Um corredor para um sonho (por: Prof. Carlos Silva)

Sexta, 15 Fevereiro 2008
PROF. CARLOS SILVA

Breve Currículo:
- Professor de Educação Física
- Título de Mestrado em "Master en Alto Rendimento Desportivo" (Universidade Autónoma de Madrid / Comité Olimpico Espanhol)
- Treinador de Atletismo de 2º Grau de Velocidade/Barreiras
- Curso de "Elite Coach de Meio-Fundo" (Curso ministrado pela IAAF)
- Cargos desempenhados:
*Coordenção do Desporto Escolar do CAE Lisboa e Supervisor Nacional da Modalidade de Atletismo do Desporto Escolar (1995/1999)
*Técnico Regional da Associação de Atletismo de Lisboa (2000/2001)
*Desde 2001 na Federação Portuguesa de Atletismo (Projecto CAR-IDP;Técnico Nacional responsável pelos 400 metros;Técnico Responsável pelo Centro de Formação Centro-Sul)
-Alguns atletas treinados:
João Nunes, João Merêncio, Vitor Moreno, Deodato Freitas, Sónia Tavares, Artemiza Sá, Ludmila Leal, Glória Santo, Selma Bonfim, Fernando Almeida, Patrícia Lopes entre outros.


Valência está preparada para receber de 7 a 9 de Março próximo um dos momentos altos do desporto mundial.

O palco está montado, os artistas preparam-se, enfim um corredor espera-os para a corrida, o salto, ou o lançamento dos seus sonhos.

A cidade de Valência escolhida para a edição 12 do Mundial de Pista Coberta, é por si só indutora de inspiração e da envolvência necessária à realização de uns campeonatos de elevado nível técnico.

Fundada no ano 138 AC percorreu um enorme percurso histórico que culmina na actualidade como uma das cidades mais desenvolvidas da Península Ibérica. O seu centro histórico enquadra-se na perfeição com uma revolucionária arquitectura urbana, traduzida na singular ideia de reconversão do caudal de um rio, onde um cidadão do mundo se delicia através de um agradável passeio, ou pela sua actividade física desportiva. Desenvolvendo-se e crescendo em termos industriais, tornou-se muito atractiva à fixação da população. É um dos grandes portos para o mediterrâneo, tendo por tudo isto ganho a confiança internacional para a realização de grandes eventos mundiais, inclusive um que “custou” a Portugal de forma particular, a Copa América de Vela 2007.

Esta é a terceira edição de mundial realizada em Espanha, sendo o país com o maior número de edições de um Mundial de Pista Coberta. Junta-se a particularidade de ter sido realizado em 3 cidades diferentes: Sevilha (1991), Barcelona (1995), e agora Valencia (2008).

Conhecendo a perspicácia de “nuestros hermanos” na rentabilização deste tipo de eventos, tendo Sevilha recebido à posteriori uns Campeonatos do Mundo de ar livre, Barcelona uns Jogos Olimpicos, tendo ainda o Campeonato da Europa de Pista Coberta de Madrid servido para a projecção da sua candidatura (embora perdida!) à próxima edição dos Jogos Olimpicos (2012), esta edição trará certamente “água no bico”!!

Ganhar já ganhou o prestigio e um Meeting de elevado nível mundial, assim como a requalificação de um espaço conhecido por ser também um velódromo, tal como o seu nome indica “Palau Velodromo Luis Puig”. Para além de uns Campeonatos da Europa de Pista Coberta (1998), e diversos campeonatos de Espanha de Pista Coberta, foi palco de diversos eventos tais como os Campeonatos da Europa de Pista de Ciclismo (2004), uns Campeonatos do Mundo de Ciclismo (1992), um Master de Espanha em Ténis, de Ginástica, Congresso Internacionais de Aeróbia, Concertos musicais, Torneios Internacionais de Atletismo onde o saudoso Encontro Portugal-Espanha em Pista Coberta teve uma das suas últimas edições. Para além de toda esta actividade ao longo dos seus 15 anos de história podemos acrescentar um Campeonato da Europa de Natação, com a construção de uma piscina em tempo record (ano de 2000).

O Atletismo Valenciano sendo um dos pólos de maior desenvolvimento atlético de Espanha, cuja representação clubista é por nós bem conhecida na disputa com o Sporting Clube de Portugal na Taça dos Clubes Campeões Europeus de Pista, pela representação do Valência Terra y Mar, é há muito procurado por alguns dos melhores atletas europeus e mundiais.

A reconstrução e requalificação da pista coberta vêm acrescentar uma instalação de elevada qualidade técnica para a obtenção de resultados de nível mundial, assim como de grande conforto para a atracção de ainda mais público e admiradores da modalidade.

A introdução desta fórmula de prática em recinto coberto veio acrescentar ao atletismo um novo momento de elevado impacto.

Ao assistente comum convidamo-lo a sentar-se na cadeira e apreciar o intenso “frenesim” de uma competição em recinto coberto. A sucessão de momentos técnicos desde o aplauso para o salto, o “chuau” sobre o derrube da fasquia ou de um nulo, a tensão de uma falsa partida ou a disputa à saída da última barreira num olhar fixo de 7 segundos, contrapondo com as arrepiantes curvas e passagens à corda de uma prova tão física como táctica, são simples motivos que nos deixam agarrados à cadeira durante 2 ou 3 horas sem lembrar de olhar o relógio.

Desde 1985 a IAAF lançou este desafio mundial, a partir do qual já se realizaram 11 edições, tendo percorrido 9 países. Portugal acolheu em 2001 a 8ª edição, no Pavilhão Atlântico, proporcionando o mais espectacular cenário e momento de atletismo vivido no nosso território.

Espanha – Sevilha (1991), Barcelona (1995), …Valencia (2008)
França – Paris (1985, 1997)
Hungria – Budapeste (1989, 2004)
Portugal – Lisboa (2001)
Grã-Bretanha – Birminghan (2003)
Russia – Moscovo (2006)
EUA – Indianapolis (1987)
Canadá – Toronto (1993)
Japão – Maebashi (1999)

Nasceu assim uma nova dimensão do atletismo no período de Inverno, em que o trabalho de pista teve um incremento significativo.

Embora em Portugal as entidades centrais da tutela desportiva nacional continuem a reflectir pouco sobre o fenómeno desportivo em geral, e da globalização do atletismo em particular, verificamos pelo quadro seguinte que dos Jogos Mundiais de Paris (1985) até à 3ª edição de Sevilha (1991) houve um crescimento de estabilização de um novo modelo. A partir daí o número de atletas participantes, e principalmente do número de países envolvidos atingem números ímpares em qualquer organização de âmbito mundial. Paris (1997) regista o maior número de atletas de sempre (712), e é em Lisboa (2001) que é atingido um número de países nunca antes participado (136). Momento a partir do qual deu novo impacto aos números de participação, com destaque para a edição de 2004 em Budapeste com 677 atletas de 139 países.

Ano 1985 1987 1989 1991 1993 1995 1997 1999 2001 2003 2004 2006
Nº Atletas 319 402 378 531 537 602 712 487 510 589 677 561
Nº Países 69 84 61 82 93 130 118 115 136 132 139 129
Contin EUR AMER EUR EUR AMER EUR EUR ASIA EUR EUR EUR EUR

O crescimento de participação descrito não se verifica apenas por um fenómeno de aumento do número de atletas e países, mas pela alteração da preparação dos atletas para este momento particular, englobado no todo de uma época desportiva.

A Pista coberta trouxe desta forma não só um avanço estrutural, influente na rotina sócio-económica de uma localidade atlética, mas também nos princípios, metodologias, e organização anual do processo de treino do atleta.

Face à especificidade das disciplinas, podemos constatar que se os protagonistas das áreas da velocidade e meio-fundo nem sempre são os mesmos na competição de Inverno para a de Verão, já nos saltos e lançamento a história dos competidores de top repete-se com maior naturalidade. A evolução de um período simples anual de preparação, para uma dupla ou múltipla solicitação competitiva ao longo da época desportiva é um dos factores base na alteração metodológica do processo de treino.
  HOMENS MULHERES
  Pista Coberta Ar Livre Pista Coberta Ar Livre
60m 6,70 10,20(100m) 7,37 11,25 (100m )
400m 47,10 45,35 53,00 51,00
800m 1 48,50 1 45,50 2 04,00 2 00,00
1500m 3 43.00 3 35,00 4 16.00 4 05.00
3000m 7 54.00 7 44.00 9 05.00 8 40.00
60m Barr 7.75 13.55(110b) 8.20 12.95(100b)
4x400m EST Sem mínimos
S. Altura 2,30 1,92
S.Vara 5,70 4,40
S. Comprim 8,10 6,65
Triplo S. 17,00 14,05
L. Peso 20,05 17,50

No entanto, e face a este crescimento de participantes e países envolvidos, e a toda a interpretação e interesse metodológico que a pista coberta veio trazer ao processo de treino dos atletas, a IAAF não tem facilitado a vida!

Embora com uma grande campanha mundial sobre o Atletismo Global, e estando cada vez mais rigorosa e atenta ao fenómeno do doping, a perspectiva da IAAF está bem traçada sendo clara para os mais atentos. Os grandes eventos mundiais são cada vez mais para o Desporto Espectáculo através da mediatização da modalidade. Passando pelas marcas mínimas de participação é claro que as provas, e em particular os concursos, são de acesso a um conjunto de atletas que está dentro de uma elite mundial. Que digam os nossos Marco Fortes mesmo batendo um record nacional histórico com mínimo para uns Jogos Olimpicos, poderia não ter entrada nestes campeonatos, ou uma das manas Tavares que festeja uma etapa mínima para os Jogos, ficando como assistente à pista coberta.

O parecer não é técnico, nem provavelmente está relacionado com a projecção atlética de um cada vez maior número de países (mesmo considerando os cerca de 130 países a nível mundial que têm participado nas últimas edições). A perspectiva da IAAF é apenas e só relacionada com o movimento financeiro da competição.

Não aprofundando o assunto, esta até parece ser uma Contra-Campanha da parte da IAAF no que respeita à questão do Doping, quando inúmeros “estudiosos”, e tantos treinadores ligados à prática, todos são unânimes em apresentar e afirmar em diversos momentos que a obtenção de determinados resultados é só para alguns e para outros que, como dizia o Maradona, têm sempre uma mão de Deus a ajudar.

Tendo a capacidade de gerar motivações e sobre aquilo que faz aumentar o nosso metabolismo, aguardamos por mais um grande momento desportivo mundial, transmitido por esta modalidade em que o Individuo, a equipa de Trabalho, o País, o Desempenho transformam segundos em Momentos de Alegria, porque presentes estão 600, mas milhares percorrem todos dias a pista, o corredor onde procuram a direcção do seu Sonho.

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