica Augusto

3000m

1500m


8

22


5

15

Rui Silva

3000m

1500m


17

13


9

10

Marco Fortes

L. Peso


18

13
ELisabete Tavares

S.Vara


32

15
Sandra Teixeira

1500m

800m


27

43


17

22

Francis Obikwelu

60m


68

33
(Quadro baseado no levantamento dos rankings mundiais a 26/2/2008)

De seguida, é a constatação de que temos um conjunto de atletas do melhor que há no mundo. Se verificarmos, para além do Nélson, líder mundial do Triplo Salto com 2 marcas, temos a 2ª melhor do mundo no Comprimento (Naide), e a 8ª melhor nos 3000 metros (Jessica). Se considerarmos os possíveis atletas presentes no mundial (considerando que cada pais apenas pode apresentar 2 por prova, coluna mais à direita) verificamos ainda todos os restantes atletas cabem dentro dos finalistas, e das meias-finais.

Por último, uma análise à navegação de forma individualizada. Assim coloco o seguinte quadro de expectativas sobre o seu desempenho, dividindo-os em 3 agrupamentos:

1. Atletas finalistas com aspiração a um lugar no pódium:

NÉLSON ÉVORA: é o actual Campeão do Mundo ao Ar Livre, e o líder mundial do Triplo Salto. Devemos considerar que esta é habitualmente uma das provas mais abertas, e onde habitualmente se ontem as melhores marcas do ano.

É um legitimo candidato ao titulo, já demonstrou ter maturidade suficiente para entrar na luta a qualquer momento.

NAIDE GOMES: Foi medalha de bronze no último mundial de pista coberta, e tem o 4º lugar no Campeonato do Mundo ao Ar Livre um pouco. . . “atravessado”! Está muito consistente com 2 grandes resultados nos 6,90.

Novamente “rodeada” pelas russas, ao que o seu semblante carregado-decidido será suficiente para as acalmar. Qualquer que seja a classificação, vai fazer um grande resultado técnico!

2. Atletas finalistas, em que tudo pode estar em aberto:

JESSICA AUGUSTO: Se fosse aqui há uns 2 ou 3 anos não escrevia isto. Depois da época passada percorrer desde estrada, corta-mato, até à pista com sucessivos bons resultados, acrescentando a prova que realizou de 1500 em contra-relógio pelos Campeonatos de Portugal (com minino e melhor marca nacional), não tenho dúvida que estará dentro das finalistas, e . . . não muito longe da 4ª classificada.

RUI SILVA: O seu historial coloca-o sempre no canto do olho dos melhores atletas do mundo, aos quais ele pertence!

Permitam-me a dúvida, que certamente andará não só na atmosfera desta “singela” análise. O Rui Silva é um vencedor! Um lutador! Um atleta de grande qualidade! Nunca dá de “bandeja” uma vitória! Nos Campeonatos de Portugal fez 3º lugar nos Campeonatos de Portugal. Por seu lado, este ano foi já medalhado nos Campeonatos da Europa de Corta-Mato.

Vai competir nos 1500 metros, uma prova que terá fases eliminatórias “chatas”, com passagens ganhas nos últimos 50metros… O difícil é chegar à final. Estando lá, ficará tudo em aberto. Pelo quadro de análise ao ranking mundial, a sua colocação nos 3000metros é também muito favorável….. Juntando todos estes dados, estará mais resistente que rápido, pelo quanto mais as provas se prolongarem mais oportunidade terá para desgastar os adversários…..

Uma coisa temos certa! O Rui Silva quando está presente é porque está preparado para dar o seu melhor!

FRANCIS OBIKWELU: Participou nos Campeonatos do Mundo de Pista Coberta em Budapeste (2004), obtendo o 6ºlugar com 6,60. O seu record nacional é de 6,54 obtidos em Madrid em 2005.

Os 60m não são provavelmente a prova que mais gozo lhe dá! É Curta! Nos Campeonatos de Portugal em Pombal obteve os seus melhores registos do ano (6,70 e 6,66), uma partida mais concentrada… curioso é que não esteve tão bem na ligação à máxima obtenção de velocidade.

A concentração, o objectivo demonstrado em trabalhar uma determinada fase da corrida, a motivação de querer fazer um bom resultado, são certamente argumentos de acreditar numa chegada a uma final que estará dentro dos 6,60…. Se não chegar, teremos homem para a Taça da Europa, e para os Jogos Olimpicos!

3. Atletas semi-finalistas, pronto(as) a arriscar tudo:

SANDRA TEIXEIRA: Tenho de dizer que é uma Amante do Atletismo. A paixão com que encara o seu dia a dia de atleta são contagiantes. É uma atleta de grande qualidade, que ainda não obteve os resultados que merece e que tem capacidade de realizar.

Infelizmente é mais uma daquelas jovens recém licenciadas em Educação Física, a quem a “nossa” ministra fez o favor de retirar esperança de vida. O seu espírito lutador fê-la percorrer a decisão de tirar um curso de guarda prisional, pois terá de sobreviver… num futuro próximo! Esta estabilidade “profissional” e emocional, está sem dúvida relacionada com a excelente pista coberta que está a realizar.

A sua exibição nos Campeonatos de Portugal foi de muito boa qualidade, fazendo os seus melhores registos quer nos 400m, quer nos 800m onde correu com grande personalidade.

As eliminatórias não são o seu forte, com russas e romenas dispostas a partir o andamento, o que a ajudaria muito. Vale sem dúvida uma marca abaixo dos 4´10”, o que a levaria a um lugar de mérito: finalista.

MARCO FORTES: É uma das nossas grandes revelações da Pista Coberta ao atingir a barreira histórica dos 20m.

A sua aposta está ganha, e esta será com certeza uma competição importante para o Grande Marco ganhar segurança competitiva. O seu percurso até ao momento transmite essa necessidade, e a exibição no meeting de Valencia foi certamente muito importante para o salto competitivo que os atletas que como ele tanto esperam.

Vamos vê-lo crescer ainda mais, contando com ele para a Taça da Europa de Leiria, onde terá um público caseiro, e para uns Jogos Olimpicos onde as feras o esperam!

ELISABETE TAVARES ANSEL: Residentes nos arredores de Paris, as manas Tavares têm as condições físicas e técnicas necessárias para o desenvolvimento que vêm demonstrando. Quando falamos das condições de trabalho em Portugal, não estamos apenas a reivindicar ou a “ dizer mal da sorte”. É a realidade! Aqui vamos conseguindo disfarçar com o efémero caminho de entrega e dedicação…. A nossa escola de salto com Vara, treina à luz ambiente com a humidade necessária! Temos a certeza que a nossa evolução como técnicos está condicionada em muito por tudo isto!

As irmãs Tavares, estão integradas em grupos de nível atlético, para os quais têm técnicos devidamente diferenciados com tempo para dar resposta às necessidades de cada nível competitivo.

Este é um patamar que a Elizabete pelo seu trabalho e dedicação merece ter conquistado.

Um lugar nas 12/15 que classifico como semi-finalistas é uma posição que nos deixará muito contentes, pois temos saltadora para mais futuro.

Uma palavra para todos os outros atletas e treinadores que trabalharam, desejaram, e sonham um dia estar num destes eventos. Lutemos pela nossa sorte, e cada um saiba lutar pelo seu sonho. Por todos, sentimos respeito e orgulho pelo seu desempenho. Todos merecem uma palavra de agradecimento por terem alimentado também o nosso sonho.

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